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sábado, novembro 17, 2007

FIM DE POLEMICA.

COMENTÁRIO:
Com a publicação dos três artigos abaixo, encerra-se a polêmica. Fui nela jogado devido à uma referência sobre minha pessoa, por um dos debatedores. Com a idade, me desgostei das polêmicas. Só uma eu compro e dela não saio: sou corinthiano dogmático e, no meu entender, quem não torce pelo TIMÃO, não existe. Deste modo, publico os textos do debate e mergulho novamente nas polêmicas dos séculos XVI, XVII, XVIII. Alí temos os pontos jamais discutidos no Brasil, como é o caso da soberania popular, democracia, transparância, segredo de Estado, etc. Enfim...



ROBERTO ROMANO


11/05/2007 11:08:47 PM - Olavo deCarvalho
Bella robba

l Lungaretti esbraveja, rasga as vestes, bate no peito, e acaba por confirmar tudo.

Em nota publicada no seu blog (http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com), Celso Lungaretti afirma que cometi gravíssimo deslize ético: disse que ele foi prefeito de Pariquera-Açu. Que os caros leitores me desculpem. Errei mesmo. Lungaretti não foi nem isso. Também não é diretor da Geração Editorial, como imaginei que fosse; é apenas, como ele mesmo diz, membro do cast dessa editora. Quanto ao conteúdo essencial do meu artigo, Lungaretti esbraveja, rasga as vestes, bate no peito, e acaba por confirmar tudo: no tempo da ditadura, foi à TV denunciar seus companheiros de esquerda, e agora, sob um governo de esquerda, pede ação policial contra os sites liberais e conservadores.

As desculpas que ele apresenta para a sua conduta nessas duas ocasiões são tão comoventes quanto previsíveis: tortura, no primeiro caso; zelo pelas liberdades, no segundo. Acredite quem quiser. Só por uma curiosidade, lembro ao leitor que os soldados americanos da Guerra da Coréia, que apareceram na TV comunista fazendo discursos contra a “agressão imperialista”, foram induzidos a isso mediante intermináveis sessões de lavagem cerebral. Os casos estão documentados no livro do próprio médico que tratou desses prisioneiros depois de libertados (William Sargant, The Battle for the Mind, Penguin Books, 1961).

Lungaretti, segundo ele mesmo conta, mal saiu da prisão e na primeira entrevista já começou a falar grosso contra a ditadura que supostamente o havia persuadido a fazer aquilo que os demais torturados, submetidos a idêntico tratamento, não puderam ser induzidos a fazer. Se tudo isso é de uma incongruência psicológica patética, a explicação que Lungaretti oferece para o seu apelo à perseguição judicial dos direitistas é tão cínica que não precisa ser respondida: o ex-renegado e agora queridinho da esquerda diz que não quer fazer o mal aos conservadores em geral, mas só àqueles que “pregam a rebelião contra os poderes da Nação”.

Em vez de responder, pergunto: se é certo, justo e moralmente elevado pedir castigo judicial para supostos pregadores de rebeliões virtuais, que é que pode ter havido de tão errado em denunciar uma rebelião armada já em marcha, ao ponto de Lungaretti, para justificar essa denúncia, precisar alegar que só a fez mediante tortura? E o sujeito ainda acha que cabeça confusa é a minha! Quanto ao que ele diz do Foro de São Paulo, que é uma trama inverossímil, devo recordar, como autor de livros de lógica, que fatos documentalmente comprovados, reiterados até pela confissão direta de seu personagem principal, não têm satisfações a prestar ao critério de verossimilhança, o qual, por definição, é um mero julgamento de aparências, útil apenas quando não se tem acesso aos fatos.


BELLA CIAO
Celso Lungaretti (*)


Ao intitular de „Bella Robba" (Diário do Comércio, 07/11/2007) sua tentativa de resposta ao meu artigo "O Samba do Olavo Doido", Olavo de Carvalho faz uma óbvia e grosseira alusão à minha ascendência italiana.

Não é de estranhar-se, pois OC não perde ocasião de manifestar seu desprezo pelos seres inferiores, como os brasileiros que residem nos pequenos municípios interioranos. Talvez os italianos também não mereçam o apreço do filósofo campineiro que se radicou na Virgínia, EUA, para sentir-se entre iguais.

Eu, pelo contrário, orgulho-me não só de ser herdeiro da tradição humanística dos povos latinos, como também (e muito!) de haver seguido os passos dos partisans que enfrentaram o nazi-fascismo. Bella por bella, fico com "Bella Ciao", a canção-símbolo da Resistência italiana.Mas, minhas raízes também estão neste sofrido Brasil, em que os Lungarettis lutam contra as injustiças praticamente desde sua chegada, na imigração italiana: meu antepassado Angelo não hesitou em balear o irmão do presidente da República Campos Salles para defender a honra da família contra os desmandos dos barões da terra. Meus iguais são as vítimas do capitalismo no Brasil, em primeiro lugar. OC foi em busca dos seus na Meca do capitalismo. Questão de gosto... ou de caráter.

