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sábado, junho 07, 2008

Mauro Moura é meu amigo e um dos acadêmicos mais bem educados que conheço. Trata-se de um gentleman. A sua crítica pode ser assumida por todos os que desejam análises e contraposição de idéias, não apenas xingamentos. É possível criticar Marx de modo radical. Mas é pequeno dizer que ele "nada tem a dizer". Há uma crítica do pensamento marxista, como exemplo o livro de Orlando Tambosi,Perché il marxismo ha fallito, em cujas páginas razões surgem e servem como meio de pensamento. Claro, pensamento contrário ao marxismo, mas com base na crítica a Hegel e aos seus sucessores. Reduzir a análise ao panfletarismo que deforma o criticado, ou o caricaturiza, de nada serve. E as grosserias mal disfarçam o desejo de aniquilar fisicamente quem pensa de modo diverso.

Digo isso porque ontem mesmo, ainda sob a pressão de uma gripe violenta (o post da CBN, colocado abaixo, com entrevista dada a Adalberto Piotto sobre os quadrilheiros do Congresso Nacional, mostra a voz rouca e o cansaço que me dominavam ainda ontem)fui a Mogi das Cruzes, para uma palestra diante de 100 pessoas, segui para a Unicamp, onde atendi alunos, me reuni para tratar de assuntos de interesse da universidade, dei aula na sexta, integrei uma banca de exame para livre-docênica. Quase não tive tempo para saber, por um colega, o juizo de alguns colegas sobre mim, e sobre a minha recusa das cotas. Em suma: os colegas que se dizem marxistas falam e agem exatamente como o criticado agora por Mauro. A ideologia, diz minha mulher, emburrece. E digo eu: é sempre de má fé. Para a ideologia (não por acaso descrita como a fotografia, que tem branco e negro) impera a ordem lógica de Mani: quem não pensa comigo é contra mim, e deve ser destruido física ou moralmente.

Antes de vetar a leitura de autores, mais vale, para os que seguem a profissão de Torquemada, queimar os livros. E logo após, queimar os que os compulsam para entender.

Após 40 anos de leitura de Marx e similares, tenho muitas objeções à lógica por ele empregada, aos seus quadros expositivos, etc. Mas se um aluno mostra desejo de ler O Capital, ou qualquer outro texto, incentivo a leitura, em primeiro lugar. Depois indico fontes pró e contra. E sempre deixando que o estudante faça a sua própria inspeção espiritual. O resto é método de aiatolá disfarçado de professor. E não gosto de padres, pastores ou aiatolás que deixam o âmbito do templo para mandar no espaço laico da universidade.

Ah! Estou prestes a receber minha aposentadoria, para alegria dos aiatolás acadêmicos, cujas cartas anôminas ou assinadas em listinhas de circulação limitada como seus cérebros, não têm o brilho literário de São Paulo, mas cheiram bem a patrulha ordinária.

Roberto Romano



MAURO CASTELO BRANCO DE MOURA

Professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal da Bahia e autor, entre outras obras, de Os Mercadores, o Templo e a Filosofia: Marx e a Religiosidade, Coleção “Filosofia” nº 181, Porto Alegre, Editora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Edipucrs), 2004.


Não li e não gostei!

Espaço Acadêmico abriu suas páginas ao vitupério e à apologia do obscurantismo

por Mauro Castelo Branco de Moura*

“Não há entrada já aberta para a

ciência e só aqueles que não temem

a fadiga de galgar suas escarpas abruptas

é que têm a chance de chegar a seus cimos

luminosos”

Karl Marx

A pretexto da irretorquível defesa da liberdade de pensamento a REA abriu suas páginas, infelizmente, à apologia do mais abjeto obscurantismo. Em seu nº 83, de abril do corrente, o Diplomata Paulo Roberto de Almeida, em artigo supostamente bem humorado, intitulado O fetiche do Capital, defende ostensivamente a idéia de que não se deva estudar O Capital de Marx nas universidades, pois se trataria, em síntese, de obra completamente ultrapassada. Mesmo quando afirma “que não tenho nada contra a leitura do Capital” o Diplomata Almeida logo se apressa em acrescentar a seguinte ressalva: “sempre bem-vinda e interessante quando se dispõe de tempo e do lazer necessários a um mergulho na história das idéias econômicas do século XIX”. Em tom professoral o preocupado diplomata adverte: “Tenho reparado, pela minha freqüentação de listas de discussões e pela leitura de sites acadêmicos que professores universitários brasileiros continuam a insistir com seus alunos na leitura do Capital, leitura que é feita sempre parcial e truncadamente, pois que não concebo um estudante “normal” de nossas instituições de ensino superior mergulhando na leitura sistemática dos três livros do Capital (e mais quatro sobre a Teoria da Mais-Valia), sem correr seriamente o risco de ser reprovado nas demais matérias por falta de estudo, o que seria a suprema ironia”.

