EDIÇÃO EXTRA - NOTÍCIAS DA RUA JUDAICA
BRASÍLIA - Comissão de Constituição e Justiça do Congresso Nacional-
12/11/08 - Audiência Pública
DEBATE ENTRE CHANCELER EM EXERCÍCIO SAMUEL PINHEIRO E DEPUTDO MARCELO
ITAGIBA
Deputado Federal Marcelo Itagiba (PMDB/RJ): Fiz um pronunciamento,
recentemente, e preocupa-me as relações do Brasil com um país que
propugna o fim de outro país, que nega fatos que hoje são notórios no
mundo, que é o caso do Irã, que recentemente, infelizmente, recebeu a
visita do Chanceler Brasileiro - Celso Amorim. Esse país não quer se
inserir no mundo, a partir do momento em que nega a existência do
holocausto e a morte de 6 milhões de judeus durante a 2ª guerra
mundial. Procura ser potência atômica com um único objetivo declarado
por seu presidente Ahmadinejad, que é o de jogar uma bomba atômica e
varrer do cenário das nações, o Estado de Israel. Então, dentro desse
contexto, eu pergunto em que sentido a política do Itamaraty vem
mantendo conversações com esse tipo de indivíduo, embora presidente de
um país, propugna o extermínio, a extinção de um outro país, e nega um
fato público e notório do maior massacre da humanidade que foi a
matança de 6 milhões de judeus. Então, no meu entender, há outros
interesses, mas, no meu entender, não representa os interesses de uma
nação que participou da 2ª guerra, combateu o nazi-fascismo e teve o
Itamaraty, que foi decisivo pela competência de seus diplomatas na
constituição do Estado de Israel, na célebre votação ocorrida na sede
das Nações Unidas, da partilha da Palestina, que teve como presidente
um brasileiro - Oswaldo Aranha-, e que teve o suporte e o apoio de
todo o Itamaraty de então. São as minhas colocações que me parecem de
extrema importância, não só para esta Câmara dos Deputados, não só
para as relações internacionais do Itamaraty, mas também para os
interesse empresariais brasileiros...
Ministro Interino das Relações Exteriores - Embaixador Samuel Pinheiro
Guimarães- Nós não prejulgamos os regimes políticos de outros países.
Assim como queremos não que o nosso regime seja julgado. Não nos
interessa saber se é um regime parlamentar, presidencial; mais ou
menos democrático. Nas Relações Internacionais nós respeitamos um
princípio da Constituição, que fala da autodeterminação dos povos.
Então, nós o respeitamos. Podemos até ter opiniões diferentes, e não
interferimos. Achamos extremamente perigoso para a estabilidade
internacional quando países não seguem esse princípio, de forma mais
correta. Temos visto, recentemente, graves perturbações da ordem
internacional pelo desejo de organizar outros países. No caso
específico do Irã, nós temos um comércio extremamente importante com o
Irã, talvez o país do extremo oriente com maior comércio com o Brasil.
E com um superávit extraordinário de mais de 1 bilhão de dólares; acho
que cerca de 1 bilhão e 300, e nós importamos valores muito pequenos
do Irã. Em certos países o comércio exterior tem maior ou menor
interferência do Estado, nós, por outro lado, consideramos que o Irã
deve ser mais transparente em seu programa de enriquecimento nuclear
e achamos que tem havido algum progresso nas relações entre Irã com a
Agência Internacional de Energia Atômica, quanto a esta transparência.
