Powered By Blogger

sexta-feira, novembro 02, 2007

Para os meus dois leitores segue, como e a minha maneira de ser, os textos de todos os lados, procedimento democratico pouco usual na Brasilandia

Artigos

Portal



Inutilidade confessa
Olavo de Carvalho

Xingado de ultradireitista por Hugo Chávez, humilhado pelo governo de Cuba, que vetou a entrada da Comissão Parlamentar brasileira, o Senado brasileiro tratou logo de reconquistar as graças de seus exigentes proprietários, derretendo-se em sorrisos sedutores e baixando ao último grau da abjeção mediante a despudorada homenagem a um sociopata assassino, odiento, covarde e autolatricamente vaidoso.

Com essa iniciativa - aliás, involuntariamente irônica, pois Che Guevara já se colocava a si próprio “no primeiro escalão da espécie humana” e quem quer que depois disso lhe renda graças aceita ipso facto um lugar inferior ao dele na hierarquia zoológica -, a única coisa que o Senado conseguiu foi reforçar um pouco mais a tese petista que considera seriamente a hipótese da sua extinção a médio prazo. Aqueles que esperam conquistar o coração do tirano mediante atos de subserviência não fazem senão mostrar a ele o quanto são dispensáveis.

Celso Lungaretti, que entrou para os anais da História Universal como prefeito de Pariquera-Açu, SP, demonstrou sua lealdade à esquerda revolucionária indo à TV delatar seus companheiros de ideologia durante o regime militar. Agora ele prova sua fidelidade aos princípios da democracia e da livre-expressão exigindo o fechamento judicial dos sites conservadores na internet. Isso é que é inteireza de caráter.

Aproveita a ocasião para classificar o jornal eletrônico Mídia Sem Máscara entre “os sites financiados por facções políticas”, mas, como não informa qual é a facção, o jornal continua sem meios de acesso ao tal financiamento que, espero, seja substantivo e duradouro. Se o misterioso subsídio não aparecer logo, vou cobrá-lo do próprio Lungaretti, que como dono da Geração Editorial, editora da primorosa História Crítica de Mário Schmidt, tem prosperado muito no ramo da propaganda comunista, a indústria mais pujante deste país.

Que um sujeito se arrependa, depois se arrependa de ter-se arrependido, e por fim se arrependa de ambas as coisas, faz parte da miséria usual da humanidade. O que diferencia Lungaretti é que seus arrependimentos sempre o colocam a favor do lado mais vantajoso no momento, primeiro como serviçal da direita militar e agora como delator de direitistas. Por isso mesmo, ele não está de todo errado ao posar de superior a todas as ideologias. No fundo ele não serve a nenhuma: serve-se delas e nunca sai perdendo.

Com similar idoneidade, ele classifica de ficção conspiratória a minha afirmação de que os partidos membros do Foro de São Paulo dominam atualmente os governos de vários países da América Latina. Fique pois o leitor sabendo que os partidos de Lula, Kirchner, Chávez, Morales e tutti quanti não governam nada ou então não pertencem ao Foro de São Paulo, embora eles próprios digam o contrário em ambos os casos.

Normalmente, o que quer que um tipo como Lungaretti diga ou faça é inócuo como um pum de mosquito, mas, como a nota foi publicada no site do prof. Roberto Romano, que tem mais de três leitores, um deles me enviou uma cópia da coisinha, perguntando o que acho dela.

Não acho nada, apenas noto que o prof. Romano, quanto mais apanha de comunistas, mais solicitamente os lisonjeia, rebaixando-se ao ponto de se fazer de megafone para o ex-prefeito de Pariqüera-Açu.

É o que normalmente se chamaria de fim de carreira, mas, no caso, parece ser apenas o preço de um emprego na Unicamp. Ou, talvez, acumulação de méritos para uma vaga no Senado.


Olavo de Carvalho é jornalista, ensaista e professor de Filosofia.

==========================================================================


O SAMBA DO OLAVO DOIDO

Celso Lungaretti (*)



Em 1968, o grande Sérgio Porto não suportava mais os sambas-enredos sobre figuras históricas, que passaram a predominar a partir da turistização do carnaval carioca. Tratava-se de uma opção esperta para se agradar aos gringos e evitar atritos com a ditadura, mas que resultou catastrófica do ponto-de-vista artístico: os episódios eram narrados de forma simplista, oficialesca e, muitas vezes, equivocada.


A resposta de Sérgio Porto foi o genial Samba do Crioulo Doido, que, dizia a introdução, "tinha sido criado" por um compositor de escola-de-samba cuja cuca fundira de tanto lidar com os eventos da História, levando-o a fazer uma salada de épocas, fatos e personagens: "Joaquim José,/ que também é/ da Silva Xavier,/ queria ser dono do mundo/ e se elegeu Pedro II./ Das estradas de Minas,/ seguiu para São Paulo/ e falou com Anchieta./ O vigário dos índios/ aliou-se a D. Pedro/ e acabou com a falseta./ Da união deles dois/ ficou resolvida a questão/ e foi proclamada a escravidão..."