Não deixa de ser curioso o incômodo provocado em Paulo Roberto de Almeida com o fato de que, eventualmente, algum professor universitário insista em que seus alunos leiam O Capital de Karl Marx. Digo, eventualmente, porque todo aquele que freqüente as academias brasileiras nos dias de hoje sabe o quão difícil será encontrar algum professor que ministre aulas sobre esta obra clássica. Fica a pergunta: porque este empenho em censurar o ensino de um clássico, condenando-o ao esquecimento?

O diplomata insinua uma preocupação de exegeta contra leituras parciais e truncadas, já que por sua extensão e (ele não afirma, mas eu poderia acrescentar) complexidade a leitura cabal da obra não estaria ao alcance de nossas instituições de ensino superior e assim, em tom libertário, pretende “livrar” os estudantes brasileiros deste penoso fardo. Destarte, seguindo a linha de raciocínio do cioso diplomata, deduzo, como professor de filosofia, que o ensino de minha disciplina é absolutamente inapropriado nas universidades brasileiras. Como pedir a alunos que leiam a Crítica da Razão Pura de Kant ou a Ciência da Lógica de Hegel uma vez que são obras extensas e reconhecidamente difíceis? E o ensino dos pensadores antigos, não seria ainda mais problemático? Teria algum sentido, na perspectiva do cioso diplomata, ler a Metafísica de Aristóteles, por exemplo, obra escrita há mais de dois mil anos? “Livremos nossos alunos de toda a cultura clássica!”, é isso o que apregoa Paulo Roberto de Almeida? Devemos fazer o que, ler gibi ou livros de auto-ajuda em sala de aula?

Não obstante, só ao Capital de Marx o Diplomata Almeida pretendeu defenestrar, só esta obra mereceu entrar em seu índex pessoal... Em sua cruzada por “libertar” os alunos deste penoso e inútil fardo o cioso articulista se despoja de qualquer rigor acadêmico e inicia um vale-tudo onde a pose inicial de exegeta se desvanece completamente. A displicência começa quando afirma que a “edição original” de O Capital teria sido em 1863 (sic)[1]. O paladino dos estudantes erigiu seu moinho de vento (porém, sem a honesta e enlouquecida ingenuidade do “engenhoso fidalgo da Mancha”) sem citar a própria obra em questão uma única vez. Com enorme desassombro dedicou-se a imprecar contra o clássico sem qualquer pudor intelectual, fazendo tábula rasa da enorme literatura crítica que o cerca, citando apenas Pareto, porém no frágil contexto do magiter dixit. Isto numa revista denominada Espaço Acadêmico... Qual seria o objetivo do cioso diplomata?

Decerto que não pretendeu estimular o debate acerca da obra, o que seria, per se, louvável e academicamente salutar, independentemente da posição que assumisse. Aliás, para encomiar ou para combater seria de bom alvitre certo distanciamento crítico, não é o que pretendeu o Diplomata Almeida. Na verdade, seu primeiro objetivo foi o de tender um cordão sanitário em torno da obra de Marx, convidando os que não a leram a que continuassem a ignorá-la. O mais tacanho obscurantismo, portanto, moveu-o em seu libelo, sem sequer ser original neste execrável intuito (quantos destruidores de livros a história já conheceu!). Porém, ao fazê-lo esqueceu que aos clássicos não lhes dá a medida o pigmeu, mas é a própria insignificância que se revela sem disfarces na comparação. O Capital, como qualquer outra obra clássica, não está sub judice, pelo contrário, é ele que julga àqueles que pretendem ajuizá-lo. É como uma Mona Lisa a espreitar as legiões de visitantes do Louvre que dela se aproximam, sempre haverá os que não a estimem uma obra meritória... Porém, ela seguirá lá impávida, julgando, com seu sorriso enigmático, novas multidões de admiradores...

