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segunda-feira, setembro 29, 2008

Jornal da Unicamp, edição desta semana (29 de setembro).

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A agenda da paz em tempos de guerra

ÁLVARO KASSAB

O filósofo Roberto Romano, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), é um dos autores do livro História da Paz (Editora Contexto). A obra, organizada por Demétrio Magnoli, reúne artigos de 15 especialistas que abordam alguns dos tratados internacionais mais importantes dos últimos 500 anos. Na entrevista que segue, Romano, que escreveu sobre a Paz de Westfália (1648), analisa o papel do Estado e das matrizes éticas no mundo contemporâneo.

O professor e filósofo Roberto Romano: “O Estado não conseguiu vencer, em termos estratégicos, as agências de fé”  (Fotos: Antoninho Perri) O livro
O livro A História da Paz é muito interessante porque vai seguindo as etapas das dificuldades e do surgimento das instituições. Ele começa com a questão dos concílios medievais, quando a Igreja era o grande árbitro, e depois segue a cronologia dos tratados, sem ficar no esquematismo. O meu trabalho é uma tentativa de mostrar que, pela primeira vez, um tratado internacional vingou sem as asas da Igreja. A obra aborda todos os tratados importantes da modernidade, até Kioto. Há uma estrutura cronológica, que eu diria que é até diacrônica, mas em cada passo tem coisas diferentes.

A questão dos tratados internacionais é abordada sob vários ângulos. Não há uma doutrina comum. Trata-se de um ponto importante do livro: nem todos pensam da mesma maneira. Há uma diversidade não apenas metodológica como também doutrinária. Terminando a leitura do livro, o leitor tem a síntese da situação. Não se pretendeu fazer uma coisa para esgotar o assunto, seja do ponto de vista diplomático, filosófico, econômico etc. É uma espécie de visão sinótica do problema. Apesar de todos os articulistas tentarem estabelecer uma espécie de agenda da paz, a constatação é que o que existe de fato é uma agenda de guerra. Trata-se de uma guerra contínua.

Corrosão do Estado
O Estado vive uma crise inédita no mundo de hoje. Ele enfrenta uma corrosão, seja do lado do mercado seja do lado das matrizes éticas mundiais. Neste último caso, estou me referindo particularmente as grandes religiões de massa. Há, portanto, uma corrosão que ocorre simultaneamente em termos éticos, econômicos, tecnológicos e religiosos. Isso tudo coexiste com o fenômeno da guerra. No primeiro volume, os autores trataram da história da guerra, que não se pretende uma história no sentido científico da palavra. Além de historiadores, temos também filósofos, diplomatas, jornalistas etc. É uma abordagem multidisciplinar de um fenômeno polissêmico. A guerra, a corrosão do Estado, a tecnologia e o mercado fazem com que, de certo modo, seja obrigatória a retomada da história do Estado – das instituições civis e estatais.

Capa do livro História da Paz: artigos de 15 especialistasOs interesses
Temos hoje o financiamento das guerras por grandes grupos. A produção de instrumentos de guerra está ligada a esses interesses financeiros, que não correspondem necessariamente à economia desse ou daquele país. Temos então um mundo que vive permanentemente em estado de guerra. Não dá para dizer mais que predomina o interesse da classe burguesa ou da classe capitalista. É claro que ele existe, mas não é uma relação que beneficia esses segmentos. Por exemplo, na guerra do Iraque, temos nos Estados Unidos, e também em seus parceiros, pequenos grupos dentro do setor financeiro e dentro do setor petrolífero.

A dissolução
Esses grupos fizeram, nos dois períodos Bush, coisas absolutamente inéditas em termos de desaparecimento da idéia de público e de privado. São licitações secretas dirigidas por generais diretamente interessados nas empresas petrolíferas. Isso corresponde a uma queda inédita de alguns princípios do Estado democrático, inclusive o norte-americano, entre os quais a idéia de transparência. Estudos internos, inclusive do Congresso norte-americano, mostram que é imensa a quantidade de atos do Executivo que escapam quase que totalmente ao resto do Estado. É um fenômeno inédito. É a dissolução do Estado. Na verdade, tem-se uma apropriação da coisa pública por grupos que não correspondem exatamente ao setor mais amplo do capitalismo ou de outros campos.

Agências de fé
Temos, por outro lado, o grande projeto de laicização da política, que está ligado à temática da racionalização. Quanto mais racional, tecnológico e científico, tem-se um Estado-máquina que serve para estabelecer a paz de todos, para que a lei seja obedecida. Com esse padrão, você enxerga, na verdade, uma tensão muito grande com aquilo que é chamado de racional, que é o âmbito da fé religiosa. As grandes agências éticas, que durante os séculos XVI, XVII e XVIII foram afastadas inclusive da vida pública, como é o caso da França, são retomadas no século XIX e XX. O Estado não conseguiu vencer, em termos estratégicos, essas agências de fé.

O domínio dos corpos
As agências de fé não se conformam, e jamais se conformarão, com o papel de uma ordem privada. Tanto no catolicismo como no islã, para ficar nos dois exemplos, já que a vertente protestante leva para a secularização da política, predomina essa forma de dominar corpos, de definir não apenas o que está no plano da mente e da consciência. Todas as regras de funcionamento dos corpos estão ali. São agências cujo espectro é mais amplo que o dos Estados nacionais. Ademais, têm uma experiência de trato com as populações muito mais refinada e estabelecida no fundo das almas e que mostram que elas não são absolutamente alheias à modernidade. Esse é um traço também que me parece sério, já que, sempre que se falou de Estado, como no caso de Weber, de Marx, etc; ele seria a ponta extrema da modernidade. Não é isso que estamos observando no catolicismo e no islã. Isso leva a questionar a idéia de modernidade.

‘Se hoje o petróleo está justificando a invasão do Iraque e aquela tragédia toda, que é uma coisa que vem do século XVIII, a hora em que água assumir o estatuto que o petróleo tem hoje, a coisa vai ser mais selvagem’ (Foto: Antoninho Perri)

O ébrio convertido
A lógica do Estado, tal como foi construída desde o século XVI, seria a da racionalidade laica, científica e tecnológica e, portanto, da não-ingerência de valores transcendentes na ordem da justiça, do mercado etc. No entanto, na mesma medida em que o Estado não cumpre mais o seu papel de regulador dos mercados e tudo mais, abriu-se essa lacuna. É possível entender porque numa democracia laica por excelência, como nos Estados Unidos, é comandada por um presidente da República que é quase um pastor leigo... Em campanhas eleitorais, Bush aparecia como um ébrio que se converteu a Jesus. Com isso, são vetadas leis que favoreçam até mesmo o tratamento da Aids, células-tronco etc. E isso não é um fenômeno de meia dúzia de seitas. Trata-se de um fenômeno muito mais amplo.

A guerra perene
A questão da guerra e da paz precisa ser vista com o realismo do que aconteceu com o Estado. Numa perspectiva pessoal, creio que falar hoje de paz é uma tarefa muito árdua. Tivemos duas guerras mundiais, dois regimes estatais fortíssimos – stalinismo e o nazifascismo – e ditaduras que duraram décadas e mais décadas. Contudo, acabada a Segunda Guerra, constatou-se, olhando o quadro, que a guerra continua. Não faltam exemplos: Coréia, Vietnã, conflitos na África, guerras coloniais, regionais etc. Presenciamos uma continuidade perene da guerra, sendo que não dá para esperar nem do Estado nem das agências éticas uma atenuação desse status quo. E isso, na minha opinião, é o mais trágico. Não há um momento de paz.

