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quarta-feira, outubro 10, 2007

O SENADO FASCISTA, CORREIO POPULAR DE CAMPINAS, 10/10/2007

Publicada em 10/10/2007


O SENADO FASCISTA.

Roberto Romano

Costumo pesar as palavras quando critico instituições relevantes. No caso do Congresso, algumas vezes uso termos duros, devido à falta de respeito pelo Legislativo demonstrada pelos seus integrantes. Tempos atrás a imprensa noticiou a prática de prostituição com patrocínio de parlamentares e ajuda de seus assessores, tendo em vista agradar prefeitos e políticos das regiões onde se localizam os currais eleitoreiros dos “representantes do povo”. Com a nova ainda candente, vem o informe jornalístico de que a Câmara providencia a nomeação de novos assessores, sem justicação funcional alguma. Interrogado pela TV Record, o presidente da Câmara, Inocêncio de Oliveira, diz nada saber sobre as referidas nomeações. E durante a entrevista, o deputado ri à escâncara. Após a sua fala, Oliveira vira as costas e a entrevistadora exibe, para o país inteiro, o documento assinado por ele, com as ditas nomeações. Ou seja: dissimulação, segredo, uso de recursos públicos sem justificativa, caçoada dirigida contra os idiotas pagadores de impostos.

Na mesma semana, o deputado Roberto Cardoso Alves pronuncia discurso na tribuna e ataca o autor da reportagem sobre o lenocínio na Câmara. As invectivas são dirigidas ao pai do jornalista, já falecido, que parlamentar conhecido e sobre o qual existem rumores de embriaguez. Nada é poupado ao jornalista, nos ataques à sua honra familiar. Cardoso Alves é o inventor da frase sacrílega do “é dando que se recebe”, franciscanismo pervertido e diabólico que insulta a crença de milhões de cristãos brasileiros. Publico o artigo O prostíbulo risonho, que me vale um processo de Cardoso Alves, bem como ataques desonestos de seus apoiadores. Sou absolvido, não sem antes notar o poderio do deputado nos três poderes da República.

Hoje o Senado (apenas um novo palco, pois o pastelão circense é o mesmo) é palco de nova investida “franciscana”. O Senador Wellington Salgado, da tropa de choque que defende o sr. Renan Calheiros, para explicar a chantagem explícita contra o poder Executivo na criação de uma nova pasta ministerial, a ser concedida ao filósofo Unger, diz que os senadores do baixo clero desejam “um chinelinho, não um sapato de cromo alemão”: cargos e verbas liliputianos como a sua estatura ética e política. A fala de Salgado, que dias antes afirma ignorar quem é o povo brasileiro (algo explicável porque, como suplente, nenhum integrante do povo nele votou) dá uma bofetada a mais na face da cidadania honesta.

No mesmo passo em que o deboche acima descrito se efetiva, o presidente do Senado segue para o quinto processo por falta do basilar decoro, manipula funcionários do serviço jurídico da casa, é também acusado de usar seu assessor para espionagem contra os pares, tendo em vista aterrorizá-los para obter sua “absolvição”. No dia em que o plenário o inocenta de algumas acusações, num procedimento tíbio para dizer o mínimo, Calheiros joga os jagunços de sua segurança (deveria ser a segurança do Senado) contra os parlamentares que, autorizados pelo STF, querem assistir o procedimento de cassação.

Ontem à tarde um grupo de jovens militantes do PPS, pacificamente, fez uma demonstração nos corredores senatoriais. Eles vestiam as sandálias mencionadas por Wellington Salgado, e usam ironia fina contra o “franciscanismo” calhorda dos senadores liliputianos. É o que basta para que os Tonton Macoute de Calheiros os amedrontem com ataques físicos, machucaduras, prisão ilegal.

Os senadores de todos os partidos que aceitam a crescente onda fascista levada pelo presidente do Senado são cúmplices da covardia e da intimidação. O PT, que até agora assegura a prática do cangaço na mesa do Senado, quando esta é dirigida por Calheiros, tem sua palavra a dizer. Assume a parceria com o Papa Doc das Alagoas, ou rompe com ele, e vota incontinente pela sua higiênica e urgente cassação.

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