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sábado, março 01, 2008

Um exercício de lucidez e independência, no Blog

Adolfo Sachsida - Opiniões.

http://bdadolfo.blogspot.com/2008/02/entrevista-com-orlando-tambosi.html

Sexta-feira, 29 de Fevereiro de 2008
Entrevista com Orlando Tambosi

Orlando Tambosi é autor do excelente blog: http://otambosi.blogspot.com/ recomendo a visita.


1) O ex-presidente FHC disse que não existem diferenças ideológicas significativas entre o PT e o PSDB. O Sr. concorda com ele? Se FHC acha isso mesmo, então por que ele sempre se aliou ao DEM e não ao PT? O que podemos inferir a partir da afirmação do ex-presidente?

R.: Se FHC reconhece isto, é porque não há mesmo muita diferença. Na verdade, sempre o vi como uma espécie de padrinho de Lula. Foi até paternalista com ele, quando deveria era dar cascudos. O fato é que PSDB e PT têm a mesma origem, a luta contra a ditadura. São primos, como já disse o amigo Roberto Romano. Daí se explica a dificuldade de o PSDB assumir uma posição mais agressiva em relação ao governo Lula. Falando mais claro: assumir um papel de oposição de fato, coisa que até agora não demonstrou ser. Devido a essa ambigüidade, fez alianças com partidos, como o hoje DEM, para sobreviver depois da derrota eleitoral. Talvez, no início, FHC subestimasse a sede de poder e de cargos do petismo. Ora, o PT é hegemonista, jamais cede aos aliados. Compra-os, usa-os, mas não partilha realmente o poder. Seguindo o raciocínio de FHC, não é de estranhar que em Minas, por exemplo, esteja se formando uma aliança entre o tucano Aécio Neves e o PT local. Não tenho dúvida, porém, de que ela trará mais benefícios ao petismo que ao PSDB.

Por fim, acho que é necessário fazer também uma distinção – que não é superficial – entre PSDB e PT. Há que se reconhecer que os tucanos foram e são menos autoritários que os petistas. O PSDB nunca representou um perigo para as instituições e regras democráticas, ao contrário do PT, que, no fundo, despreza a democracia, considerada “burguesa”, “formal” etc. Nos últimos anos, já vimos diversas investidas do PT contra as liberdades.


2) Fidel Castro é um assassino, por que é tão difícil as pessoas, não só no Brasil mas ao redor do mundo, aceitarem isso?

R.: O ditador Fidel Castro marcou indelevelmente o imaginário das “esquerdas” latino-americanas (mas há
também os “idiotas” europeus, como ilustra o livro “A volta do idiota”). Mostrou que era possível enfrentar o “império” e encarnou os ideais revolucionários dos anos 60, com suas toscas utopias de sociedade perfeita, justa, igualitária, sem classes etc. Os acontecimentos de 1989/1991 – queda do muro de Berlim e desmoronamento da URSS – jogaram por terra essas idéias, mostrando os horrores que haviam produzido, mas não eliminaram o culto ideológico de grande parte das “esquerdas” à ditadura comunista remanescente, justamente a de Fidel Castro. Não é fácil desvencilhar-se de ideologias; elas confortam espíritos menos inquietos e mais arredios ao conhecimento. Por isso mesmo, é em países atrasados - como os latino-americanos -que as ideologias ainda sobrevivem.


3) O Islã se diz uma religião pacífica, mas seus líderes parecem não recriminar de maneira explícita terroristas como Bin Laden. Por que?

Sempre se falou que existe o Islã moderado, mas a verdade é que, até hoje, ele não mostrou a cara. Se os ditos moderados não condenam o terrorismo, é sinal de que, no fundo, o aprovam. O fato é que o islamismo é avesso aos valores ocidentais, com os radicais difundindo, a partir da Arábia Saudita, uma cruzada contra o odiado Ocidente.
Ayaan Hirsi Ali, que viveu o islamismo, revela em seu belo livro (“Infiel”, SP, Companhia das Letras) que o Islã é incompatível com a democracia. Ela é somali, mas viveu algum tempo na Arábia e em outros países muçulmanos e teve a coragem de dizer que o pensamento reinante sob as leis do Corão é incompatível com os direitos humanos e os valores liberais. Esse tipo de pensamento – são palavras dela – “preserva uma mentalidade feudal arrimada em conceitos tribais de honra e vergonha. Apóia-se no auto-engano, na hipocrisia e em padrões dúplices. Depende dos avanços tecnológicos ocidentais ao mesmo tempo que finge ignorar sua origem no pensamento ocidental. Nessas sociedades, a crueldade é implacável; e desigualdade, a lei da terra. Os dissidentes sofrem tortura. As mulheres são policiadas tanto pelo Estado quanto pela família, à qual o Estado outorga o poder de lhes governar a vida”. Ora, que religião pacífica é esta, e onde estão os moderados?

4) Por que a filosofia alemã (geralmente enaltecendo o Estado) e não a inglesa (geralmente enaltecendo a liberdade individual) prosperou no Brasil? É possível mudar isso? Como?

R.: O Brasil é um exemplo legítimo de Estado hegeliano: o Estado fundou a sociedade. Na tradição inglesa, ao contrário, é a sociedade que funda o Estado. Mas não diria que o nosso estatismo seja culpa da filosofia alemã. Somos herdeiros da cultura católico-ibérica, antiliberal, anti-reformista, imposta a ferro e fogo pela inquisição. Espanha e Portugal lutaram contra a modernidade e foram os países mais atrasados da Europa até quase o final do século XX. Foram, inclusive, os últimos a se livrarem de ditaduras. Essa é a cultura latino-americana. O Estado é pai e provedor, o coletivo está sempre acima do individual. O individualismo é visto como um mal a ser extirpado.

A igreja católica – ponta de lança da contra-reforma - contribuiu muito para esse pensamento. A riqueza é hostilizada, o mercado é mal visto e o lucro é coisa do demônio. Não há lugar para o indivíduo nessa visão paroquial do mundo. Depois, para completar o quadro, surgiram as idéias socialistas, mais uma vez reforçando o nosso estatismo e colocando o Estado como propulsor da economia. O PT é o desfecho disso tudo.

Não sou culturalista, mas acho que a cultura é um fator que pode tanto libertar quanto criar sérios obstáculos. No nosso caso, foi um obstáculo. É possível mudar? É, mas a luta é gigantesca e sem prazo. Autores e idéias liberais são praticamente desconhecidos por aqui, mesmo dentro das universidades. Em todos os setores, impera um ideário mais ou menos marxista. É preciso começar essa mudança já nas escolas, desde o primário. Não bastam os jornais, a televisão e a internet. Por aí se vê a enormidade da tarefa.

5) Se você pudesse aprovar uma única lei no Brasil, qual lei seria essa?
R.: “Ficam extintos todos os cargos comissionados no Executivo, Legislativo e Judiciário”.

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