Roberto Romano Moral e Ciência. A monstruosidade no sec. XVIII
Silence et Bruit. Roberto Romano
domingo, março 04, 2007
TU ES PETRUS
Tu es Petrus…..
“Tu es Petrus, et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam”. “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela. E dou-te as chaves do reino celeste: tudo o que ligares na terra será ligado no céu. E tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”. Nada mais esperançoso e ao mesmo tempo apavorante, na história das instituições ocidentais, do que as linhas acima, inscritas no Evangelho de Mateus ( 16, 18-19). O poder ilimitado atribuido ao papa incendeia as imaginações políticas, artísticas, sociais. Poetas e romancistas reproduziram as pompas que norteiam a vida e a morte dos soberanos pontífices. A Igreja, afirma Nietzsche, resume as culturas do Mediterrâneo. Ela sintetiza os ritos dos Estados antigos e modernos, do Egito às festas imperiais romanas e renascentistas. Nietzsche indica com dedo certeiro: o paganismo se instalara no trono de Pedro. Um monge inimigo da cultura destruiu o elo perfeito entre o mundo e o cristianismo. Seu nome? Lutero….
A Igreja recolhe as tradições políticas dos Estados que a predecederam e produz uma antropologia na qual todos os sentidos humanos servem aos seus alvos. Nela, os olhos se extasiam com pinturas e arquitetura hierática; os ouvidos recebem alimento com a música e a poesia ; o paladar se nutre das espécies sagradas, pão e vinho; o olfato se inebria com incenso e perfumes das velas; o tato é satisfeito na ritualística que permite aos crentes tocar as reliquias dos santos. Uma tal enciclopédia de artes e saberes é única na humanidade; árduo é harmonizar todos os sentidos. Para isto, serve a filosofia grega e o direito romano. A Igreja controla os fiéis com uma ordem nunca vista em outros segmentos religiosos e políticos. Sua disciplina espanta os donos do mundo. Stalin cometeu a tolice de ironizar a força bélica do soberano pontífice. A URSS desapareceu e o Vaticano segue impávido.
Elias Canetti fala sobre a Igreja: “Até hoje não houve sobre a face da Terra Estado algum que soubesse defender-se de tantas maneiras diferentes contra a massa. Comparados com a Igreja, todos os poderosos dão a impressão de serem modestos diletantes”. O tempo da Igreja mede-se em milênios: os que ela herdou das antigas civilizações (India, Grécia, Egito, Pérsia, Roma, entre outras) e os que já viveu. Ela supera a cronologia dos agentes políticos não religiosos, porque tem a promessa do intemporal, como adverte um orgulhoso Príncipe no magnífico Gattopardo : “à Igreja foi prometida a Eternidade, não temos semelhante privilégio, nós que integramos as classes sociais dominantes”. A Mater et Magistra possui a receita eficaz para sobreviver a todos os regimes políticos, expressa ainda no Gattopardo : “é preciso tudo mudar, para que tudo permaneça como sempre”.
Nenhum soberano cumpriu tão perfeitamente a missão disciplinadora das massas quanto João Paulo 2. Ele chegou ao trono no fim da Guerra Fria e no colapso da URSS. Na sua própria instituição, uma tempestade batia forte, com os ventos do Vaticano 2. Um bom pastor inaugurou o concílio, o santo João 23. Um papa hamletiano —Paulo 6— intelectual e temeroso, o conduziu ao final. Morto aquele dirigente e pensador a Igreja se contorcia em dilemas éticos e políticos, além de batalhas sobre o culto que ameaçavam sua unidade. Surge o “belo sorriso” —João Paulo 1— o papa breve. No programa daquela figura amável já se inscrevia o Termidor, necessário para garantir a disciplina do clero e das massas católicas. Mas a missão política e religiosa de colocar um basta nas audácias conciliares foi cumprida por João Paulo 2.
