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quinta-feira, abril 05, 2007

No Blog de Orlando Tambosi

Ainda o rabino e seu passado


Crime é crime (nos EUA, pelo menos).

As manifestações na imprensa, prisioneiras da ideologia politicamente correta, tudo fazem para dizer que o rabino Henry Sobel não fez o que fez, isto é, furtou gravatas numa loja dos EUA.

Brandem contra o crime do presente o passado que agradou particularmente as esquerdas. Assim, quem se uniu ao arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns em gestos e ações contra a ditadura, está automaticamente absolvido de qualquer ato criminoso que tenha cometido ou venha a cometer. E não faltou quem, de sobrenome hebreu, invocasse como comparação os crimes de pedofilia cometidos pelos padres católicos norte-americanos. Como a dizer (o dito antropólogo) que o crime do rabino, embora previsto em lei, não é crime - ou é "menos" crime.

Por isso, tomo a liberdade de repetir aqui o comentário que fiz no blog do amigo Ilton - o Jus Sperniandi -, que analisa a questão como o juiz que sempre foi:

De pleno acordo, meritíssimo amigo. Furtou e pronto. O passado não absolve ninguém. Experimente-se universalizar, kantianamente, a máxima passadista dos que querem inocentá-lo do mal que cometeu. O que dizia Kant? Mais ou menos: "age de acordo com que a máxima de tua ação possa ser universal". Ora, se furto, não posso querer que minha máxima seja universalizada. Mas não é preciso recorrer aos filósofos para ver que Sobel cometeu crime, e pelo crime tem que pagar. Não é coisa para filósofos, mas para os que lidam com a lei. O resto é conversa mole, a mesma conversa mole, isto é, politicamente correta, que absolve grandes criminosos nesse país que só não tem respeito e compaixão por quem trabalha dura e honestamente. Abs.

(Na foto, não é necessário identificar quem é quem...).


Comentário:

Em primeiro lugar, o âmbito da lei deve ser pensado, sim, por filósofos, sociólogos, economistas, médicos, faxineiros, limpadores de rua, escritores, poetas, e também por juristas. Caso contrário, ele será propriedade exclusiva de juristas. E neste campo, o integrado por juristas, existem pessoas como Carl Schmitt, Francisco Campos e outros, que escreveram sim, sobre roubos e prepararam os piores roubos, entre eles o da vida de milhões, e a subtração da liberdade também de milhões de seres na Europa. No Brasil, duas ditaduras devem sua justificativa legal a juristas. A lei é a lei e deve ser aplicada a todos. Mas quem não distingue entre leis, e não distingue dentro da lei, está apto às piores violações dos direitos. Na ditadura militar, tivemos inclusive, na legislação vigente, a previsão de decretos secretos e outras teratologias. Dizer que o debate sobre a lei é conversa mole é um modo grosseiro, violento e autoritário de negar a alteridade. É abrir as portas para o regime da opinião única.

Quem conhece os procedimentos dos tribunais norte-americanos sabe que naquele país, como em toda nação civilizada, podem ser determinadas situações em que o indivíduo não pode ser responsabilizado, por estar em situação excepcional. O tratamento com remédios encontra-se entre estas previsões de direito. É preciso que o Estado prove, sem sombras de dúvidas, que o indivíduo possuia toda a sua consciência e vontade no instante em que cometeu o delito ou o crime.

No caso do rabino, ainda deverá ser feito o julgamento. Mas a imprensa marrom brasileira, sempre disposta a cometer atentados contra os direitos, julga e condena. Segundo ela, Sobel já está condenado. Será interessante seguir o julgamento nos EUA para ver os argumentos da promotoria, os argumentos da defesa (dois sustentos do Estado de direito), as evidências, a manifestação de especialistas médicos e outros, a decisão do juri.

No Brasil, no entanto, noto com amargura, o rabino está sendo trucidado PORQUE defendeu o direito e a liberdade dos brasileiros. Ele está sendo trucidado sina ira et studio, como vingança pelo seu passado. E nivelar o rabino aos sanguessugas, mensalistas e demais corruptos do país, mostra pequena prudência. Quais fatos na longa história de vida do rabino abonam esta alegação?

