Powered By Blogger

quarta-feira, novembro 05, 2008

Correio Popular de Campinas, 05 de novembro de 2008

Publicada em 5/11/2008


Interrogações perigosas

Roberto Romano

A Justiça Eleitoral suscitou debates por ter monitorado a internet na última campanha. A rede é um meio como os demais (rádio, TV, impressos). Talvez ela seja mais desafiadora para a vigilância pública, sobretudo em relação à privacidade do leitor/eleitor. Se o spam é um pesadelo, imaginemos a invasão das caixas postais eletrônicas. Na internet, proliferam seitas, incluindo as políticas. A propaganda eleitoral sem ordem legal ou cuidados éticos pode aumentar os maniqueísmos. Trata-se de tecnologia sofisticada que ainda precisa passar por muitos testes. Talvez a hipótese de se fazer grandes debates virtuais permita administrar os ataques pequenos, em favor das idéias. Por enquanto, nem políticos nem Justiça Eleitoral mostraram capacidade para gerir a propaganda política na rede, o que resulta em bisonha censura. Vejamos agora: qual seria a importância das eleições municipais?

Aqueles embates definem as bases efetivas dos partidos no País. Os que elegem maior número de prefeitos contam com território de onde podem aplicar estratégias amplas, na conquista do poder federal. Num jogo de guerra, o município seria o princípio e fim da batalha. Sem ele, o partido pode ser força, mas tem bases frágeis. Os candidatos da oposição ou do governo cujas hostes obtiveram mais prefeitos terão vantagens operacionais. Dilma Roussef, Aécio Neves ou José Serra (principais nomes em cogitação) precisavam vencer o maior número de pleitos municipais. Tanto o PSDB quanto o PT garantiram aquelas bases. Serão elas suficientes, sobretudo se for pensado o peso do PMDB, novamente campeão de pleitos? E Lula, garante 2010?

Um líder pode ostentar prestígio pessoal e obter votos. Mas ele só os transfere para quem tiver capacidade similar de atrair votos, ou que possua máquina partidária eficaz, com muito dinheiro e propaganda etc. Se um político não possui carisma, ele terá muitos problemas para ser eleito, apesar de apoios relevantes. E a lista dos sujos?

Com os avanços tecnológicos, a mídia, a escolaridade, as crises políticas, os eleitores chegaram a um patamar superior de reflexão. ONGs, promotores e juízes enfatizam o desastre da política corrupta. O que emperra a passagem a melhores resultados eleitorais dos candidatos honestos é a estrutura oligárquica, anti-democrática e conservadora dos partidos. Estes últimos são capitanias hereditárias. Filhos sucedem os pais, velhos donos de siglas e alianças. Os dirigentes não consultam eleitores (inexiste no Brasil algo como as eleições primárias) e controlam a vida interna das agremiações. Só com uma democratização radical dos partidos teremos resultados melhores do que os vistos agora, com o corte de vários corruptos. O privilégio de foro incentiva a corrupção. Improbos e impunes movem, na ordem pública e nos partidos, recursos estratégicos em eleições caras. E a propaganda indecorosa?

A agressão se voltou contra o PT paulista. A candidata, em seu governo, fez ouvidos de mercador às críticas. Esbanjou também imprudência com o “relaxa e goza”. A frase veio em momento aziago: mortos sucederam ao cinismo. Quem brinca em funeral, perde simpatia. No Rio, as táticas usadas tiveram resultados eficazes contra Gabeira. Tais frutos são venenosos para quem os saboreia. No caso de Collor, sua propaganda contra Lula se voltou contra ele já na presidência. Usuário de golpes baixos, tal figura o marcou com o corrupto e cínico. E hoje ele integra a base aliada dos que, naquele tempo, parolavam sobre ética. A psicologia das massas tem surpresas para os que arriscam produzir de si mesmos imagens contrárias ao ideal de retidão, prezado pelo eleitor médio. E o PMDB?

Aquele partido é uma federação de oligarquias que sai forte das eleições municipais, mas sem líder nacional que chegue ao Planalto. O nome de Aécio Neves, bem examinado pelos oligarcas do PMDB, terá peso vital nas eleições de 2010. Serra poderá ter o PMDB paulista, mas não garante o nacional. Última pergunta: como explica o governo, agora, a doutrina metafísica à la Duda Mendonça, sobre a marola da crise? Na França, o ridículo mata. Aqui, engorda.

Arquivo do blog