Erudito, poliglota, treinado nas artes cênicas, o polonês falou aos mais sofisticados cérebros e às massas tangidas pela midia. Ele exibiu de si mesmo a figura do esportista. Assim viajou muito e publicou encíclicas polêmicas e bem estruturadas lógicamente. Nessas tarefas teve o auxílio de movimentos conservadores e de políticos idem, da Opus Dei a Ronald Reagan. Ele apoiou ditadores como Pinochet. Além dos gestos do proprio soberano pontífice, abraçando efusivamente o ditador, François Hutart (Le Monde) recolheu pérolas de suas “bocas oficiais”, os bispos e núncios apostólicos, em apoio às tiranias. Na Argentina (1976) o núncio, hoje Cardeal Pio Laghi, falou assim aos soldados de Tucuman : « Sabeis o que é a pátria, cumpri as ordens com obediência e coragem, guardai o espírito sereno”. (La Nación, Buenos Aires, outubro de 1976). No Chile, o núncio sob Pinochet era o cardeal Angelo Sodano, que declarou sobre o regime: “Até as obras primas podem ter manchas; eu vos convido a não vos deter nas manchas do quador, mas a olhar o conjunto, que é maravilhoso”. No caso Irã/Contras, existem dúvidas sobre a ação da Santa Sé, como indicam os melhores biógrafos do papa, Carl Berstein (caso Watergate) e Marco Polito (Sua Santidade. João Paulo 2 e a história secreta do nosso tempo), que lembram outras maravilhas do soberano pontífice. François Hutart recorda que o Banco Ambrosiano financiou, entre outros, ditador Anastasio Somoza da Nicaragua. Leia-se o artigo de Fernando Scianna, « A Mafia no coração do Estado e do contra Estado », Le Monde diplomatique, outubro de 1982.
As teses de João Paulo 2 resumem-se ao aggiornamento do Concilio de Trento, usado como base para implodir as doutrinas inovadoras do Vaticano 2. A sua autoridade foi elevada acima de tudo e de todos. As católicas feministas e os propagandistas da “teologia da libertação” sentiram nas costas o seu peso. Além dessas rédeas espirituais, o papa rompeu com a possibilidade remota do ecumenismo. O texto Dominus Jesus acabou com o diálogo entre Roma e as religiões orientais. No setor cristão, as atitudes da Santa Sé no Conselho Mundial de Igrejas mostrou tudo, menos desejo de amplo diálogo. Além disso, o papa atenuou a autoridade dos bispos.
A Opus Dei foi elevada à condição de sua Prelatura pessoal, posta acima dos bispos. O seu fundador foi canizado em 2002. No mesmo tempo, escândalos financeiros (como o caso do Banco Ambrosiano) fizeram estragos nas contas da Igreja. Os tratos do Vaticano com os EUA são complexos e não raro inconfessáveis.
Erasmo de Rotterdam escreveu uma peça acusatória contra o Papa Julio 2, o que lhe valeu muita perseguição no século 16. Trata-se de um opúsculo intitulado “Julio, a quem se negou a entrada nos céus”. Aquele pontífice ficou famoso por comandar exércitos na santa tarefa de disciplinar os reinos e as populações italianas. Ele também ficou conhecido pela fome de impostos que pretendeu arrancar de cidades soberanas como Bolonha. Mais adepto das armas do que do Evangelho, o soberano morreu, conta Erasmo, e dirigiu-se, com armas e armaduras, às portas celestes. São Pedro não lhe permitiu a entrada no paraíso e o fulminou, comparando-o a si mesmo. Pedro nunca dirigiu nenhuma soldadesca, jamais pensou controlar a vida política dos fiéis, nunca dependeu de poder secular. Manso como o Cristo, sua missão foi desenvolvida em pobreza e caridade.
Existiram papas santos, como João 23, ou intelectuais, como Pio 12 e Paulo 6. Existiram papas estadistas e disciplinadores das massas e das mentes, como João Paulo 2. No caso deste último, a imaginação dos romancistas já produzem obras nas quais o pontífice aparece como homem de ferro. Um Richelieu do nosso tempo, com a inteligência estratégica de Bismarck. Quem deseja tremer diante do futuro, devido ao legado de João Paulo 2, leia o romance bem escrito publicado recentemente nos EUA por Arun Pereira : Papal Reich. A novel. O título diz tudo: os novos poderes mundiais deixam de ser os Estados laicos. Surge a velha Respublica Christiana em seu esplendor. No outro lado do mundo, renasce o Islã. Ambos lutam para vencer os infernos. E os infernos reúnem os que não aceitam o mando clerical, os “infiéis”. Pesadelo? Imaginação louca? Apenas advertência de um escritor que sabe ler os sinais dos tempos.
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