OC pede desculpas aos leitores por suas afirmações estapafúrdias anteriores, de que eu seria ex-prefeito de Pariquera-Açu e atual dono da Geração Editorial. No primeiro caso, diz que "Lungaretti não foi nem isso", como se eu devesse me considerar uma nulidade por ter apenas lutado aos 17 anos contra uma ditadura sanguinária e, depois, feito uma honesta carreira de jornalista, ao mesmo tempo em que continuava a defender os ideais de liberdade e justiça social. No essencial, ele novamente tergiversa e calunia, pois são as opções que restam a quem defende o indefensável.

O espantalho inverossímil. Esta polêmica começou quando toquei num calo dolorido dos profissionais do anticomunismo. Em 1964 eles usaram a "conspiração comunista internacional" como bicho-papão para assustarem a classe média e conseguirem êxito em sua segunda tentativa de usurpação do poder, depois que a resistência legalista fez abortar o golpe de 1961.

Não há espantalho igualmente apropriado nos dias de hoje. Então, para suprir a lacuna, eles tiveram de satanizar uma inexpressiva reunião de partidos e organizações de esquerda da América Latina, o Foro de São Paulo, apresentando-a como uma sinistra articulação para, nas palavras de OC, reivindicar "o poder ditatorial sobre todo o continente".Ou seja, Chávez e Morales estariam em vias de hastear a bandeira bolivariana em Wall Street, privando OC da segunda pátria que é a primeira no seu coração...Evidentemente, eu só poderia comparar um disparate desses a fantasias cinematográficas como Moscou Contra 007 e O Rato Que Ruge.

Cônscio do ridículo, OC refugia-se agora na autoridade acadêmica: "Devo recordar, como autor de livros de lógica, que fatos documentalmente comprovados, reiterados até pela confissão direta de seu personagem principal, não têm satisfações a prestar ao critério de verossimilhança, o qual, por definição, é um mero julgamento de aparências, útil apenas quando não se tem acesso aos fatos".Leiam e releiam! Nada que eu pudesse dizer seria mais ruinoso para a reputação intelectual de OC do que ter apelado para essa embromação doutoral, subestimando a inteligência de quantos tomariam conhecimento do seu artigo. Para os vigaristas saírem-se bem, é preciso que existam otários. Eu não sou. Quem acompanha polêmicas políticas, também não. Então, noves fora, acaba sobrando apenas... um malandro-otário. Onde está a comprovação documental de que Brasil e Argentina, as nações com peso decisivo na América do Sul, estejam sendo teleguiadas pelo Foro de São Paulo, em vez de perseguirem seus próprios objetivos geopolíticos? Em lugar nenhum, claro!

Os saraus da esquerda sempre produziram um blablablá triunfalista que nada tem a ver com a correlação real de forças. Aí vem um OC da vida, pinça meia-dúzia de arroubos retóricos, junta com uma interpretação distorcida dos fatos e sai trombeteando que o continente americano inteiro está a caminho de se tornar uma constelação de ditaduras esquerdistas.
Se tivesse um mínimo de honestidade intelectual, ele esclareceria que existem apenas alguns candidatos a caudilhos com projetos populistas-autoritários de perpetuação no poder, sem ruptura real com o capitalismo. Nem de longe a perspectiva de novos regimes castristas; quanto muito, tentativas de bisar o PRI mexicano.Mas, claro, nunca se pode esperar sinceridade dos manipuladores políticos. E menos ainda daqueles que servem de gurus para os medíocres e ressentidos, fornecendo-lhes explicações simplistas para seus fracassos cotidianos. "A culpa é do Governo Lula!" "O Governo Lula é de esquerda!" "Então, a culpa é da esquerda!"

Embora se pavoneie como autoridade em lógica, OC só parece ter verdadeira afinidade com os sofismas. Propaganda enganosa. Em sua cruzada contra a verossimilhança, OC volta a bater na tecla de que eu teria pedido "ação policial contra os sites liberais e conservadores". Como se o cidadão de um país democrático não tivesse o direito de requerer o cumprimento das leis que coíbem crimes como incitação à rebelião, difamação e calúnia. E como se os sites extremistas de direita jamais citei qualquer outro além do Ternuma, do Mídia Sem Máscara, do Usina de Letras e do A Verdade Sufocada ˆ fossem apenas "liberais e conservadores" e "supostos pregadores de rebeliões virtuais", segundo afirma OC.

O Brasil padeceu 36 anos, no século passado, sob duas intermináveis ditaduras. Isto já é motivo suficiente para não sermos condescendentes com o Grupo Guararapes, integrado por oficiais aposentados das Forças Armadas que passam a vida incitando seus colegas da ativa a sublevarem-se contra ministros e presidentes, por meio de manifestos bombásticos que trazem exclamações do tipo „a honra ou a morte!"; ou com o tal Partido Vergonha na Cara, que exige „militares no poder já!".

