
Sabado à noite, na Caixa Cultural, assisti uma peça sublime. Tive a honra de ser o convidado para falar sobre o trabalho. Mas disse o mínimo, diante de tamanha perfeição estética. Não desejei atrapalhar a vista, os olhos, sobretudo os ouvidos dos que ali estavam para verificar até onde pode ir o desejo do mal, a kakourgia grega, na refinada arte do palco. A peça sintetiza os desafios da vida e da morte, tal como encarados no século 18 na filosofia de Rousseau e Diderot. Mas se eleva ao universal de modo cativante e ao mesmo tempo repulsivo.
O trabalho dos atores emociona e permite o pensamento. Duas figuras construídas com a frieza do intelecto e a fúria da imaginação e do desejo letífero. O palco adequado, luzes idem, sons magníficos.
Uma noite de beleza, horror, convite à reflexão madura. Tudo, claro, prenunciando "a sombra do divino marquês", na fala de Mario Praz (A carne, a mulher e o diabo na literatura romântica).
A companhia seguiu para Curitiba. Espero que o Brasil todo a receba, para que alguns pensem no perfume da morte que se espalha em nossa comunidade onde mandam alguns marqueses e muitos artistas teatrais imaginam agir com livre arbítrio, quando são apenas marionetes (políticas, religiosas, esportivas, artísticas...universitárias).
Obrigado a Bartholomeu de Haro pelo magnífico espetáculo.
Roberto Romano