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segunda-feira, abril 09, 2007

RAZAO DE ESTADO....

Em minhas leituras, ou releituras, sobre a Razão de Estado, topei com as linhas de Meinecke sobre os sentimentos de Montesquieu no tocante à política e aos políticos:

"Tão desacreditada estava a palavra política que, para Montesquieu, equivalia à uma arte sem lealdade e sem honra. ´É inútil a tentativa de tratar a política diretamente´, começa Montesquieu, ´mostrando até que ponto ela contradiz a moral, a razão, a justiça´. Pois a política existirá enquanto existirem paixões que se mantenham independentes do jugo das leis". (Friedrich Meinecke, Die Entstehung des Historismus, 1936).

Se fossemos escrever hoje sobre leis, política, moral, justiça...quais palavras seriam adequadas? Talvez ainda e sempre :


REMOTA ITAQUE IUSTITIA, QUID SUNT REGNA NISI MAGNA LATROCINIA.... (Agostinho Cidade de Deus).

"O texto de Santo Agostinho fala geralmente de todos os reinos, em que são ordinárias semelhantes opressões e injustiças, e diz que, entre os tais reinos e as covas dos ladrões — a que o santo chama latrocínios — só há uma diferença. E qual é? Que os reinos são latrocínios, ou ladroeiras grandes, e os latrocínios, ou ladroeiras, são reinos pequenos: Sublata justitia, quid sunt regna, nisi magna latrocinia? Quia et latrocinia quid sunt, nisi parva regna? É o que disse o outro pirata a Alexandre Magno. Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a Índia, e como fosse trazido à sua presença um pirata que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício; porém, ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim. — Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? — Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza; o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades e interpretar as significações, a uns e outros definiu com o mesmo nome: Eodem loco pone latronem et piratam, quo regem animum latronis et piratae habentem. Se o Rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata, o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome." Padre Vieira, Sermão do Bom Ladrão.

É por semelhante motivo que votei, na enquete da Folha de São Paulo, em Vieira como o maior brasileiro de todos os tempos.
Ele soube, como ninguém, perceber as dobras da alma de nossa cultura política, a qual, neste ponto, encontra-se com a cultura universal, particularmente na "civilização" européia que definiu os nossos passos infantís e definirá nossa caminhada para a tumba.

Roberto Romano

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