Lembro-me, quando era ainda bastante jovem, no tempo da ditadura militar, que Mário Henrique Simonsen, à época ministro (da fazenda se não me engano), escreveu certa feita um artigo para o caderno cultural do Jornal do Brasil louvando a reedição de O Capital, cuja primeira edição no Brasil já se achava esgotada. Sem qualquer suspeição de simpatia pela obra, o ex-ministro, como qualquer homem lúcido e bem informado haveria de fazê-lo, destacava a importância da obra (e só um obscurantismo desvairado a circunscreveria apenas ao âmbito restrito do contexto do século XIX). Porém Mário Henrique Simonsen não fez verão sozinho. Raymond Aron, por exemplo, que dedicou uma parte relevante de sua extensa obra à crítica dos marxistas, jamais pretendeu que Marx não fosse lido, pelo contrário, tornou-se um excelente especialista, referência para críticos ou admiradores.

Para continuar no âmbito francês, Jacques Attali, líder de uma comissão de notáveis designada pelo Presidente Nicolas Sarkozy (que não pode, de modo algum, ser acusado de “marxismo”!) para sugerir um plano de reformas ao governo francês por ele presidido, conhece tão bem a vida e a obra de Marx que é autor de uma biografia (Karl Marx ou l’esprit du monde, Paris, Fayard, 2005), relativamente bem documentada, onde destaca, precisamente, a atualidade do pensamento do autor que o Diplomata Almeida quer ver confinado nas calendas do século XIX e sem ser lido no século XXI. Como se vê, não é necessário esposar o ideário marxista para reconhecer a importância do legado de Marx, sobretudo de O Capital, basta algum descortino...

Sem embargo, Paulo Roberto de Almeida não parou por aí. Tendido o cordão sanitário em torno do legado de Marx, o cioso diplomata revela agora, com toda a clareza, outra faceta (já antes esboçada, mas de modo velado!): a de provocador. Contrariando a expectativa que se tem dos egressos do prestigioso Instituto Rio Branco, o Diplomata Almeida não revela qualquer politesse ao “resenhar” na REA nº 84, de maio do corrente, o livro Incontornável Marx, organizado por Jorge Nóvoa. Decerto que não há nada de errado na emissão de comentários críticos acerca de uma obra resenhada, porquanto não se exige de quem escreve uma resenha uma postura neutra. Pelo contrário, é desejável que emita uma opinião argumentada, se favorável ou desfavorável, pouco importa. Porém, coloco o “resenhar” entre aspas porque em momento algum o articulista expôs o conteúdo do livro, apenas limitou-se ao vitupério e ao achincalhe, confundindo imprensa marrom com revista acadêmica (e isto caberia aos editores da REA impedir!)[2].

Sua tese, ou melhor, sua obsessão, que começa no deselegante e desrespeitoso título, Marxistas totalmente contornáveis, parece ser a de demonstrar que Marx é um autor completamente defasado, sem qualquer valor atual e que o interesse por sua obra se confinaria a nostálgicos empedernidos e sádicos[3]. Ensandecido pelas próprias diatribes, o cioso diplomata, convertido agora em paladino da causa do capitalismo, atropela o conjunto dos colaboradores do livro, nacionais e estrangeiros, alguns de grande nomeada, com uma enxurrada de adjetivos. O menos defenestrado por suas invectivas foi Michael Löwy, cujo texto, no entanto, se enquadraria, segundo o intrépido diplomata, na categoria “arqueologia marxista”... Porém, a apoteose da “resenha” é o seu grand finale, quando o Diplomata Almeida deixa cair a máscara e se converte em bufão, esquecendo completamente que o debate de idéias, pelo menos no seio da academia (e de publicações como a REA), deveria estar pautado pelo respeito (se é que se quer verdadeiramente debater), e conclui com a seguinte pérola de rasteira grosseria: “Pessoalmente, não creio que o conteúdo ontológico deste Marx “incontornável” valha o preço do papel no qual ele foi impresso. Pelo peso do volume, ele deve valer bem duas ou três pizzas em algum micro-empreendimento capitalista: assim, o seu dinheiro estará muito melhor empregado. O livro não é apenas contornável e dispensável: ele é totalmente indigesto. Melhor ficar com a pizza...”

Pergunta-se: se Marx e seus seguidores são carta fora do baralho da história, porque tanto empenho em atacá-los? Não se pode imaginar que o cioso diplomata não tenha nada melhor a fazer em seus momentos de ócio do que vituperar e achincalhar superados jurássicos... Pelo contrário, a provocação não parece um destempero gratuito, mas a obra de alguém obcecado e que tem um alvo a atingir. Pelo ânimo virulento da linguagem empregada depreende-se que o Diplomata Almeida arvora-se em paladino de uma causa. Qual seria ela?

