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domingo, julho 08, 2007

Uma citaçao e um recado, no Blog Republica de Itapeva !

DEPUTADO BOM É O QUE TRAZ VERBA PARA A REGIÃO...


"O filósofo Roberto Romano vai até o início da República para mostrar que a corrupção é parceira antiga. Naquela época já havia o preceito segundo o qual o bom deputado ou senador é aquele que traz para sua região ou cidade uma ponte, um hospital, uma escola com verbas do Orçamento Geral da União. É a lógica do imediatismo da sobrevivência política. Os eleitores votam nos corruptos que pegam, para si mesmos, o pedágio do retorno dos tributos cobrados nos municípios e estados. Mas não dá para dizer que a população é corrupta por eleger os políticos corruptos que atuam dentro dessa lógica”,assinala o acadêmico. Ele lembra que quem não faz isso morre. Um político ortodoxo do ponto de vista da ética não votará nos projetos do Executivo só para ter as verbas de suas emendas orçamentárias liberadas, mas também não vai levar a creche e não será reeleito."

Professor, a coisa tá ficando cada vez mais sofisticada. Por estas bandas, os prefeitos andam nomeando cabos eleitorais dos deputados como secretários municipais. Os secretários-cabos-eleitorais funcionam, em Brasília, como embaixadores junto ao "seu" deputado atrás de verba. Na região, funcionam como cabos eleitorais, faturando politicamente as obras, aparecendo em fotos nos jornais. São ligados aos principais deputados (leia-se: os que trazem mais verba): Arlindo Chinaglia, Milton Monti ...
Algum deputado da oposição? Sem chance, oposição não consegue liberar verba! Tem que votar com o governo para ter verba liberada!

Comentário:

Pois é, caro Sebastião Loureiro, quem disse que aos nossos políticos carece criatividade? Quando se trata de treta, eles são verdadeiros gênios. Mas se inventam, é sempre a partir de uma pauta, da qual se aproveitam os filhos da pauta, para gerar novos métodos. A pauta chama-se Brasil Imperial, onde tudo é concentrado no poder nuclear, em evidente despostismo. Montesquieu dizia que países imensos não podem ser governados republicanamente, mas apenas de maneira despótica. Jiusto por tal motivo, a Federação foi uma espécie de reinvenção moderna, para diminuir os males do despotismo. Mas aqui, a Federação é conto da carochinha. Os municípios e os Estados são apenas nominalmente autônomos, sobretudo nas finanças. Quem não é amigo do Imperador não tem recursos. Oposição é coisa proibida.

A cada instante me convenço mais de que, infelizmente, tenho alguma razão. O Brasil é um caso de retomada tardia do absolutismo. Como fomos instaurados, como forma estatal "independente" para combater os frutos das revoluções inglêsa, francêsa, norte-americana, tudo aqui vai contra o princípio republicano e democrático, elementos que resultam do Estado de direito. Aqui não temos dirigentes políticos, temos enobrecidos que se tornam mais importantes do que os contribuintes. Veja agora, no apagão aéreo. A cidadania que paga as contas permanece nos currais ditos "salas de espera", mas os políticos, a começar com a Maria Antonieta indecente, só usam os aviões da FAB (Folha, 08/07/2007). Depois da desbocada e desrespeitosa madame, a lista segue com Patrus Ananias, e quejandos. No Ancien Regime, os nobres tinham privilégios de roupa (certas cores e cortes eram destinados apenas para eles, donde o espetáculo cinzento do Terceiro Estado, sempre vestido de preto e branco...), de lugar, de condução, etc.

Como os nossos políticos são tudo, menos nobres, é difícil encontrar um estamento para eles. Eu diria que se trata de um coletivo oligárquico, que integra círculos de poderosos nacionais, regionais, locais, paroquiais. Com privilégio de foro, o que lhes dá salvo conduto para delinqüir, com aviões privados (mas do governo), com locais destinados apenas a eles (a sala mais do que Vip do aeroporto de Brasilia, entre várias), aqueles políticos constituem um Estado dentro do Estado, como por exemplo as facções criminosas que arrancam do poder público parcelas de soberania territorial, etc.

Falta muito, muito mesmo, para o Brasil chegar às modernas formas de administração, legislação, justiça. Só resta aos inconformados ou sonhadores, gritar "Aqui d´El Rey" e fugir rumo à Africa. No Brasil, os Quixotes são raros, os salafrários se reúnem em legiões. Como diz Elias Canetti, a massa dos salafrários que ocupam cargos públicos, é escura de tanta gente.
Nada, aliás, que não tenha sido invectivado pelo Padre Vieira quando fala dos "pegadores" (os chaleiras palacianos de sempre) e dos "laterones".

Deus nos proteja.

Roberto Romano

E por falar no Ser divino, é um escracho a colocação do Cristo entre as 7 Maravilhas. Quem possui conhecimentos histórico sabe perfeitamente que aquela estátua surgiu na onda do movimento contrário ao Estado democrático, com o romantismo conservador que infestou a Europa e o mundo no final do século 19 até os inícios do século 20. A Santa Madre, na campanha contra o liberalismo e demais movimentos políticos opostos ao nexo trono/altar, em campanha virulenta, inventou a "soberania espiritual" para controlar os Estados. Vêm daí as enormes procissões em favor do "Cristo Rei", nos Congressos Eucarísticos nacionais e internacionais. Vêm daí as "consagrações" de países ao Sagrado Coração de Jesus, como é o caso daquele bolo de noiva horroroso, a Igreja do Sacré Coeur, em Montmartre, Paris (no filme de Buñuel, "Estranhos Caminhos de São Tiago", há uma cena impagável com Monica Vitti, sobre o caso). Assim, a Belgica foi "consagrada", o Equador e....o Brasil, pois o Cristo Redentor do Rio de Janeiro é um Sagrado Coração de Jesus. Assim, aquela estátua é um símbolo da luta eclesiástica contra a democracia e contra tudo o que significa Estado democrático de Direito. Maiores informações sobre o período e a política eclesiástica daqueles dias, leia-se de Romualdo Dias "Imagens de Ordem" (Ed. Unesp, SP) com prefácio de Roberto Romano. Este livro é o resultado de um doutoramento dirigido por mim na Unicamp.

A "maravilha" consagra tudo o que o Brasil é: um Estado não democrático, carola, hipócrita, mentiroso, sem justiça ou lei. A maravilha abençoa, na verdade, tudo o que ocorre sob os seus braços (obrigado, Orlando Tambosi). A maravilha e a terra dos privilégios ao modo do Ancien Regime, formam uma simbiose perfeita, são "unum atque idem".

Bom domingo, com muitas maravilhas para todos os que festejam a "vitória" do Brasiu, neste campeonato de teratologias políticas.

Roberto Romano

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