Ao ler estas frases no post de Orlando Tambosi, frases que não são deles, mas são endossadas, recordei algo que me ocorreu quando escrevi um artigo sobre a sofreguidão petista de punir todos os corruptos. Disse, no texto, que é preciso não mostrar à cidadania (tratava-se de uma citação de Diderot) a aranha despótica que se coloca no fundo da teia legal do Estado, porque à força de ver apenas a referida aranha, os cidadãos apenas ficariam desanimados, sem mais acreditar na lei. É claro que, segundo o cínico Diógenes, a lei é uma teia de aranha que prende os fracos e não segura os fortes. Mas sempre alguma lei pode ser assumida, garantindo alguns direitos. A função do democrata, argumentava eu, é aumentar o campo em que a lei torna-se eficaz. Foi o que bastou para que certos promotores públicos "da esquerda" postassem contra mim xingatórios como o seguinte: " cleptocracia nacional convocou Roberto Romano para justificar seus crimes". Esta foi uma das frases mais gentís da corrente de e mails, colocada por descuido sob os olhos públicos. O raciocínio é claro e distinto, e singelo: quem defende corruptos é corrupto, quem defende ladrão é ladrão. Se eu tivesse a infelicidade de naqueles dias estar em condições psicológicas anormais, por uso de remédios, etc. imagino o que seria feito de mim na ala esquerda dos promotores federais ou na imprensa petista. Este é o destino de todo aquele que ousa falar em moralidade e respeito aos indivíduos: ocorrendo qualquer evento que favoreça o linchamento, este estará feito, de imediato. Estive com Ibsen Pinheiro em seminário no Rio Grande do Sul, faz coisa de seis meses atrás. Re-eleito, no semblante do deputado estavam as marcas do "julgamento público". Era tudo certo, tudo provado segundo a imprensa nacional. Quem pode ressarcir aquele homem de seus sofrimentos?

As proposições "politicamente corretas" incluem não defender quem, pelo juízo da imprensa e de setores ideológicos dominantes, é "indefensável". "Pega mal" defender direitos de indíviduos apontados pela maioria e ANTES DO JULGAMENTO, como culpados. No caso de Sobel, esperem pelo menos a decisão do tribunal! Quando este direito é negado a uma pessoa, abrem-se as portas para o negar a todos.

Pois se isto é ser "politicamente correto", tenho a infelicidade de assumir esta figura.

A esquerda nacional e internacional, ambas partem de certezas e exclamações, condenam e julgam quem delas discorda. A lei soviética que punia os "inimigos do povo" era a lei. E a lei foi aplicada em julgamentos pornográficos.
Pois a direita age exatamente deste modo. A lei contra os casamentos entre arianos e raças inferiores era a lei. Ela foi aplicada em julgamentos pornográficos. "Aplicar a lei", sem pensá-la e sem pensar, mesmo que ela seja justa, as condições de cada ser humano julgado, é fazer tarefa de militante totalitário, não de quem defende o direito individual e coletivo.

Ambas, esquerda e direita, elogiam pessoas que dizem amém, "sim senhor". Se um indivíduo discorda, vitupérios nele!

E noto, ademais, um racismo preocupante no mundo ideológico nacional. De um lado, certa ministra acha justificado que um negro odeie os brancos, devido ao que ocorreu no passado escravista. Ela não diz, por exemplo, que brancos e pessoas de outro colorido estão sendo escravizados agora (ou seria apenas politicamente correto dizer isto ?), por gente sem escrúpulos na geração do lucro. E noto que as generalizações crescem na direita, num retorno direto a Nina Rodrigues e seus pares. Assim, "o povo brasileiro" seria vagabundo, etc.

Uma sugestão aos que assim pensam (de vez em quando é bom lembrar que somos brasileiros) : peguem seus passaportes de raça superior e voltem para os países maravilhosos de onde seus avós sairam. E lá, falem bem da terra, das pessoas, das culturas, etc.

Roberto Romano

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