Algumas pistas podem estar no mesmo número da REA (84, de maio de 2008) que contém a aludida “resenha”. Num artigo intitulado As roupas novas do império: 21 teses rápidas Paulo Roberto de Almeida declina aos leitores da revista algumas pérolas de seu ideário. Em suas próprias palavras: “Um império é, basicamente, um sistema extrator de recursos por meio da coerção, o que não ocorre no caso dos EUA, que estão comprometidos com valores e princípios condizentes com a liberdade de mercados e as franquias políticas democráticas. Qualquer afirmação em contrário teria de comprovar que as ditaduras que os EUA apoiaram em várias partes do mundo, na era da Guerra Fria, foram obras construídas consciente e deliberadamente pelos EUA para assegurar um tipo qualquer de extração de recursos por via da coerção militar”.

Por mais admiração que se tenha pelos Estados Unidos e, sobretudo, pelo povo e cultura norte-americanos (e este é o meu caso pessoal!), só alguém cegado pelo fanatismo poderia afirmar uma coisa assim, quando os contra-exemplos são tão evidentes. Como o Diplomata Almeida classificaria a invasão do Iraque? Em nome da defesa de que “valores”? Ou seria das receitas das empresas apaniguadas da Casa Branca? Ou do controle do petróleo iraquiano? Quais “franquias políticas democráticas” são defendidas no Iraque? E em Guantánamo? Ou há algumas décadas foram defendidas no Vietnam? Será pela defesa da “liberdade de mercados” que o etanol brasileiro encontra barreiras no mercado americano? Seria infindável continuar com os contra-exemplos... Porém, a segunda parte da assertiva mereceria um rápido exame. Contudo, para não cometer a indelicadeza de pontificar sobre outros países, seria melhor circunscrever o debate ao caso do Brasil, nação à qual o Diplomata Almeida é pago para servir.

Hoje, em virtude da documentação disponibilizada, não há mais qualquer dúvida acerca da ingerência dos Estados Unidos em apoio à quartelada que feriu de morte a ordem constitucional brasileira em 1964 e isto foi feito tão “consciente e deliberadamente” que o próprio Embaixador Americano no Brasil à época, Lincoln Gordon, admitiu sua atuação em favor dos golpistas. Imaginar que a participação americana na quartelada foi em defesa das “franquias políticas democráticas” dos brasileiros e que isto não propiciou a “extração de recursos” do país é de uma “ingenuidade” comovente! Só um fanático, obcecado por uma idéia, pode ter uma leitura tão tortuosa da realidade. Contrariando toda a evidência empírica o destemido Diplomata Almeida perece acreditar que a Grande Nação Americana é a própria manifestação terrena da Liberdade. Em suas palavras: “Nesse sistema de portas abertas, a única “ditadura” suscetível de ser criada pela hegemonia dos EUA é aquela que destrói todas as ditaduras. Estas são as bases indiscutíveis do “império” americano: a livre circulação de fatores de produção e de produtos da inteligência e da criatividade humanas. Esse é um sistema destruidor de todas as hegemonias conhecidas historicamente. Mas quem destrói todas as velhas hegemonias não é o poder comercial ou econômico dos EUA, e sim a força das suas idéias, idéias muito simples: liberdade de iniciativa, liberdade política, liberdade de acumular e de circular riquezas”. Fica aqui a pergunta: se as idéias americanas são assim tão fortes, porque precisam de tantas armas?

Chega a ser tocante, porém, pouco realista, a admiração que o Diplomata Almeida nutre pelos Estados Unidos (aliás, por mim compartilhada, porém sem este viés fanático e fundamentalista) e é de se perguntar se isso não lhe causa nenhum conflito íntimo quando seu desempenho como diplomata o obriga a defender os interesses nacionais frente aos do país que tanto idolatra, a menos, é claro, que pense como o notório político que não teve qualquer pejo em afirmar que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”... Em países menos tolerantes que o nosso este tipo de amor obcecado a uma potência alienígena pode ser considerado traição à pátria, sobretudo quando envolve pessoal do seu corpo diplomático. E os próprios Estados Unidos, por exemplo, não costumam ser muito indulgentes com seus concidadãos envolvidos neste tipo de conflito de interesses.