E os tratados?
Não existe mais Estado que seja capaz de garantir a palavra apenas pela força. Muitas vezes, a palavra é inclusive empregada justamente para disfarçar a força. O mundo de hoje é dividido em grandes federações: a norte-americana, com todos os seus satélites; a européia, com todos os seus problemas; a China, o Japão e alguns países asiáticos; e a Rússia, que ninguém sabe para onde vai e não sabe se é européia ou asiática. Cada bloco tem a força e não hesita em utilizá-la. Quando se fala dessa crise do Estado, a própria união em termos federativos já mostra essa crise e a tentativa de encaminhamento de solução. O que isso quer dizer? Sem essa política dessas superfederações, não há nenhum tratado internacional que possa subsistir. E, nisso tudo, a ONU é uma espécie de delírio ou de sonho. Trata-se de um organismo que na sua própria constituição já mostra que é uma coisa maluca. Ela tem uma quantidade imensa de países que aderem a ela. Supostamente, os tratados e convenções que ela proclama são de validade internacional e são desobedecidos pelos membros do seu próprio Conselho de Segurança. Não faltam exemplos. Se a ONU tivesse um exército a seu dispor, talvez os tratados tivessem validade. Como isso não acontece, os tratados ajudam apenas a atenuar algumas situações, como é o caso dos prisioneiros capturados pelos Estados Unidos e levados para Guantánamo, em Cuba. Os tratados exercem alguma pressão moral sobre a opinião pública e sobre os governos, mas o seu alcance é pequeno. No caso de Guantánamo, pesou a atuação da opinião pública e da imprensa. Nem as grandes agências éticas ajudaram. Vamos pegar o exemplo do papado de João Paulo II. O que ele falou, de fato, para mudar a situação dos prisioneiros? O que foi feito pelo Vaticano? Nada.

Desejo da paz
A história da paz é a história do desejo da paz. É uma espécie de alvo que teria o mesmo batismo dos grandes pensadores sobre a crise da humanidade. Não é mais uma crise de Estado. É uma coisa muito própria do século XVIII. Apenas nesse período se encontra, com as Luzes, a idéia de uma Cosmópolis, de uma grande comunidade de povos regidos por leis internacionais e válidas para todos. Já o século XIX é o século do nacionalismo, da recusa dessa idéia. Quando eu era jovem, chamar alguém de cosmopolita era o equivalente a ser taxado de burguês idiota do século XVIII. O cosmopolitismo ia contra o nacionalismo e o marxismo, que era internacionalista.

O corolário
A guerra já traz a morte, a destruição e o sofrimento. Junto com ela, vem a desobediência aos mínimos preceitos do direito civil e do respeito aos direitos humanos. Não me parece irracional fazer a seguinte ilação: não existiria Auschwitz se não existissem a Primeira e a Segunda Guerras. Nós não sabemos até onde vai a violência. Não existiria o massacre em Sabra e Chatila se não houvesse uma guerra permanente no Oriente Médio. Os atos contra a população é o corolário da guerra.

As matrizes éticas
A idéia de matriz é uma idéia de forma originária. Ocorre que essa forma originária é também histórica. Basta pegar, por exemplo, a matriz ética maior, que abarca o cristianismo, o islamismo e o judaísmo, e que são as culturas que vão do Médio Oriente até a Inglaterra, ao longo de dois mil anos. Nesse caudal, temos elementos de uns emprestados de outros. Nenhuma delas, porém, surge do nada – são apropriações seletivas de culturas, tais como a egípcia, a grega, a fenícia etc. Essa matriz aparece por meio da escrita, por meio do que chamamos de “religião do livro”, com todas suas variantes, continuidades e rupturas internas. Quando falo em matrizes éticas, constato que não é possível identificar os comportamentos e valores de um segmento ignorando os outros. Aqueles valores são, em boa parte, partilhados. A questão que se coloca é: vale a pena fazer a guerra para ampliar a glória de Deus? Sempre fico com a seguinte frase do Diderot: “Não se pode transforma Deus num punhal”. Pode-se argumentar que isso não é fundamental nem no cristianismo, no judaísmo e no islamismo, mas cabe outra pergunta: onde está esse valor que não aparece?

O belicismo religioso
É muito interessante observar, na cultura formadora dessa matriz ética, que ser pacifista muitas vezes é sinônimo de ser traidor, de não ser suficientemente ardente na fé. Esse belicismo não é composto apenas de armas físicas; trata-se, também, de um belicismo intelectual. As idéias são usadas para arrebentar com o outro. Infelizmente, a cultura universitária – e, conseqüentemente, a científica – não é diferente. Nem sempre as idéias estão a serviço do bem da humanidade. Inclusive é sempre bom lembrar a distinção ética, que na minha opinião é muito importante: uma coisa é o valor ético e moral do indivíduo; outra coisa são seus conhecimentos. Imagine um nazista, altamente qualificado em física, que apóia o Hitler. É possível encontrar um físico fantástico que seja um cidadão de quinta categoria, quando não um bandido. Ou, então, é possível encontrar um grande filósofo que seja um tremendo nazista, como é o caso Heidegger. É perfeitamente possível ser louco tendo um cérebro poderoso, com uma capacidade de intelecção dos problemas humanos e naturais absolutamente superior. Isso é o mais comum na nossa cultura. Esse ideal de elevação moral é muitas vezes visto como hipocrisia ou ausência de coragem para enfrentar a luta.

O útero
Nessa matriz ética, como no caso da União Soviética, a partir do momento em que o indivíduo recusa os pressupostos do sistema, se recusa a assumir o papel de guerreiro, para defender, no caso, o estado soviético, ele acaba no campo de concentração. Isso aconteceu, também, com as testemunhas de Jeová. E isso é interessante, porque eles não são um exemplo de progressistas. Mas, o fato de eles serem pacifistas, criou problemas com as democracias ocidentais e com o nazismo, fascismo e o stalinismo. Alguma coisa, portanto, tem que fazer pensar sobre a matriz ética, que é o que me deixa mais preocupado. Por isso que eu tentei mostrar, no artigo, que o Estado até saiu um pouco dessa matriz ética, mas hoje não é isso que está acontecendo. Ele não conseguiu sair desse útero, e não vai conseguir.

O intelectual empenhado
Quantos Kant você tem? Quantos Bertrand Russel você tem na história da filosofia. Não colocaria Sartre nessa lista, mesmo porque ele abençoava as guerrilhas e a União Soviética. Essa idéia de intelectual empenhado é muito própria da matriz. O bom cidadão, nesse contexto, é aquele que assume a defesa e o ataque dos valores fundamentais, destruindo quem o ameaça. Pior: destruindo com a bênção de Deus... Não adianta apenas ter Deus: temos que providenciar uma boa espada...

Ceticismo
Não vejo esperança absoluta em termos de paz porque nós somos seres naturais e os recursos da natureza são infinitos. Mas, para nós, os recursos da natureza são escassos, finitos. Se hoje o petróleo está justificando a invasão do Iraque e aquela tragédia toda, que é uma coisa que vem do século XVIII, a hora em que água assumir o estatuto que o petróleo tem hoje, a coisa vai ser mais selvagem. No caso do petróleo, você ainda pode tentar energias alternativas, mas e com a água? Acabou, não tem mais jeito. O mais trágico é que tudo isso é para aumentar um pouco mais o tempo da existência de determinado povo no planeta, já que a morte está definida. Todo mundo sabe que o planeta Terra vai morrer. Isso não é apenas uma profecia, é um fato real: nós vamos morrer. Talvez consigamos viver mais um milhão de anos, mas ninguém sabe. Sair pelo universo à maneira da ficção científica é um escape, mas é muito mais delirante do que aconteceu no Renascimento. Uma coisa é você sair de Portugal e da Inglaterra e ir até Cingapura, e outra é ganhar o espaço.