Olavo de Carvalho, que se apresenta como "jornalista, ensaísta e professor de filosofia", também compõe seus sambas do crioulo doido. E o pior é que não se trata de sátira: ele acredita nas bobagens que escreve. Assim, pretendendo me agredir (artigo „Inutilidade Confessa", Diário do Comércio, 24/10/2007), ele já começa viajando na maionese: "Celso Lungaretti, que entrou para os anais da História Universal como prefeito de Pariquera-Açu, SP...".

Repetindo a mesma ladainha num programa radiofônico, ele deixou ainda mais evidenciado seu desprezo por esse município, ao acrescentar que sua população se limitava a três pessoas: eu, meu pai e minha mãe. Mas, da mesma forma que o Tiradentes nunca falou com Anchieta, eu também jamais fui prefeito de Pariquera-Açu ou de qualquer outra cidade. Nunca disputei eleições para o Executivo ou o Legislativo. Sou paulistano e —com exceção do período em que participei da resistência à ditadura— sempre residi na Capital.



Parece que o rigor factual anda meio ausente das aulas do professor OC.



O festival de besteiras não pára



OC, em seguida, se refere a mim como "dono da Geração Editorial". E diz que eu tenho „prosperado muito no ramo da propaganda comunista, a indústria mais pujante deste país". Uma passada de olhos pelo site da Geração seria suficiente para ele ficar sabendo que o dono da editora é o respeitado jornalista e escritor Fernando Emediato. E que eu sou apenas um entre dezenas de autores que compõem o cast da Geração. Será que as aulas de filosofia de OC incluem o ensino da responsabilidade ética? Dificilmente. Afinal, ele me acusa de infidelidade aos princípios da democracia e da livre-expressão por exigir o fechamento judicial "dos sites conservadores na internet".


E qual foi, realmente, minha proposta? "Reunir provas dos delitos que estão sendo cometidos (exortação à rebelião contra os Poderes da Nação, calúnia e difamação, principalmente), encaminhando-as às autoridades (a equipe que o Ministério Público Federal criou para combater os crimes virtuais ou, nas cidades menores, a Polícia Federal), à imprensa e às entidades de defesa dos direitos humanos". Ou seja, defendi e defendo a tomada de providências judiciais contra os sites extremistas de direita (não os meramente conservadores) que estejam pregando a derrubada do governo constitucionalmente eleito ou cometendo os crimes de calúnia e difamação, entre outros.

O que há de errado em pedir que as autoridades apurem crimes virtuais? O que as pregações golpistas e o uso de mentiras para satanizar-se cidadãos respeitáveis têm a ver com a democracia e a liberdade de expressão?

"Moscou Contra 007" ou "O Rato Que Ruge"?

O principal motivo desse tiro que OC tentou dar em mim (e saiu pela culatra) foi a crítica que eu fiz, no meu artigo Goebbels Inspira Direita e Esquerda na Internet, à seguinte afirmação dele, OC, referindo-se ao Foro de São Paulo, em artigo de 15/01/2007: "...a entidade que já domina os governos de nove países não admite, não suporta, não tolera que parcela alguma de poder, por mais mínima que seja, esteja fora de suas mãos, o Foro de São Paulo, com a aprovação risonha do nosso partido governante, reivindica o poder ditatorial sobre todo o continente".



Eu esclareci que o Foro se trata "apenas de um encontro bianual de partidos políticos e organizações sociais contrárias às políticas neoliberais". E comentei que OC, com suas teorias conspiratórias, mais parecia "Ian Fleming introduzindo a Spectre numa novela de James Bond". A isso responde agora OC: "Fique pois o leitor sabendo que os partidos de Lula, Kirschner, Chávez, Morales e tutti quanti não governam nada ou então não pertencem ao Foro de São Paulo, embora eles próprios digam o contrário em ambos os casos".

Qualquer cidadão sensato percebe quão delirante é a hipótese de que Brasil e Argentina, juntamente com cinco nações não especificadas, a Venezuela e a Bolívia, participem de uma tramóia para implantar ditaduras de esquerda em todo o continente americano (o que incluiria os Estados Unidos). Quem crê ou tenta fazer os outros crerem que o populismo autoritário de Chávez determinará o destino de grandes nações como o Brasil e a Argentina, já foi além até das fantasias de 007. Isso está mais para O Rato Que Ruge, aquela ótima comédia com Peter Sellers...