Em sua idolatria, talvez ao Diplomata Almeida não lhe ocorra interrogar-se, por exemplo, acerca do caráter intrinsecamente antidemocrático do sistema eleitoral americano, pelo menos quando comparado ao brasileiro. Em nosso país (sem deixar de reconhecer as imensas imperfeições do sistema político brasileiro), porém onde tivemos uma vasta campanha popular em prol de eleições diretas, o sistema americano de eleições indiretas não pode despertar muitas simpatias. Ter um presidente eleito com menos votos do que seu contendor, como foi o caso de Bush II em seu primeiro mandato (sem falar da fraude, notadamente na Flórida onde seu irmão era o Governador) não pode ser muito edificante para quem pretenda exportar democracia... E a Liberdade de que fala Paulo Roberto Almeida não pode ser abstrata, seria algo demasiado paradoxal para a nação berço do pragmatismo. Não obstante, é possível que muita gente nos próprios Estados Unidos ou alhures (sob os influxos dos mesmos) não consiga experimentar esta Liberdade na prática, talvez por isso a população carcerária americana seja tão grande e o recurso à pena de morte tão utilizado!

O Diplomata Almeida, em seu fundamentalismo maniqueísta, habita em um mundo nostálgico da Guerra Fria. Se ela não existe mais, torna-se mister recriá-la! Há um tocante simplismo hollywoodiano em suas colocações. De um lado, o bem e o Sétimo de Cavalaria; do outro, o mal, índios, comunistas e quejandos... Porém, só a crassa desinformação e a cegueira do fanatismo puderam conduzir o intrépido combatente da Guerra Fria rediviva ao equívoco de afirmar que: “As ações “Marx” estão indiscutivelmente em baixa no mercado”. Ledo engano Diplomata Almeida! Jamais os estudos sobre Marx tiveram tanto impulso! A retomada do projeto editorial de publicação do conjunto da obra de Marx e Engels na última década do século passado já começa a produzir frutos[4] e, na contramão dos desejos do nostálgico diplomata, há um expressivo movimento de retomada nos estudos sobre a obra do ilustre pensador renano. À esteira da Marx-Engels Gesamtausgabe os projetos de tradução também proliferam. Acaba de ser lançado na Sorbonne, em Paris, o projeto GEME (grande édition Marx et Engels) que pretende efetuar uma nova tradução das obras desses autores em francês, proporcionando, a partir de 2010, uma edição eletrônica das obras. Na Itália, Edizioni "La Città del Sole" retomou a publicação das Opere complete di Marx ed Engels (e já vai pelo vigésimo segundo volume!) . No Brasil há um visível incremento no número de títulos de Marx disponíveis no mercado editorial, para não falar de obras sobre o pensamento de Marx como o Incontornável Marx, cuja primeira tiragem esgotou-se...


* Professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal da Bahia e autor, entre outras obras, de Os Mercadores, o Templo e a Filosofia: Marx e a Religiosidade, Coleção “Filosofia” nº 181, Porto Alegre, Editora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Edipucrs), 2004.

[1] O Livro I de O Capital conheceu três versões quando Marx ainda em vida. A primeira delas, em alemão, veio a lume em 1867. Sucederam-na a 2ª edição alemã (que comporta diferenças muito importantes com relação à 1ª), publicada em fascículos entre 1872 e 1873, e a versão francesa, traduzida por Joseph Roy, mas substancialmente reformulada pelo próprio Marx, e publicada, também em fascículos, entre 1872 e 1875.

[2] O zelo pela qualidade do material publicado não deve ser confundido com censura. Permitir que as páginas de uma revista acadêmica respeitada sejam conspurcadas por um provocador raivoso é um sério desserviço à idoneidade da mesma.

[3] Segundo o cioso diplomata, paladino de indefesos estudantes, nas garras dos perversos marxistas, “As ações “Marx” estão indiscutivelmente em baixa no mercado [...] são valorizadas na academia – hoje, talvez, como método de tortura de estudantes que sequer sonham em ser socialistas –, mas não correm o risco de passar ao setor real da economia, pois seriam rapidamente remetidas às camadas geológicas do capitalismo pré-cambriano, quando não tomadas como brincadeira de sonhadores incuráveis”.

[4] A Marx-Engels Gesamtausgabe, mais conhecida como Mega2, projeto abraçado pelo Internationale Marx-Engels-Stiftung (IMES), fundado com este propósito em 1990, com sede em Amsterdam, porém com o apoio de instituições de vários países, pretende publicar, pela primeira vez com critérios estritamente acadêmicos de rigor e cientificidade, a totalidade das obras de Marx e de Engels, já que as outras tentativas neste sentido quedaram inconclusas. Dos 114 volumes previstos (122 tomos), 52 volumes (56 tomos) já foram publicados (http://www.bbaw.de/bbaw/Forschung/Forschungsprojekte/mega/de/Ueberblick#Portug).


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