Delírios
Em 1993, o jornal Libération publicou um dossiê de umas 15 matérias sobre a água no trato palestino-israelense. A matéria mostra que aquele delírio do deserto, que floriu no deserto israelense, ocorreu à custa da água retirada dos palestinos. Contudo, gastaram tanta água que agora existe uma comissão formada por cientistas israelenses e palestinos para ver o que pode ser feito para reparar o estrago. Ficam as perguntas: como vai ser reparado o estrago de uma terra que já não tinha água? Como a paz vai ser estabelecida com a morte genérica se tornando cada vez mais dura? Como produziremos alimentos sem água? O que fazer com esse uso absolutamente delirante de agrotóxicos?

O calor das massas
Os revolucionários franceses tinham plena noção das nossas limitações, sobretudo a partir da questão da termodinâmica. A partir do momento que se percebe que o sistema está esfriando, para compensar é necessário que se obtenha calor suficiente, que por sua vez somente pode ser obtido por meio da tecnologia. Por isso que o pessoal do século XVIII era absolutamente apegado à tecnologia e ao avanço tecnológico. A Enciclopédia de Diderot é isso: uma tentativa de ampliar, o máximo possível, a tecnologia para que mais gente tivesse colaborando nessa tarefa de ampliar a fonte de calor e de vida.

Mas percebeu-se que a entropia é uma coisa que funciona no plano da natureza, das relações políticas e do Estado. Essa idéia, por exemplo, de produzir calor revolucionário. A frase mais terrível dos jacobinos, proferida por Saint-Just, quando eles perderam a parada, foi: “A revolução gelou”, ou seja, as massas já não eram mais fontes de calor. Assim, é preciso produzir artificialmente, tecnologicamente, o entusiasmo das massas. E é isso que vivemos desde o final da Revolução Francesa: os Estados utilizam a propaganda para produzir o calor das massas. Trata-se de uma produção que não dá garantia nenhuma...

Domínio da técnica
Vamos supor que funcione a aposta na tecnologia. Nós tivemos pelo menos três revoluções tecnológicas no século XX, sendo que as duas últimas são as mais importantes: a informatização e, por meio dela, a apropriação de determinadas formas de gerar conhecimento e manter, ao contrário do que se imagina, em poucos círculos o poder mundial. O capital financeiro é um exemplo dessa superconcentração. O que vem a ser ele? É o domínio da técnica de comunicação a serviço da desestabilização de todo um sistema nacional. Temos, então, as chamadas elites dos países dominados, que são reprodutoras dessas condições. Elas não são produtoras. Onde, por exemplo, o Brasil produz hardware? Nós somos apenas consumidores de tecnologia de ponta. Vão dizer que sou nacionalista, mas não é nada disso. Ocorre que há uma distribuição desigual de saberes no mundo.

E o acesso?
Há o ideal da ciência e da tecnologia, mas há tem também uma apropriação disso, e ela é muito séria. Vamos supor, por exemplo, que um bioquímico desenvolva uma fórmula para a economia de água. Quantos povos teriam condições de ter acesso a esse saber? Aplica-se, então, o aforismo do Bacon: “saber e poder encontram-se num só...” Com Bacon, a Inglaterra tornou-se grande potência, unindo ciência, tecnologia e força física.

Impondo a morte
Na tarefa de tentar adiar essa morte genérica programada, torna-se necessário impor a morte aos outros. Escapar a essa lógica é uma tarefa que desafia o pensamento, a moral, a ética etc. Não é possível dar respostas ingênuas a esse estado de coisas.

A tradição dos mortos
Quando um país é invadido e sua cultura é atacada, o invasor está atacando os mortos. Benjamin disse: “Se os vencedores vencerem, e a história mostra que eles sempre venceram, então nem os mortos estão em segurança”. Esse imaginário cultural é justamente o lugar onde as matrizes se manifestam. A tradição dos mortos é o que garante a nossa continuidade.


Jornal da Unicamp - Universidade Estadual de Campinas / ASCOM - Assessoria de Comunicação e Imprensa
e-mail: imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP


Libération d'aujourd'hui...Mon Dieu! Ça branle! Et comme ça branle!

Économie 29 sept. à 18h33

Krach sur les Bourses européennes

Dans la foulée des difficultés financières aux Etats-Unis, les places européennes ont sévèrement reculé. La palme revient à Amsterdam, à — 8,75%.

12 Réactions

A la Bourse de Londres, aujourd'hui. (Reuters)

A la Bourse de Londres, aujourd'hui. (Reuters) (REUTERS)

L'effet domino n'aura pas attendu. Entraînées par les difficultés des établissements financiers aux Etats-Unis et en Europe, les Bourses européennes ont connu une journée de lundi calamiteuse.

La Bourse de Paris a fini en lourd retrait, le CAC 40 dégringolant de 5,04% pour terminer à 3.953,48 points, son plus bas niveau depuis mai 2005.

En Scandinavie, les marchés ont tous terminé en forte baisse, la place norvégienne étant la plus touchée avec un retrait de 8,30%.

A Francfort, l'indice vedette Dax a lâché 4,23%, à 5.807,08 points, contre 6.063,50 points vendredi à la clôture.

La Bourse de Londres a également terminé en forte baisse, l'indice Footsie-100 des principales valeurs cédant 269,70 points, soit 5,30% par rapport à la clôture de vendredi, à 4.818,77 points.

A Amsterdam, l'indice AEX des principales valeurs a clôturé en baisse de 8,75% à 323,55 points, plombé par la chute du cours de l'action du bancassureur belgo-néerlandais Fortis qui a perdu 23,55% à 3,96 euros.

Enfin, à Bruxelles, l'indice Bel-20 a plongé de 7,98% à 2.589,47 points, notamment plombé par les banques Dexia et Fortis, dont le cours a fortement chuté. L'action Fortis a ainsi terminé à -23,71% à 3,967 euros, au lendemain de l'annonce de sa nationalisation partielle par les gouvernements du Benelux, qui espéraient ainsi ramener la confiance. Dexia, qui pourrait être la prochaine victime de la crise, s'est pour sa part effondrée de 29,65% à 7,07 euros.




domingo, setembro 28, 2008

FUJAM DESTA ARAPUCA PARA PAULISTAS DESAVISADOS.

O texto abaixo é pura propaganda enganosa. A comida é de péssima qualidade, o serviço é ainda pior, dos garçons ao caixa (japonês, diga-se). Como tudo demorava um século para chegar à mesa, para a conta o tempo não foi menor. Levantei-me e fui até o caixa para pagar. O encarregado japonês rosna que o restaurante não aceita cartões de débito, salvo o American Express e Visa. Não trabalho com tais cartões. "O senhor não foi avisado quando veio para cá?". Minha resposta foi de igual tom: "Não, vocês são incompetentes também nisso. Ninguém me avisou. Só li, na porta, o aviso sobre não aceitar cheques, salvo com RG e consulta prévia". Aí o jeito pior ainda do japonês : "O senhor, se não tem dinheiro, pode pagar outra hora".O tom era de nítido deboche. Deixei um cheque saí. Aliás, doravante, em restaurante que não aceita cheque eu não entro, porque só gente sem qualificações sociais assina cheques sem fundo e só restaurantes que acolhem tais pessoas servem para elas, não para mim.

