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terça-feira, setembro 11, 2007

No blog Josias de Souza. O artigo mencionado no Blog e sordido, como a politica nacional.

Renan envia aos senadores artigo sobre cortesã

Texto foi escrito pelo ex-ministro Maurício Corrêa
Fala de quarto, mulher, sexo, poder e chantagem

JR Duran/Divulgação
Às vésperas da sessão secreta em que escalará o cadafalso da cassação, Renan Calheiros enviou aos 80 colegas de Câmara Alta um envelope com o timbre da presidência do Senado. Contém um artigo escrito em sua defesa pelo advogado Maurício Corrêa. O texto não contém um mísero argumento técnico. Fala de mulher, sexo, poder e chantagem.

Já nas primeiras linhas, Corrêa esforça-se arrancar do drama de Renan a moldura de malfeitorias administrativas e perversões políticas que o guarnece. Corrêa acomoda a crise na cama. Cita, no parágrafo inaugural, o pensador francês Saint-Beuve: “[...] Quando o destino de uma nação está no quarto de uma mulher, o melhor lugar para um historiador é a antecâmara”.

A jornalista Mônica Veloso, ex-amante do presidente do Senado, não é mencionada uma única vez. Corrêa prefere valer-se da analogia. Uma analogia algo desairosa. Lança mão de uma personagem morta: Harriette Wilson (1786-1845). Era uma cortesã (prostituta de luxo) inglesa.

Eis como a descreve Corrêa: “Mulher charmosa, bonita e inteligente, era a mais procurada fornecedora de sexo da Londres do reinado de George 14”. Tinha uma caderneta fornida. “Entre seus clientes contavam-se condes, duques, marqueses, membros da Câmara dos Comuns e dos Lordes, além de destacados homens de negócio e profissionais liberais”, enumera Corrêa.

Escorado na trajetória de Harriette, Corrêa envereda por uma trilha que remete, indiretamente, à acusação de um dos “soldados” de Renan. O senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA) imputara aos advogados de Mônica Veloso a suposta tentativa de trocar o silêncio de sua cliente por R$ 20 milhões. De novo, Corrêa esquiva-se das menções frontais.

Ex-ministro do STF, conhecedor das leis, Corrêa como que contorna os riscos da difamação esgueirando-se pela picada estreita da comparação. Conta que, “em 1824, com 35 anos, já preocupada com as rugas do tempo, [Harriette] resolveu publicar suas memórias”. Foi ter com um livreiro. Filha de um relojoeiro suíço, Harriet moveu-se com rara objetividade e precisão. Ajustou com o editor que suas aventuras amorosas viriam à luz em fascículos.

“Antes da publicação de cada fascículo, os personagens envolvidos eram avisados de que, para evitá-la, teriam que fazer um depósito bancário, em nome de Harriette, de 200 libras esterlinas”, anota Corrêa. Recorrendo ao achaque, a “fornecedora de sexo” inglesa “conseguiu amealhar recursos que lhe permitiram viver o resto da vida em Paris, tranqüila e financeiramente abastecida.”

Súbito, o artigo de Corrêa salta da alcova da cortesã morta para o mundo dos políticos brasileiros vivos. Alguns deles muito vivos, vivíssimos, segundo insinua Corrêa, ele próprio um experimentado ex-senador, que, sob Itamar Franco, esteve à testa do Ministério da Justiça. O autor do artigo espicaça os algozes de Renan.

“Sem pretender entrar no mérito do que está em apuração no Senado, o que se poderia indagar é se a conduta particular de certos personagens da vida pública nacional resistiria a tão pertinaz, insistente e torrencial campanha. Afinal, quantos não estão respondendo a ações, algumas com acusações graves, perante a Justiça? No entanto, estão aí sorrindo, felizes como se fossem imaculados. Resistiriam à metade da pancadaria que se abateu sobre o presidente do Senado?”

O texto de Corrêa, intitulado “Serena resistência de um sertanejo”, foi publicado na edição do último domingo (9) do jornal Correio Braziliense. Dali, saltou, nesta segunda (10), para os gabinetes dos “julgadores” de Renan e para a página do senador na internet. Converteu-se em peça derradeira da defesa de um presidente do Senado que luta para não ter o mandato passado na lâmina.

“Não será buscando refúgio sob os lençóis da ex-amante que o Renan irá se salvar”, disse ao blog um dos senadores de oposição distinguido com a correspondência do presidente do Senado. “O drama do senador pode ter começado num quarto de mulher, mas terminou nos arredores do Código Penal. Ou ele responde às acusações, franca e objetivamente, ou continuará indefeso”.
Escrito por Josias de Souza às 02h51

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