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sábado, junho 14, 2008

Censura?

Decisão do MP de pedir punição da 'Folha' por publicar entrevista com Marta provoca reações

Publicada em 13/06/2008 às 22h54m

Tatiana Farah - O Globo

SÃO PAULO - A decisão do Ministério Público Eleitoral de pedir a punição da "Folha de S.Paulo" por ter publicado entrevista, no dia 4 passado, com a ex-ministra Marta Suplicy, está sendo fortemente contestada. Para o promotor Eduardo Rheingantz, um dos autores da representação contra o jornal, a entrevista foi "propaganda eleitoral antecipada", já que Marta é pré-candidata à prefeitura de São Paulo. O cientista político Roberto Romano, especialista em ética pública, considera que a medida do Ministério Público Eleitoral é uma "recaída autoritária". A Associação Nacional de Jornais (ANJ) também considerou equivocada a medida da promotoria.

" Respeito muito o trabalho do Ministério Público, mas isso é uma recaída autoritária, um atentado à liberdade de imprensa" Roberto Romano "

- Respeito muito o trabalho do Ministério Público, mas isso é uma recaída autoritária, um atentado à liberdade de imprensa - afirmou Roberto Romano, professor da Unicamp, que continuou: - Não tem sentido essa representação judicial contra o jornal. Vi a entrevista, e ela não tem caráter eleitoral e nem de propaganda. A pessoa pode ser entrevistada a todo momento. Foi um excesso de zelo.

"Por que candidato não pode ser entrevistado?"

O cientista político afirmou que o promotor, ao fazer a representação contra o jornal, subestimou a capacidade de compreensão dos leitores:

- O promotor está considerando o leitor como um menor de idade e quer exercer a tutela dele. Mas o leitor não precisa de tutores nem de censores. Vivemos o tempo da maioridade. Dessa maneira, daqui a pouco, teremos meia dúzia de censores decidindo o que deve ou não ser publicado. Por que candidato não pode ser entrevistado? Quando o presidente Lula foi a São Paulo fazer a campanha de Marta à reeleição (em 2004), não houve esse tipo de severidade contra ele. Então, essa severidade sobre a imprensa é inoportuna.

" Dessa maneira, daqui a pouco, teremos meia dúzia de censores decidindo o que deve ou não ser publicado" Roberto Romano "

A editora-executiva da "Folha", Eleonora de Lucena, classificou a medida do Ministério Público de inaceitável. De acordo com ela, o advogado do jornal já entregou o documento de defesa à Justiça Eleitoral.

- A "Folha" considera a representação da Promotoria uma equivocada e inaceitável tentativa de cerceamento ao direito de informação e à liberdade de imprensa consagrados na Constituição - disse Eleonora.

Período eleitoral não é de "censura ou restrição"

No documento remetido à Justiça Eleitoral, que ainda não decidiu se acolherá a representação da promotoria, o advogado Luis Francisco Carvalho Filho, que defende o jornal, afirma que, sendo "período eleitoral ou pré-eleitoral, não importa, não se constitui em período de censura ou de restrição à informação jornalística. É interesse do leitor saber e é dever do jornal divulgar o pensamento das diversas forças políticas que disputarão o governo da maior cidade do país".

Adversários não criticam entrevista de Marta

O prefeito Gilberto Kassab (DEM) disse ao jornal que acha natural a entrevista concedida pela ex-ministra. Outro pré-candidato à prefeitura, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), principal adversário de Marta, disse ao 'Globo' nesta sexta, por meio de sua assessoria, confiar na cobertura jornalística das eleições.

"A imprensa tem o dever de informar e a sociedade tem o direito à informação. Acredito que a imprensa irá fazer uma cobertura isenta e equilibrada nesses tempos de eleição", disse Alckmin.

Ricardo Pedreira, da ANJ, afirmou que a entidade lamenta a iniciativa do Ministério Público Eleitoral.

- A ANJ avalia que a medida, que foi um exagero da Promotoria, é um equívoco porque considera propaganda o que é jornalismo. Lamentamos e esperamos que a Justiça defina claramente essa diferença para não inviabilizar o exercício da liberdade de imprensa.

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