A grosseria campeia no salão do suposto restaurante bahiano, sem remissão. Nada existe naquele espaço que recorde, de longe, a cordialidade da Bahia. Ah! Ia esquecendo : os pratos que, dizem eles, "servem para duas pessoas", nem para uma só bastariam. E o tempero é, diríamos para seguir a vulgaridade do local, "meia boca". Trata-se de armadilha para paulista que gosta de comida bahiana. Depois desta, comida bahiana, só mesmo na Bahia. Se algum amigo (ou inimigo) recomendar a arapuca de trato "bahiano", recuse sem nenhuma dúvida.


Em tempo: pedi para falar com os responsáveis e, como é praxe, "não podiam me atender".


Foi um dos piores almoços de minha existência.


O que é que a Bahia tem


Restaurantes baianos em São Paulo não são exatamente uma novidade. Mas, sempre que aparece fumaça nova de dendê no ar , é bom prestar atenção.

O novíssimo Barra Baiana , parece ser um desses que chegou para ficar. O lugar é o primeiro restaurante da quituteira baiana Vanda Barreto. Trata-se de uma casa espaçosa em Perdizes com capacidade para 140 pessoas , com salão interno , mezanino e um deck. A decoração é simples. Tudo muito claro e alguns quadros nas paredes com desenhos que lembram a origem do tempero forte da casa.

A especialidade do Barra Baiana são o acarajé e o bobó, mas o cardápio vai além. Vale a pena experimentar o camarão Itapoá , com coco verde e creme de tapioca e o Efó : creme de taioba com camarão. Os pratos, com preços entre R$60 e R$120, servem até três pessoas.

Na cozinha , Vanda lidera um exército de dez pessoas. Os ingredientes são comprados diretamente no nordeste, como o Pitu, o siri-mole, o siri-catado.

Nos fins de tarde , o quente é escolher o deck e o forte da casa : o acarajé. Uma boa maneira de passar um dia na Bahia , sem sair de São Paulo.

Rua Traipu, 156 - Perdizes
Tel: 3666-5565
Horário: 12h/15 e 18h/23h
(quinta, sexta e sábado até 0h; dom. 12h-17h)

Para ler e perceber que, além das patacoadas (Marta, Alkmin, Kassab e quejandos) pelos Brasis afora existem problemas graves.

"A fraude eleitoral só será descoberta uma vez a cada 800 anos"...

é este número que o administrador eleitoral não quer conhecer e não quer que o eleitorado conheça...

Veja a seguir como e o porquê.

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Dando continuidade a esta série "mentiras do administrador eleitoral", vamos abordar o chamado Teste de Votação Paralela que o administrador eleitoral brasileiro divulga como:

http://www.tre-sp.gov.br/noticias/textos2008/not080926a.htm

"uma simulação da votação, utilizando urnas oficiais alimentadas com lista de candidatos e de eleitores, para DEMONSTRAR a confiabilidade da urna eletrônica". A obrigatoriedade desta simulação de votação é imposta ao TSE pelo §6º do Art. 66 da Lei 9.504/97:

"§ 6o No dia da eleição, será realizada, por amostragem, auditoria de verificação do funcionamento das urnas eletrônicas, através de votaçãoparalela, na presença dos fiscais dos partidos e coligações, nos moldes fixados em resolução do Tribunal Superior Eleitoral."

A regulamentação detalhada desta "auditoria das urnas" é feita pelo próprio administrador eleitoral (que neste caso é também o "auditado" pois é ele mesmo que "faz" as urnas) nos art. 30 a 53 da sua Resolução TSE 22.714/08.Entre outras coisas, nesta Res. 22.714/08, o TSE determinou:

1) Art. 33 - que a auditoria seria feita por seus juízes e funcionários nos TRE de cada Estado;
2) Art. 40 - que apenas 2 a 4 urnas seriam auditadas conforme a quantidade de seções eleitorais de cada Estado;

Mas, como o administrador eleitoral não confia muito no trabalhoadministrativo de seus juízes e funcionários públicos, decidiu, adicionalmente, que:

3) Art. 37 - seria contratada uma outra auditoria, externa, para auditar o trabalho feito pelos seus próprios auditores internos!!!
4) §3º do Art. 37 (criado pelo Art. 5º da Res. TSE 22.850/08) - os partidos poderiam apresentar "quesitos objetivos" para serem respondidos pela auditora externa;

Para fazer esta redundante auditoria da auditoria foi contratada a empresa Moreira e Associados - Auditores, de Porto Alegre, por R$ 405 mil, conforme o Contrato TSE 55/2008.

Mas, como o administrador eleitoral também não confia muito no trabalho da auditora externa que contratou, no referido contrado estabeleceu que:

5) §1 da Cláusula Terceira do contrato TSE 55/2008 - nomear um funcionário para "acompanhar e fiscalizar" os serviços da auditora externa;

Quer dizer, este nomeado será o auditor interno que vai auditar o trabalho do auditor externo que vai auditar o trabalho dos outros auditores internos!!!

Deu pra entender?
... meu santu padinho Kafka, protegei-nos....

Mas pior que esta redundante aplicação de recursos públicos é o fato que o administrador eleitoral NÃO QUER que o auditor externo lhe revele eventuais IMPROPRIEDADES no seu endeusado Teste de Votação Paralela.

Vejam o que ocorreu.

O PDT, dentro do prazo estabelecido na auto-regulamentação do administrador-auditor-auditado, apresentou 6 quesitos que gostaria de ver respondidos pelo auditor externo da votação paralela.

Estes quesitos, que estão apresentados ao final como Anexo 1, solicitavam alguns dados sobre os testes de cada Estado e pedia que algumas contas fossem feitas sobre estes dados para determinar a significância relativa dos próprios dados.

Por exemplo, o quesito 1 basicamente pedia verificar se o art. 40 da regulamentação teria sido cumprido pelo funcionários eleitorais, ao perguntar, para o auditor externo, a quantidade A da amostra de urnas sorteadas para o teste e a quantidade U de urnas existente no Estado. Solicitava ainda que fosse feita a divisão A por U para se saber a porcentagem da amostra sobre o universo de urnas.

O segundo quesito solicitava o cálculo da probabilidade a amostra A sobre o universo U captar urnas com programas incorretos caso estas existissem.

Bom, o que aconteceu com esta apresentação de quesitos foi surrealista.

Foi aberto o processo administrativo PA nº 20045/2008 no TSE para que seus juízes decidissem se o direito do partido apresentar quesitos deveria ser atendido.

A decisão unânime dada pelos EMINENTES MINISTROS do TSE Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski, Fernando Gonçalves, Felix Fischer, Caputo Bastos e Marcelo Ribeiro, foi INDEFERIR OS QUESITOS apresentados pelo PDT porque:

"o pedido de dados estatísticos (como o percentual da amostra submetida ao teste de votação paralela e a probabilidade de urnas com programação incorretas serem detectadas) EXTRAPOLA O OBJETIVO DA AUDITORIA" ! ! !

obs.: não dá para saber de qual auditoria eles estavam falando: se da interna sobre as urnas, se da externa sobre a interna ou se da interna sobre a externa.

Vejamos... a auditoria externa teria que verificar se auditoria interna cumpriu a regulamentação, por exemplo, do Art. 40 da res. TSE 22.714/08 que determina o tamanho da amostra conforme o tamanho do universo das
urnas de cada Estado.