Se permanecessem como sociedades secretas, endereçando suas mensagens apenas a outros fanáticos, não estariam infringindo a lei. O caso muda de figura quando recorrem à comunicação de massa (Internet). E o acesso à Web lhes é propiciado exatamente pelos quatro sites da direita radical, veículos de propagação de suas exortações golpistas. Além disso, tais sites mantêm permanentemente no ar centenas de artigos de propaganda enganosa, para denegrir os movimentos de resistência à ditadura militar de 1964/85 e seus participantes. Trata-se de uma mistura infame de mentiras, meias-verdades e interpretação distorcida dos fatos, bem ao estilo do guru OC. E têm como matéria-prima os Inquéritos Policiais-Militares da ditadura, ou seja, informações arrancadas de seres humanos mediante torturas terríveis, a ponto de muitos (como Vladimir Herzog) terem morrido durante os interrogatórios.

Na Europa, um historiador que ousou negar a existência do Holocausto foi condenado à prisão. Algo deveria ser feito pelo Estado brasileiro para impedir que abutres continuem revirando o lixo ensangüentado da ditadura brasileira, no afã de caluniarem vivos e mortos. Por respeito à lei e por dever de gratidão para com aqueles que sacrificaram tudo em nome da liberdade. Pontapé na virilha - Finalmente, o filósofo OC não tem pejo de recorrer aos golpes baixos: „Lungaretti, segundo ele mesmo conta, mal saiu da prisão e na primeira entrevista já começou a falar grosso contra a ditadura que supostamente o havia persuadido a fazer aquilo que os demais torturados, submetidos a idêntico tratamento, não puderam ser induzidos a fazer". Ou seja, mal saí da prisão em 1971 e já em 1978 comecei a falar grosso contra a ditadura que me havia persuadido a fazer aquilo que mais de 30 companheiros também foram induzidos a fazer. Sintomaticamente, OC comete ato falho e deixa aflorar a verdade dos fatos, ao admitir que fui submetido „a idêntico tratamento" dos "demais torturados".

Desde a Santa Inquisição se vem comprovando que há limites para a resistência do ser humano à tortura prolongada. Alguns dos revolucionários mais ilustres do seu tempo foram reduzidos à condição de confessar absurdos e balbuciar lamúrias nos julgamentos stalinistas. Então, ninguém jamais conseguirá intimidar-me ao evocar aquele episódio em que, já sem forças para reagir depois de dois meses e meio de maus tratos, tendo sido mantido incomunicável à mercê dos carrascos muito mais do que os 30 dias que as próprias leis de exceção facultavam, com o tímpano recém-estourado ainda gotejando pus e sangue, manchas roxas no rosto e o corpo esquelético como o dos sobreviventes dos campos de concentração nazistas, fui conduzido a uma TV de madrugada e, sob ameaça de ser torturado até à morte, recomendei aos jovens que não ingressassem numa guerra já perdida.O que OC supõe servir-lhe de defesa é a mais veemente acusação da desumanidade que ele defende no passado e tenta reviver no presente.

* Celso Lungaretti é jornalista e escritor. Mais artigos em http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/

Bella roba, o retorno
Olavo de Carvalho
Ao comentar a resposta inócua dada pelo sr. Celso Lungaretti às minhas observações sobre o seu sucesso na carreira do arrependimento lucrativo, qualifiquei-a com a velha expressão Bella roba (bela coisa), de uso corrente no Cambuci da minha infância, para designar um nada que pretendesse ser alguma coisa.

Não tendo algo mais substantivo de que se queixar, Lungaretti optou por torcer o sentido das minhas palavras até o extremo limite da sua mania de perseguição, fingindo interpretá-las como alusão pejorativa às suas origens itálicas, como se fosse muito natural a um humilde portuga como eu olhar desde cima a nação de Dante, Leonardo, Michelangelo, Vico e Manzoni.

Dessa premissa manifestamente psicótica o referido foi tirando aquelas conclusões que os senhores podem imaginar, das quais emergi com as feições estereotipadas do quatrocentão racista – adequadíssimas a um neto de imigrantes e pai de filhos mulatos!! -, ampliadas por sua vez às dimensões de um virtual assassino em massa de seres inferiores, entre os quais, pobrezinho, o Lungaretti.

Depois de fazer da sua vida uma dupla palhaçada, o cidadão só pode mesmo encontrar refúgio na autovitimização teatral.

Mas desta vez, confesso, o sujeito foi tão longe no fingimento histriônico, que me tocou o coração. Senti-lhe o drama. O mal que ele faz a si mesmo é tão profundo, tão irreparável, que eu jamais lhe negaria o consolo derradeiro de lançar a culpa nos outros, mesmo que um deles seja eu.

Pode dizer de mim o que quiser, Lungaretti. Prometo não voltar a falar mal de você. Pode até dizer que fugi da raia. Não ligo não. Não faço questão de mostrar valentia onde ela é desnecessária e inconveniente.

Uma vez até saí correndo de um enfezado cãozinho Yorkshire para não carregar na consciência o pecado de dar um pontapé em criatura tão indefesa.

Olavo de Carvalho é jornalista, ensaista e professor de Filosofia

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