
http://noticias.uol.com.br/uolnews/brasil/2007/04/11/ult2492u482.jhtm

11/04/2007 - 20h06
Deputados usurpam poder que pertence ao povo, diz Roberto Romano
Veja a entrevista em vídeo
Da Redação
Final de semana prolongado para os parlamentares. Os líderes partidários da Câmara dos Deputados decidiram que não vão mais trabalhar às segundas-feiras em Brasília. Em reunião ontem com o presidente da Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), os líderes avaliaram que as sessões de segunda-feira não são produtivas e que é melhor suspender as votações nestes dias para que os deputados possam continuar nos seus Estados.
Para o professor de Ética e Política da Unicamp Roberto Romano, a eticidade que comanda os parlamentares do Congresso Nacional é "a eticidade da diferença, da suposta superioridade em relação à vida social, do foro privilegiado".
"Eles se julgam numa espécie de Olimpo, acima da vida comum dos mortais, então aí tudo vale", disse em entrevista ao UOL News. "No plano moral eles ficam arrependidos, percebem o quanto suas ações são nocivas e prometem que vão mudar, mas não fazem nada do ponto de vista objetivo para definir a instituição do Congresso segundo os padrões éticos universais."
Pesquisa CNT/Sensus divulgada nesta terça-feira aponta que a instituição brasileira menos confiável é o Congresso Nacional, com apenas 1,1% da confiança da sociedade. E, segundo o professor Romano, a falta de credibilidade acaba por levar a população a uma falta de interesse sobre o que acontece no seu Congresso. Na análise dele, a Constituição democrática diz que o povo é o soberano, representado pelos funcionários do Judiciário, Executivo e Legislativo. No entanto, quando o soberano não se interessa pelo que fazem os seus funcionários, evidentemente há prejuízos para o soberano.
"Os funcionários operam como se eles fossem os soberanos e neste caso você tem uma usurpação de poder; me parece que é isto que está ocorrendo no caso do Legislativo", avaliou. "De outro lado, o próprio Legislativo impõe medidas que são prejudiciais ao soberano, por exemplo, na questão dos impostos. Aí nós temos uma união do Legislativo e do Executivo em detrimento dos interesses da sociedade civil, de todos aqueles que pagam impostos no país."
Velhos hábitos
O jornalista Rodrigo Flores argumentou que se nas últimas eleições cerca de 50% da Câmara dos Deputados foi renovada, porque ainda observamos as mesmas atitudes nos parlamentares.
"Quando você tem uma mudança de indivíduos, também há uma mudança no campo da moral. No entanto como a estrutura ética não muda - impera o 'é dando que se recebe', as convenções na boca do caixa, a submissão ao Executivo - pouco importa quem entra. Eles entram e pouco a pouco se adequam àquela forma de ser; os que são piores, do ponto de vista moral, metem a mão no dinheiro público e tudo o que vimos nos últimos anos. Os que são mais retos não fazem isso, mas não conseguem mudar o ordenamento, o objetivo do Congresso."
UOL Busca