Portanto, a quantidade A e a quantidade U terão necessariamente que estar explicitadas no relatório da auditora externa.

Mas, os excelentíssimos srs. ministros decidiram que EXTRAPOLA O OBJETIVO DA AUDITORIA usar estes valores para calcular o percentual da amostra submetida ao teste e a probabilidade de urnas com programação incorretas serem detectadas. Na verdade, o que se pode concluir deste "imbroglio" todo é que os Ministros do TSE Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski, Fernando Gonçalves, Felix Fischer, Caputo Bastos e Marcelo Ribeiro simplesmente não desejam saber:

A) o percentual da amostra submetida ao teste de votação parelela;
B) a probabilidade de urnas com programação incorretas serem detectadas;

E, já que eles não querem (ou tem medo de) saber estes valores, vamos tentar estimá-los. obs.: eu digo "estimá-los" por que os valores exatos só poderão ser conhececidos depois dos testes que se desenrolarão no dia da eleição.

Vejamos o meu Estado de São Paulo, por exemplo:

obs.: usaremos o total de seções eleitorais segundo o TRE-SP, pois não se pôde obter a quantidade de seções agregadas para determinar a quantidade exata de urnas eletrônicas que serão usadas.

Universo de seções: U = 73.254
Amostra sorteada : A = 4

Cálculos:

A) Percentual da amostra submetida ao teste de votação parelela

A/U = 0,000054605 ou 0,005 %

Aproximadamente uma urna-e em cada 20 mil.


B) Probabilidade de urnas com programação incorretas serem detectadas;

Tomemos, como exemplo, o município de Bertioga, vizinho a cidade onde moro. Lá tem 96 seções eleitorais.

Supondo que alguém capacitado e malicioso:
- consiga adulterar os programas de METADE das urnas de Bertioga;
- não tome o cuidado de desativar a fraude se a urna for sorteada para o
teste de votação paralela.

Este ataque poderia eleger o prefeito e uma bancada majoritária na Câmara Municipal.

Calculando temos:

Urnas adulteradas : N = 96/2 = 48
Universo das urnas: U = 73.254
Amostra sorteada : A = 4

A probabilidade de pelo menos uma das 48 urnas fraudadas estarem incluídas entre as 4 sorteadas é:

P = 1 - { [ (U-N)! / (U-N-A)! ] / [ U! / (U-A)! ] }

73206 73205 73204 73203
P = 1 - _____ x _____ x _____ x _____ = 0,002618496 ou 0,26 %
73254 73253 73252 73251

Para melhor vislumbrar este valor, ele quer dizer que se METADE das urnas de Bertioga forem fraudadas em TODAS AS ELEIÇÕES (que ocorrem de dois em dois anos), o Teste de Votação Paralela, nos moldes regulamentados pelo TSE, SÓ DETECTARIA A FRAUDE UMA VEZ A CADA 800 ANOS !!!

É este o número que o administrador eleitoral não quer conhecer, e não quer que os eleitores conheçam, ao decidir que calculá-lo, a partir dos valores de A e de U que o auditor disporá, EXTRAPOLA O OBJETIVO DA AUDITORIA. ... e assim continuará dizendo que "o Teste de Votação Paralela DEMONSTRA a confiabilidade da urna eletrônica"

Demonstra ?!
Acredite quem quiser!

_______________________
Anexo I

Quesitos apresentados formalmente pelo PDT ao TSE, em acordo com o §3º do Art. 37 da Resolução TSE 22.714/2008 relativas à auditoria dos Testes de Votação Paralela:

Quesito 1 – Denominando-se por “U” a quantidade de urnas eletrônicas que compõe o Universo de urnas preparadas para votação no Estado e por “A” a quantidade de urnas eletrônicas componentes da Amostra de urnas sorteadas para serem submetidas ao teste de Votação Paralela solicita-se
informar:
a) o tamanho de U ;
b) o tamanho de A; e
c) qual a porcentagem de A relativamente a U segundo a fórmula matemática:
(100 x A / U)%?

Quesito 2 – Considerando que o objetivo do teste de Votação Paralela é verificar o correto funcionamento dos programas de apuração inseminado nas urnas eletrônicas, pergunta-se: Qual a probabilidade estatística, calculada em porcentagem, da Amostra (A) incluir urnas eletrônicas com programação incorreta, para os casos em que o Universo (U) contiver 1%, 5% e 10% de urnas com programação incorreta, descriminando-se a fórmula matemática utilizada para este cálculo?

Quesito 3 – Denominando-se por “abstenção proporcional” à porcentagem de eleitores autorizados que deixam de votar numa urna eletrônica, pergunta-se: Qual a abstenção proporcional final de cada urna eletrônica submetida ao Teste de Votação Paralela, e qual a diferença destes valores com a abstenção proporcional média real da eleição ocorrida no Estado?

Quesito 4 – Denominando-se por “intervalo de tempo de votação” à diferença entre os horários de cada voto computado registrado no arquivo de LOG de uma urna eletrônica, pergunta-se: Qual foi a Média e o Desvio Padrão dos intervalos de tempo de votação registrados nas urnas eletrônicas submetidas ao Teste de Votação Paralela, e qual a diferença destes valores relativos aos valores médios da eleição normal?

Quesito 5 - Considerando-se as respostas quantitativas aos dois quesitos anteriores, pergunta-se: O Teste de Votação Paralela tem sucesso em simular as condições de operação das urnas eletrônicas sob funcionamento normal de uma eleição oficial ou existem valores numéricos possíveis de serem calculados durante o funcionamento das urnas eletrônicas que possam indicar que ela está operando sob regime de teste e não numa eleição normal?

Quesito 6 – Denominando-se por “desempenho simulado correto” ao fato de uma urna eletrônica testada apresentar resultado correto numa apuração simulada de votos, ainda, denominando-se por “programas maliciosos” a programas de computador de votação e apuração que só desviem votos quando detectarem não estar sob teste de simulação e considerando-se as respostas quantitativas aos quesitos anteriores, pergunta-se: Com que margem de segurança (porcentual) o desempenho simulado correto das urnas no Teste de Votação Paralela pode atestar a inexistência de programas maliciosos nas demais urnas eletrônicas utilizadas no Estado?

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[ ]s
Eng. Amilcar Brunazo Filho - Santos, SP
www.votoseguro.org
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SEI EM QUEM VOTEI,
ELES TAMBÉM,
MAS SÓ ELES SABEM QUEM RECEBEU MEU VOTO

sábado, setembro 27, 2008

Caro Orlando Tambosi: congratulations! 3 anos é um feito e um fato!

Entrevista antiga e muito atual, no jornal O Estado de São Paulo.

Domingo, 19 março de 2006 edições anteriores
ALIAS
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E agora que não tem mais Serra?

O PT de Lula e a escolha de Alckmin são o mato sem cachorro

Fred Melo Paiva

Vá conversar com Maria Sylvia de Carvalho Franco e você sairá com a sensação de que estamos num mato sem cachorro. "E isso faz tempo", ela diz. Maria Sylvia é uma intelectual que não guarda nenhuma ilusão com o PT, nenhuma ilusão com o PSDB. Ainda assim, sentia-se uma "potencial eleitora do Serra". Agora está diante de Lula e Geraldo Alckmin. "Deus me livre", ela diz. É o mato sem cachorro.