Como o rigor geográfico também passa longe do pomposo professor de filosofia, ficamos sem saber exatamente quais os países em risco de se tornarem ditaduras. Mas, com toda certeza, a verdadeira ameaça é representada por quem já transformou a América Latina numa constelação de ditaduras e generalizou a prática de assassinatos e torturas nas décadas de 1960 e 1970: os companheiros de ideais de OC.



Grosserias e baixo calão: a linguagem dos becos



De resto, ele também nada tem a ensinar em termos de comportamento. No texto escrito, diz que „o que quer que um tipo como Lungaretti diga ou faça é inócuo como um pum de mosquito". No falado, apela para grosserias ainda mais explícitas e palavras de baixo calão, atingindo inclusive minha mãe octogenária. A isso darei a resposta cabível de um homem civilizado, não a dos becos em que se originaram o nazismo e o fascismo. Como não reconheço a mínima autoridade moral de OC para julgar meu comportamento, não perderei muito tempo com seus devaneios sobre episódios já esclarecidos.

Acusa-me de oportunista por, após 65 dias de incomunicabilidade e torturas, logo depois de sofrer uma lesão permanente e sob ameaça de morte, haver aceitado participar de uma farsa de arrependimento forçado, articulada pela Inteligência do Exército. Quem pode avaliar uma atitude tomada em situação tão extrema são os outros combatentes, que também assumiram o risco de enfrentar a tirania, apesar da enorme disparidade de forças. Os iguais podem me julgar. Os carrascos, seus defensores e seus discípulos, não. OC falta novamente com a verdade ao dizer que mudei de posição agora, por ser mais vantajoso para mim. Desde a primeira vez que fui procurado pela imprensa —entrevista concedida à IstoÉ em 1978—sempre relatei as torturas sofridas e as circunstâncias dramáticas em que se deu aquele episódio. Reiterei isso, na década seguinte, em entrevistas ao jornal Zero Hora e à revista Veja. E voltei a falar sobre as torturas durante a polêmica com Marcelo Paiva, em 1994. Além de haver travado uma luta dramática para salvar da morte quatro militantes que faziam greve de fome em 1986. Felizmente, minhas palavras e atitudes estão registradas de diversas formas, tornando inócuas essas tentativas de desmerecer uma vida inteira dedicada à defesa da liberdade e da justiça social. Os leitores poderão facilmente encontrar elementos para decidirem de que lado está a verdade.



Finalizando: o samba do crioulo doido de OC toma ao pé da letra uma afirmação que o saudoso Lalau fez como blague. Quer que seja proclamada a escravidão e voltemos todos a viver debaixo das botas. Mas, o amadurecimento do povo brasileiro é bem maior do que supõe sua vã filosofia.



Ditaduras — todas as ditaduras— foram para a lata de lixo da História. E dela não sairão, por mais que suas viúvas esperneiem.


* Celso Lungaretti é jornalista e escritor. Mais artigos em http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com

===============================================================

Comentário:

Graças à instituição do Estado de Direito, que defendo contra tudo e todos, não preciso lisonjear comunistas para permanecer na Unicamp. Nela estou há mais de trinta anos, e nela fiquei devido aos concursos públicos de provas e títulos que me deram estabilidade e garantias contra todos os setores políticos, religiosos, ideológicos, etc. Seria uma festa para muita gente, da esquerda ou direita, se eu pudesse ser demitido. Mas para isto seria preciso um golpe de Estado, visto que na forma atual do direito público, professores titulares concursados não são submetidos às pressões dos movimentos políticos, com as suas eleições, chantagens, profissões de fé neste ou naquele rumo. É a famosa liberdade de cátedra. Lembro que no Estado de São Paulo, o cargo de professor titular é concedido pela Assembléia Legislativa às universidades —as vagas, não os nomes dos candidatos— e autorizado pelo governador do Estado. Assim, comunistas ou direitistas dificilmente podem demitir titulares, sem o devido processo legal na Justiça.

Quanto à uma vaga no Senado, fico lisonjeado com a hipótese. O problema é que não poupo nenhum senador, desde que ele ultrapasse a fronteira do necessário decoro e da ética. Os dois leitores que me honram sabem que assim procedo, e que minha "popularidade" no Legislativo, Executivo, Judiciário é das piores.
Publico os artigos de ambos os lados, porque aprendi nas aulas de direito, humanidades, filosofia, etc., que sempre é preciso ouvir a outra parte para ser justo (in utranque partem...).

Mas deixo consignado pela enésima vez o meu desgosto com os modos e as técnicas de debate deste país. Se os dois leitores amigos me permitem, peço-lhes a leitura de um artigo meu, publicado no livro Corpo e Cristal, Marx Romântico, intitulado "Maritain, filósofo dos Matizes".

E bom dia dos mortos para todos, porque neste país desgraçado, todo dia é dia de mortos.

Roberto Romano

Arquivo do blog