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quinta-feira, março 22, 2007

De nobres e esnobes

MARIA SYLVIA CARVALHO FRANCO

De nobres e esnobes

DE SETE em sete dias, por seis meses, servi a urbana e bela Imprensa. Decerto "mais servira se não fosse para tão longo amor tão curta a vida". Reunir evidências e arrazoar -oferecer opinião- sobre temas graves, em espaço mínimo, consome tempo enorme.

Vou-me para outra sala. Agradeço à Folha a regalia desta janela aberta para vasta e rica paisagem. Chegam, de todo o país, perguntas, comentários, pontas críticas, estímulos afáveis, advertências, debates. Tocaram-me seus matizes nos modos de pensar e de ser: de ledas irreverências a belas e antigas despedidas, "Deus a guie e ilumine". Àqueles que, generosos, me deram atenção, retribuí com prazer. A todos, muito obrigada.

Textos em série facilitam ajustar temas vastos a linhas breves. No tópico da violência, comecei pelo ideário moderno edepois fui aos processos históricos. Ao tratar desses momentos (teórico e prático), afastei o "determinismo" social, econômico ou qual seja. Indiquei a rebeldia à dominação, no arrepio da consciência estóica, a verter "lágrima sobre a necessidade", ciosa da liberdade interior e refugiada na quietude externa. Coligi a representação do mundo moderno na consciência da época: escritos de J. Locke, opúsculo de Daniel Defoe exposto no Parlamento, tratado de Robert Burton sobre a melancolia. Na análise do presente, recorri a fontes seguras, como Alba Zaluar e Unicef. Citei dados de pronta verificação (alguém duvida?) sem ditar as sentenças dogmáticas da crítica fácil e truculenta.

Esta série, suturando partes discretas e conexas, é inútil ao sectário. A ele, fechado em antolhos, escapa que a estrutura do texto, articulada ao tópico investigado, o severo rigor de seu tratamento, integram longa tradição de saber e cultivo do espírito, legada pela universidade francesa às paulistas. Quem nelas recebeu "formação", dispensa regras intempestivas, esnobes e cabotinas de "alta cultura". Com a herança cognitiva, foram batidos os alicerces de uma instituição republicana, de Estado. Nela, nada legitima transpor a vocação doutrinária para a científica.

Volto ao início: raras mensagens exalam intolerância. Dois exemplos. Alguém, à "esquerda", exige calar os discordantes. Outro, à direita, busca "providências simples e práticas que amenizem/ reduzam a violência indiscriminada". Vocifera contra esta "intelectual alienada", por fantasiar que "antes de combater a criminalidade é preciso acabar com a injustiça e a maldade humana". Soluções "simples e práticas" formam o arsenal totalitário. Mas aí, se ruim e iníquo forem atributos endógenos e inelutáveis, quem escapa ao campo de concentração e ao crematório ?

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