Maria Sylvia é professora titular dos Departamentos de Filosofia da Unicamp e da USP. É autora, entre outros livros, do clássico Homens Livres na Ordem Escravocrata (Unesp). Não revela a idade e gosta de pontuar suas conversas com outras negativas: "Eu não pertenço a partido nenhum, não tenho simpatia por partido nenhum, mantenho a minha total independência para dizer o que quero e quando quero, tanto na vida acadêmica como política".

A política e os livros não são os únicos interesses de Maria Sylvia - concertos de música clássica, em especial os do Mosteiro de São Bento, e o jardim de casa consomem sua atenção em igual medida. Casada com o filósofo Roberto Romano da Silva, ela tem dois filhos (um deles é o cineasta Roberto Moreira, diretor de Contra Todos). Tem também uma neta, que vive com a filha nos Estados Unidos. Aliás, como se verá na entrevista a seguir, "o Alckmin é igual minha netinha..."

O que representa a escolha de Alckmin para o PSDB?

É uma coisa complicada, porque um determinado grupo se apossou do aparato interno do partido. Foi isso que Alckmin e seu grupo fizeram. Ele venceu com os governadores, com os diretórios, com uma verdadeira tropa de choque. Isso não é fácil de se fazer mas é plausível, tanto que conseguiram. Agora, transformar esse predomínio interno em movimento capaz de vencer uma eleição é muito difícil. Os 20% que separam Alckmin de Lula são muita coisa. Uma diferença improvável de ser tirada.

O partido vai dividido para as próximas eleições?

Em qualquer processo, quando uma facção se retira e deixa a outra sozinha - um bom nome disso em política é traição -, é muito difícil que se consiga um bom resultado eleitoral. A tendência é que Alckmin não decole, embora isso seja apenas cogitação. O ponto-chave dessa história é o seguinte: acho muito difícil que gente com a tarimba que tem essa liderança do PSDB cometesse a imprudência dessa escolha se não tivesse outra perspectiva em vista. Talvez Alckmin esteja aí porque a eleição está perdida mesmo. Perdido por perdido, então que perca o Alckmin e que se preserve o Serra.

O triunvirato tucano, formado por FHC, Tasso Jereissati e Aécio Neves, sai derrotado desse processo?

Não, porque eles são espertos demais. Quem conhece Fernando Henrique sabe que ele não cederia com essa facilidade, a não ser que estivesse a fim de viver a vida e os outros que se arrumassem. Mas não acredito nisso. Há alguma racionalidade na escolha que fizeram e ela passa pela dificuldade de bater Lula - se Alckmin quer porque quer, então deixa ir. E vai perder.

Do ponto de vista de Alckmin, estaria de bom tamanho a exposição nacional que uma campanha à Presidência confere ao candidato?

Claro que política é imprevisível. Mas o problema é que acho que ele perde fragorosamente... O adversário é de porte. Você imagina o que aconteceu de junho para cá, desde as denúncias de Roberto Jefferson. Isso era para enterrar qualquer partido. Mas o PT está aí, vivo.

Por que isso acontece?

Lula é um sobrevivente. Ele foi deixando os outros se estrepar. Ficou para trás o José Dirceu, que foi um dos grandes construtores do PT e dele próprio. Ficou para trás o tesoureiro. Não tem importância. Ele vai largando os mortos pelo caminho e sobrevive. Essa história de pensar que Lula sempre foi um simples joguete de forças mais racionalmente estabelecidas não confere mais com os fatos. No passado, eu mesma poderia ter pensado isso. Mas em vista do que aconteceu nesses últimos oito meses, ficou claro que Lula é um político muito esperto, que dirige aquilo tudo com mão de ferro e tinha absoluta consciência do imenso aparelho que se estava montando - um aparelho que não se monta com dois tostões.

E que tipo de político é o governador Geraldo Alckmin?

Alckmin e Lula têm coisas em comum. O que me assusta nos dois são os traços de personalidade autoritária. Essa idéia de que não há dificuldade que não se possa vencer, isso está em ambos. Em seu trajeto até a indicação, Alckmin foi habilidoso em mexer os pauzinhos. Mas só fez isso porque tem esse tipo de convicção.

Mas isso não é uma virtude?

É um traço temerário. Sua primeira implicação é a perda do senso de realidade. Qualquer pessoa que acredite minimamente em resultado de pesquisa - eu desconfio um pouco - sabe que a diferença entre Alckmin e Lula é muito grande, enquanto Serra e Lula estão empatados tecnicamente. A vontade de poder que não vê dificuldades leva a pessoa a desconsiderar isso totalmente. Então, junte-se a esse aspecto outros traços da personalidade de Alckmin. Por exemplo, esse apego aos padrões convencionais, antiquados. Ele diz que a pátria é a religião, os costumes e a família. Só faltou a propriedade... Alie-se a isso a determinação autoritária, e a coisa começa a ficar feia. Ou separe o tema da religião, e verá que ele está ligado ao que há de mais complicado, que é a Opus Dei. Há ainda um elemento, que é o moralismo maniqueísta expresso na sua primeira fala como candidato: "Vou dar um banho de ética neste País".

O que isso tem em comum com o presidente Lula?

Em Lula você encontra o paternalismo do "pai do povo" e o mesmo conservadorismo. Há outro traço que é muito visível nos dois, embora mais evidente em Lula neste momento: ele é submisso à autoridade e pisa em quem está embaixo. Basta ver o que fez com as aposentadorias e pensões, o que faz com a classe média - ao mesmo tempo que libera o imposto do investidor estrangeiro. Pisar em quem está embaixo e bajular quem está em cima é o traço de autoritarismo mais velho que existe. Se você ler A República, de Platão, esse é o traço do tirano. Por outro lado, Antônio Ermírio de Moraes diz que Serra é muito teimoso. Significa que Alckmin já está lá se ajustando ao empresariado.

Que lições o PSDB tira desse processo de escolha de seu candidato?

As lições, o PSDB deveria tê-las tirado antes. O partido deveria ter tido uma atitude muito diferente durante os escândalos de corrupção de Lula. Eles estiveram com a faca e o queijo na mão. Houve momentos em que se constatou dinheiro do exterior no PT. É crime. Poderiam ter feito o impeachment e não fizeram. Por quê? Porque têm lá os seus esqueletos e preferiram o acordo tácito com os petistas. Isso se deu porque o PSDB, antes, quando governo, fez um programa muito conservador, para dizer o mínimo. O privilégio foi dado ao capital financeiro, numa velha política liberal. Como disse, as lições, o PSDB deveria tê-las tirado muito antes.

Qual é o futuro do PSDB?

Eles precisavam não ter todos esses compromissos que estabeleceram. Agora precisam se reabilitar como partido político. Mas não sei como. O que falta para Alckmin é justamente essa base partidária de uma grande máquina montada. Lula e o PT aparelharam o País. Não tem uma estatal que não esteja dominada por eles. É uma indústria mantenedora do poder, uma indústria cultural. Lula tem todos os dons de um animador de auditório. E muito, mas muito bem articulado - e extremamente autoritário na sua ideologia de poder pessoal. Ele é o elemento carismático que colou nessa indústria.

Seu governo não tem nada a mostrar de realmente positivo?

O que Lula faz? Um enxurrada de banalidades que vai nutrindo e enchendo a cabeça desse povo todo que está aí. É igual um programa de auditório - aliás, o País é o seu auditório. Silvio Santos sorteia casa e automóvel. Lula dá. Ele vai sofrer sem Duda Mendonça... O que me assusta é que haja intelectuais com formação para ver isso, inclusive intelectuais de extração marxista, mas que não conseguem enxergar a destruição que essa política significa para o País. E a política econômica? Como é que gente com formação aceita uma coisa dessa?

