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segunda-feira, junho 16, 2008


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São Paulo, domingo, 15 de junho de 2008



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entrevista

"A gente usava socos, choques, tapa no ouvido"

DO ENVIADO A MANAUS

O tenente da reserva José Vargas Jimenez ganhou a admiração dos colegas de farda ao lançar o livro "Bacaba, Memórias de um Guerreiro de Selva da Guerrilha do Araguaia", em 2007, no qual narra como usou técnicas de tortura aprendidas no Cigs. (CDS)

FOLHA - O sr. serviu na turma de 1972. Como foi o treinamento?
JOSÉ VARGAS JIMENEZ
- Foi muito duro, bem próximo da realidade. Tenho consciência de que, se não tivesse passado pelo treinamento no Cigs, eu não estaria vivo.

FOLHA - Vocês aprendiam técnicas de interrogatório?
JIMENEZ
- Sim. Muito das técnicas lá eram em relação aos índios que a gente prendia. Era bem brabo, mas o interrogatório psicológico é pior.

FOLHA - Pode dar um exemplo?
JIMENEZ
- Eu trabalhava no DOI-Codi aqui e roubaram oito pistolas. Toda a guarnição que estava de serviço foi presa. Me mandaram interrogar. Eu, à paisana, preparei uma sala e orientei um companheiro para atuar como no filme onde tem um policial malvado e outro bonzinho.
Mandei o sargento trazer o soldado algemado e judiar dele. Aí pedi que meu companheiro retirasse as algemas e ofereci um cafezinho, um cigarrinho. Ele me delatou que as armas estavam na casa de um civil. Prendemos um senhor que tinha duas filhas lindas. Na PF, que efetuou a prisão, mandei juntar os dois e deixei eles lá por cinco minutos. Depois falei pro civil que ele era mentiroso, pois o soldado já havia me ajudado a recuperar quatro armas. Saí e chamei três agentes da PF, grandes, barbudos e com cara de mau. Na frente do homem [civil], perguntei aos agentes: "Vocês viram as duas filhinhas dele lá na favela, uma de 12 e uma de 14 anos. Vocês gostaram? Vão lá comer elas, podem ir estuprar elas". Para proteger as filhas ele entregou tudo.

FOLHA - E a tortura física?
JIMENEZ
- Eles faziam na gente primeiro. Nos amarravam, faziam a gente passar fome e nem deixavam dormir. A gente usava socos em pontos vitais, choques elétricos, dava tapa no ouvido e botava o sujeito em cima de duas latinhas de leite condensado. Teve um camponês que encontramos no meio da selva -eu, Curió e meu grupo- que não queria falar onde estavam os guerrilheiros.
Pegamos ele e botamos no pau-de-arara, só que o pau-de-arara era um viveiro de formiga. Nós besuntamos ele de açúcar, colocamos sal na boca dele e deixamos ali. Em dez minutos ele falou tudo.

FOLHA - Qual a reação ao livro no meio militar?
JIMENEZ
- Gostaram muito. Mandei uns livros para lá [Cigs], autografados. O major Coimbra disse que [ela] vai servir para a aula dos alunos.
Disse que o comandante [coronel Antonio Barros] me convidou para ir lá dar uma palestra e ser homenageado com o facão do guerreiro de selva [símbolo do militar da Amazônia]. Um coronel que foi meu chefe mandou pedir dez livros: mandou cinco para a Aman [Academia Militar das Agulhas Negras] e cinco para EsSA [Escola de Sargentos das Armas], para servir de orientação para os guris.

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