Não foi provado, até o momento, que o programa de enriquecimento
nuclear do Irã tenha fins militares. A própria Agência não fez nenhuma
declaração a respeito. Existe um programa de enriquecimento nuclear
como existe no Brasil. Nós sabemos que o nosso não tem fins militares
e a Agência não constatou isso até o momento. E como há acordos
internacionais de enriquecimento nuclear, nós respeitamos esses
acordos de desenvolver a tecnologia de enriquecimento, que é de nosso
extraordinário interesse, tendo em vista termos a 6ª maior reserva de
Urânio do mundo e nós só mapeamos geologicamente 25 % do território
brasileiro. Dominamos todo o ciclo da tecnologia do enriquecimento e
temos um mercado interno cada vez maior, na medida em que consigamos
absorver; absorver não, incorporar ao sistema produtivo, uma grande
parte da população com baixos níveis de produtividade. No momento que
essa população for incorporada, basta imaginar multiplicar a população
brasileira pela renda per capita média dos países desenvolvidos, isso
significa um produto interno bruto muito maior que hoje. A nossa renda
talvez seja de uns 7 mil dólares. A renda per capita média da OCDE
deve estar por volta de 30 mil. Portanto, 4 ou 5 vezes maior. É como
se o nosso produto interno bruto fosse 4 ou 5 vezes maior. Com isto, o
nosso consumo de energia teria que ser muito maior. Hoje , a energia
nuclear é objeto de interesse internacional; mesmo os países que
tinham proibido, já anunciaram que vão retomar seus programas
nucleares. Os Estados Unidos anunciaram que vão construir 100 usinas
nucleares; até a Inglaterra, Alemanha tem reativado seus programas
nucleares. Esse é um tema de grande sensibilidade para nós.
Deputado Itagiba: Embaixador: Parcerias econômicas são importantes,
mas gostaria que o Itamaraty tivesse uma posição firme - e isso é um
desejo do parlamentar-, no sentido de dizer que não é possível negar a
existência do Holocausto e muito menos pretender varrer a existência
um país que é amigo do Brasil, e pelo qual o Brasil votou por sua
existência. E que esse país deva ser varrido do mapa. O que nós
esperávamos é que o Itamaraty, a despeito de seus interesses
comerciais, que defende os interesses do Brasil, esperamos, também,
que defenda o direito dos judeus do mundo de existirem e do Estado de
Israel continuar a existir.
Embaixador Samuel - Nós defendemos, certamente, o direito do Estado de
Israel existir. Termos uma posição extremamente firme contra a
xenofobia, contra qualquer discriminação religiosa, e nos manifestamos
sempre nesse sentido e dentro da sociedade brasileira o governo
procura, faz um esforço grande nessa questão de xenofobia,
discriminação racial e religiosa ou étnica.
Deputado Itagiba: Embaixador fico muito feliz com essa declaração de
Vossa Excelência, e espero que sempre que se faça um contato com
Ahmadinejad e com o Irã, essa questão seja explicitada de que nós não
concordamos com a negação do Holocausto e muito menos que Israel seja
varrida do mapa.
Embaixador Samuel - Como o senhor sabe, deputado, nós temos as
melhores relações com o Estado de Israel. Não há nenhuma queixa do
Estado de Israel quanto ao comportamento do governo brasileiro.
Deputado Itagiba - Foi o que eu ouvi do representante que foi chamado
ao Itamaraty para dar suas explicações, que de alguma forma fez alguma
declaração indevida a respeito dessa visita ao Irã.
Embaixador Samuel - Quem? O representante de Israel? Ele não pode se
manifestar sobre a política do governo brasileiro, como nós não
podemos nos manifestar sobre a política de qualquer país. O nosso
representante não se manifesta sobre a política do Estado de Israel.
De qualquer país que seja. Ele não pode, não deve, não é desejável que
ele se manifeste sobre a política exterior do Brasil, ou sobre
qualquer setor. Não importa!
Deputado Itagiba - Não há a menor dúvida que Vossa Excelência colocou
muito bem. Ao mesmo tempo em que Vossa Excelência diz que eles estão
de acordo, me parece que eles não estão tão de acordo assim, ao fazer
um pronunciamento como aquele. Muito obrigado por suas explanações.
Roberto Romano Moral e Ciência. A monstruosidade no sec. XVIII
Silence et Bruit. Roberto Romano
quinta-feira, novembro 13, 2008
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