Por que o empresariado manifestou apoio a Alckmin, sendo que Serra sempre foi o mais crítico a essa política econômica, isso desde o governo FHC?

Serra sempre foi nacionalista e desenvolvimentista, isso desde os tempos da ditadura. Mas o empresariado, na verdade, não quer surpresa. Veja que Lula mantém a estrutura de poder econômico. Quem leva a breca é gente menor. Antônio Ermírio está muito bem, obrigado. Por que eles vão se arriscar a colocar dinheiro no setor produtivo, se basta comprar títulos do governo? Por que vão se arriscar se há outros trabalhando por seus lucros?

Então por que o empresariado não desembarca logo na campanha de Lula?

Mas ele tem os bancos ao seu lado, o grande capital financeiro que o sustenta. Todos nadando em dinheiro. Há dois anos, um banco brasileiro lucrou mais que a Volkswagen mundial. Isso compromete qualquer racionalidade que você tenha com relação a crescimento econômico. O que me dá muito medo é que, se por um lado Lula tem os banqueiros, por outro tem também os miseráveis do mundo. Tem os dois extremos - um que lhe dá dinheiro, outro que lhe dá voto. Junte os dois, e é imbatível. Agora, para onde vai essa classe média que está sendo escorchada, isso é uma incógnita.

Serra projetou uma imagem de pessoa indecisa ou mesmo insincera ao negar o desejo da candidatura?

Ele foi prudente e cauteloso. Só deu um mau passo quando assinou aquele compromisso de não deixar a Prefeitura. Em política não se assina compromisso assim, porque se depende de conjuntura, de jogo de forças que se alteram. A imagem de indeciso e insincero já é propaganda pró-Alckmin. É uma forma de dizer que ele, sim, é determinado. É verdade, mas sua determinação tem algo de infantil: eu quero a Presidência já. É igual minha netinha. Serra demonstrou tino político: a troco de que iria se expor para, sem o apoio do partido, levar na cabeça? Ele está instalado em um ponto nevrálgico da política do Brasil. Por que sair daí? Tenho minhas dúvidas, inclusive, se será candidato ao governo do Estado. Temos de lembrar que tem 60 anos. Ainda é muito moço. Pode esperar.

Levando-se em conta a reeleição, não parece muito irreal a possibilidade de Serra ou Aécio, dois futuros postulantes ao cargo, apoiarem verdadeiramente Alckmin para presidente? Afinal, Lula sairia em 4 anos, mas Alckmin poderia ficar 8...

Certamente os planos políticos de José Serra e Aécio Neves não incluem Geraldo Alckmin. Uma vez, logo depois que Alckmin foi eleito governador, me perguntaram se ele não seria o político emergente capaz de construir uma carreira rápida. Eu disse que este era o Aécio Neves, porque tem família e a máquina de Minas Gerais. Sua herança não é brincadeira. E o Alckmin? Saiu ali de Taubaté, Pindamonhangaba, sei lá o quê, para fazer uma carreira miúda. Aécio é que não tem essa ambição imediata...

É muito novo.

Mas Alckmin também é. Tem pouco mais de 50 anos (53). É uma questão de exorbitância mesmo. O PT é, em grande parte, um partido de sindicalistas que subiram na vida e se apropriaram do poder. É um partido dominado por esses alpinistas sociais. Alckmin tem ganância semelhante, essa vontade de poder. Então ele quer e quer depressa. Ele não se agüenta. Aécio é diferente. Está lá, por cima da carne-seca, esperando a sua vez.

Parte dos eleitores de esquerda que se desiludiram com Lula talvez votasse em José Serra. Darão seu voto para Alckmin?

Acho que não. Se você perguntar para mim, vou votar na Heloísa Helena (risos). Brincadeira, tem muito tempo ainda para pensar...

Heloísa Helena não é o voto da esquerda juvenil?

Não sei se é tanto assim. Ela é bastante demagoga, eu diria, e não é muito bem-vista por uma camada dos intelectuais, por ser assim um pouco afoita. Mas esse grupo do PSOL, afora alguns interesseiros que se juntaram, tem um mérito enorme. Não é uma opção a se descartar. Votar neles pode ser uma forma de protesto. Eu, que não tenho simpatia por partido nenhum, poderia ser uma potencial eleitora do Serra. Agora, entre essa figura do Lula e a do Alckmin... nisso também não vou votar.

Existe espaço para uma terceira opção, ou mesmo para o aparecimento de algum aventureiro?

Não acredito. Garotinho, por exemplo, é tão inexpressivo politicamente quanto Alckmin. Ninguém, a não ser Serra, que é nome nacional, teria possibilidade de enfrentar Lula e seu aparato. A Globo, por exemplo: ou está silenciosa, ou está apoiando Lula. Não é pouco o poder que o PT conseguiu juntar.

O seu sonho de País passa por uma aliança PT-PSDB?

O meu sonho garanto que não. Deus me livre, duas forças tão conservadoras.

Estamos num mato sem cachorro?

Mas isso faz muito tempo...


sexta-feira, setembro 26, 2008

Do amigo Alvaro Caputo, recebo a gentil lembrança. Um abraço Alvaro Caputo!


No último domingo, 21 de setembro, João Ubaldo Ribeiro publicou em O Globo um artigo intitulado “Estão pensando que eu sou bobo”, onde se mostra chocado com o fato de andarem dizendo que ele está fora de moda. O escritor, membro da Academia Brasileira de Letras, vencedor do Prêmio Camões 2008, autor de “Viva o Povo Brasileiro”, obra-prima da Literatura Brasileira da última metade do século XX, e ainda por cima Embaixador Plenipotenciário da Ilha de Itaparica no Reino do Leblon, recebeu um rude golpe.

Diz o determinado itaparicano: “Sei que meus desafetos já previam o meu fim. Mas não contavam com minha astúcia. Tão certo como, lá caladinhos e metendo a mão num rico faturamentozinho, estão secando o Rio São Francisco; tão certo como roubaram e roubarão no e do governo e ninguém vai preso; tão certo quanto vivemos bem e à tripa forra, principalmente em matéria de educação, saúde e segurança; tão certo como agora, com o Pré-Sal, vamos ter dinheiro para comprar os Estados Unidos inteiros, se eles começarem a incomodar demais; tão certo quanto estou achando esse governo a solifidicação de uma ditadura galhofeira dos poderosos de sempre, sobre a mesma massa ovina. Tão certo quanto tudo isso e muito mais, podem ter certeza de que voltarei triunfalmente à moda. Aderi. Oposição, meu caro amigo, minha encantadora amiga, vão procurar num lugar fora de moda por aí. Poderei ter de mentir um pouco, mas estarei na moda. Aliás, mentir também está, não está?”.

Li e me solidarizei de imediato: também fui acusada de estar fora de moda. Ser oposição ao atual governo é uma pecha infame. Segundo o escritor, tipos como nós dois nem mais merecem ser grampeados, de tão reles, inúteis, parvos.

Li e vi a luz. Esse é o caminho. Na mesma esperança de ser perdoada e amparada nos braços generosos do lulismo, e de merecer os encômios da massa, não delongarei. O tempo urge.

Mais depressa, porém, falamos do que fazemos... diz um velho ditado. Começo a ficar muito preocupada. Olho o que disse o Lula dia 22/9, em NY, e estremeço “Depois que o governador de Pernambuco me contou um fato histórico sem precedentes, de que foram os pernambucanos que fundaram Nova York, eu me sinto muito mais importante em Nova York hoje do que em qualquer outro momento em que estive nos EUA”.

É possível ler isso e não poder pertencer aos bem-aventurados?

Comecei a entrar em depressão e já me imaginava a última fora de moda, já que João Ubaldo, com seu engenho e arte, não terá dificuldade alguma, é evidente. Mas, bem dizem que Deus protege os pobres de espírito. Caiu em minhas mãos um texto do filósofo e professor Roberto Romano em que ele sugere a instalação de “cursos públicos e privados de adulação filosófica”, com vários estágios nessa utilíssima disciplina. (Recomenda ao graduando a leitura de “Como distinguir o amigo do adulador”, de Plutarco).

Evoé! Aguardem-me. Prometo. Vou ser aluna aplicada e serei uma extraordinária lambe-botas. Lutarei com todas as minhas forças pela censura, pelo aniquilamento da liberdade de opinião, pelos 100% de aprovação ao nosso líder.

Viva os Gabolas!

Viva Mais Uma Brasileira Up-toDate, À La Page, Aggiornata, Muderna!!

Viva São Lula!!!

quinta-feira, setembro 25, 2008

HOJE RECEBI UM OUTRO "DESCONVITE". AS MESMAS PESSOAS QUE ME ESCREVERAM DIZENDO-SE HONRADAS COM A MINHA POSSÍVEL PRESENÇA EM SEU EVENTO, HOJE AFIRMAM QUE, "DEVIDO ÀS CONDIÇÕES NOVAS" (NÃO TÊM SEQUER A CORAGEM OU O PUDOR DE DIZER QUAIS SERIAM AS DITAS CONDIÇÕES) NÃO SERIA MAIS NECESSÁRIA A MINHA PRESENÇA EM EVENTO AGENDADO HÁ MUITO TEMPO. ENFIM, FICO CONTENTE POR SABER, COM TAIS AMOSTRAS, QUE INCOMODO ALGUMAS PESSOAS AMIGAS DOS ATUAIS DONOS DO PODER. ENFIM...O MUNDO É ASSIM MESMO. PARA COMEMORAR O DESCONVITE, SEGUE UM TEXTO ESCRITO POR MIM EM SITUAÇÃO SIMILAR, PUBLICADO NO SITE DE ALVARO CAPUTO.


Sobre os grupos intelectuais


Roberto Romano


Desde longa data, enfrento patrulhas políticas, religiosas, ideológicas. Numa sociedade onde a covardia dos indivíduos aconselha adesão a este ou aquele grupo (não raro quadrilha), o isolamento de quem não segue as súcias é assustador. Experimento o exílio sempre que um conventículo chega aos palácios. As mesmas línguas que, fora do poder, me tratavam como “professor” referem-se a mim como “aquele sujeito”. Foi assim com o PMDB no Planalto, com o PSDB, com o PT. Falo o que penso. Não escondo meu sentimento quando o arbítrio, a truculência e a má fé se instalam como ordem governamental. O que se passa com os partidos repete-se no trato com a mídia, com as artes, as ciências. Quando precisam de alguém disposto a dizer que o verde é verde e o marrom é marrom, sou procurado (de maneira asfixiante). Passou o problema, somem os pedintes e a gentileza. É o “efeito preservativo” nas relações entre intelectuais e “movimentos”: usado uma vez certo indivíduo como simples meio, ele é “pinchado”, como se diz no português saboroso do caipira.


O rito de excomunhão é igual em todas as seitas. Primeiro, vêm os rosnados, as caras feias, a não resposta ao comezinho “bom dia”. São os sinais precursores do ódio que fermenta contra quem ousa desmentir dogmas e safadezas. Depois, os seus alunos ouvem (sem que tenham solicitado a ninguém) juízos calhordas e covardes sobre sua pessoa (os recados são emitidos justamente para atemorizar), os seus projetos são recusados por detalhes que evidenciam perseguição. Depois, você mesmo tem os seus projetos cortados por colegas anônimos que se escondem sob a máscara burocrática. São múltiplos os recursos da covardia coletivista. Há um trabalho lingüístico para selecionar os que não devem partilhar o banquete do poder. Primeiro, são excluídos os que não usam os jargões das quadrilhas acadêmicas e políticas. Na época em que o PT se dizia de esquerda, era obrigatório usar frases iniciadas com “neo-liberalismo”, “consciência crítica”, “fora FMI”, “fora FHC”, “Covas o exterminador do futuro” e outras frases grosseiras e ressentidas. Se o infeliz não entoasse aquelas jaculatórias, era classificado como reacionário. Se as rezasse, era progressista, honesto, amigo do povo etc. O rebanho usa tais filtros como instrumento de exclusão. Depois, seguem os valores. Se você acredita neles, deve se cuidar porque nada é mais volátil do que a a fala das seitas. Elas são capazes de dizer “sim e não” ao mesmo tempo, dependendo da oportunidade ilustrada pela frase mestra: “isto é bom para nós”. E mesmo que “isto” desgrace o País e a reputação dos julgados “inimigos”.

Lembro-me do suadouro que tentou me passar certa militante inquisitorial do PT. Após cometer uma tese de doutorado que nem tinha a dimensão de panfleto, a dita cuja passou a intimidar docentes para que fossem tolerantes na banca. No meu caso, ela usou o seguinte truque: pediu-me entrevista e começou afirmando que eu era pessimamente avaliado por colegas e alunos. Todos se perguntariam “qual é a do Romano, é de esquerda ou direita?”. Evidente a armadilha mediocre: caso me intimidasse e respondesse “de esquerda”, deveria aprovar a tese. Caso oposto, eu teria admitido uma condição indesejada. Bati a mão na mesa e mandei-a para a porta de saída, não lhe dando o direito de agir de forma tão baixa. Exigi respeito, recusei participar da banca. Outros colegas aceitaram o convite, deram nota baixa à candidata e ouviram insultos da mesma após a proclamação do resultado. Hoje, a referida militante não milita, apenas desgraça a vida de alunos, colegas e funcionários, com truculência exemplar. E dá pareceres sigilosos sobre projetos de pesquisa, bolsas etc.

Existe gente assim em todos os círculos. Como dobram a espinha, consideram monstruosas as pessoas que mantêm ereta a coluna vertebral. Como adulam quem manda e caluniam quem não manda, desprezam os não aduladores. Como são covardes e agem com a proteção das matilhas, pensam disssolver os pensamentos alheios com os cortes de recursos, de bolsas etc. Iludem-se. Indivíduos desse naipe existem nas religiões (certos lugares de santidades são ninhos de víboras, como disse o Cristo), nas ciências (plágios, roubos de trabalhos, censuras de ordem metodológica ou doutrinária são banais em academias), nos esportes, nas artes, na políticas. Solerte Pascal: toda essa miséria deve-se apenas ao homem. “Odiamos a verdade, e nos escondem a verdade; queremos ser adulados, nos adulam; gostamos de ser enganados e nos enganam”. É o reino animal do espírito cheio de leões, infestado de hienas ou cobras. Certa colega me perguntou, após uma conferência: “Como você consegue ser tão independente?”. Resposta rápida : “custa muito!” É um luxo não ter compromissos com as seitas. Por tal motivo, sinto-me livre para criticar os santarrões aposentados do PT. E digam as línguas boçais o que desejarem, com seus adjetivos mesquinhos como “esquerda” ou “direita”. A honradez me basta.




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