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quinta-feira, julho 19, 2007

Os herdeiros de Luis 14 e de Goebbels

A propaganda, forma complexa da sofística estatal, foi inventada no Antigo Regime francês, pelos (digamos assim) marqueteiros de Luis 14. Basta ler qualquer análise daquele governo para perceber a sua "modernidade". O livro de Peter Burke, A Fabricação do Rei (Rio, Zahar Ed.) ainda é um marco importante no campo analítico. Tudo era feito para exaltar a figura real, das instituições artísticas às científicas, destas à intervenção econômica, bélica, etc. O marketing daquele que disse, numa frase bem ao gosto da propaganda que "l´État c´est moi" foi eficaz. Ajudou a França a definir sua unidade interna, com muita repressão auxiliando, e a determinar seu espaço na Europa —após o Tratado de Westphalia— segurando a Espanha e as pretensões dos Habsburgos de manter um poderio imperial. Os filósofos das Luzes, adversários do absolutismo, aprenderam a lição dada pelo Estado. Eles usaram a propaganda de modo intenso, para obter seu fim duplo, o afastamento do poder religioso do espaço público e a democratização liberal na política laica. A técnica da propaganda das Luzes foi bem analisada por Erich Auerbach em capítulo de seu monumento, o livro intitulado "Mimesis" (São Paulo, Ed. Perspectiva, 1973). Alí Auerbach acerta as contas ao mesmo tempo com Voltaire e seus companheiros e com Goebbels. O livro foi terminado, recorde-se, após a 2 Guerra Mundial, quando ficaram patentes os malefícios da propaganda científica, conduzida ao modo nazista ou stalinista.

The Hidden Persuaders (1957) de Vance Packard é outro marco na análise da propaganda, agora conduzida ao mercado econômico, depois de estabelecer parâmetros permanentes na política, de Luis 14 a Hiltler e seu irmão gêmeo, Stalin. Some-se, claro, o número de todos os seus filhotes, dos quais dois ainda "vivem", Castro e o ditador da Coréia do Norte, com respingos pesados no regime de Pekin. De Vance Packard aos nossos dias, a midia tornou-se a cada dia mais complexa e inclusiva, com a internet sobretudo. As grandes massas ainda são tangidas pela propaganda em TV, rádio, jornais. Leia-se a PROPAGANDA DE HOJE (19/07/2007) EM TODOS OS GRANDES JORNAIS, DA PETROBRÁS, COM SUAS MENTIRAS SOBRE A TRANSPARÊNCIA E, PASMEM, A ÉTICA. Da chamada Escola de Frankfurt, devido ao seu irracionalismo larvar, sobram poucas contribuições efetivas para a análise da propaganda. A pesquisa sobre A Personalidade Autoritária, dirigida por Th. Adorno é relevante (The Authoritarian Personality, Studies in Prejudice, Paperback). Depois, o estudo de H. Marcuse One dimensional Man.( http://igw.tuwien.ac.at/christian/marcuse/odm.html). E segue-se o magistral livro de J.P. Faye, Théorie du récit, onde são esmiuçadas as técnicas de persuasão empregadas pelo nazismo. Como contributo independente, o trágico livro de Klemperer (Lingua Tertii Imperii). A bibliografia é imensa, destaquei apenas os textos que julgo os mais significativos e profundos.

Toda essa Introdução, deve-se à notícia que transcrevo abaixo, saída no Painel da Folha de São Paulo de hoje. O governo, com certeza ajudado pelos herdeiros do Agitprop a seu serviço, passou um boato (ouvi na TV, li nos jornais, como se fosse algo verdadeiro, pois a midia chapa branca é conditio sine qua non da propaganda enganosa do poder) segundo o qual a pista de Congonhas teria sido liberada, com base em laudo do IPT. A mentira aparece, clara, agora. A técnica empregada pelos marqueteiros (aliás, quem deveria ser infernizado pelas vaias não é tanto a criatura Lulla, mas os criadores Santana e seu predecessor amigo de Lulla) é a mesma descrita por Auerbach e por Faye. Este último narra como Bismarck, de um telegrama em que o presidente da França práticamente pede paz, faz uma declaração de guerra, com a tesoura. O maquiavélico chanceler cortou o começo do despacho e o fim...

É do mesmo jeito que a propaganda do governo agiu, age e agirá, enquanto a manada dos manipuladores não abandonar o Palácio do Planalto. Leiam a nota, e entenderão o que digo. A tesoura foi usada para fatiar datas, como Bismarck a usou para fatiar frases.

E boa semana para todos nós, que suportamos os manipuladores desta suposta república.

Roberto Romano


RENATA LO PRETE - painel@uol.com.br


Miragem

Citado extra-oficialmente pelo governo federal como prova de que Congonhas estaria em plenas condições de funcionamento, o laudo do IPT sobre a pista principal do aeroporto não existe. O instituto, ligado à USP, emitiu dois laudos sobre a pista auxiliar -o terceiro está previsto para hoje. Os relativos à pista principal, onde ocorreu o acidente com o Airbus da TAM, devem sair nos dias 27 deste mês, 7 e 17 de agosto.
Nenhum desses documentos trata ou tratará dos chamados "groovings" -ranhuras cuja ausência facilita derrapagens- nem têm caráter "deliberativo". Em texto redigido ontem para desfazer a confusão, o IPT explica que seu contrato com a Infraero prevê a auditagem de itens como a composição do asfalto, e não "emitir uma liberação formal da pista".

Digitais. O Palácio dos Bandeirantes enxerga o ministro Franklin Martins (Comunicação) na origem da história segundo a qual um laudo do IPT teria "liberado" a pista principal de Congonhas. "Estão tentando empurrar o problema para São Paulo", afirma o vice Alberto Goldman.

Empacou. Enquanto Lula faz "road show" pelos Estados para anunciar obras de saneamento do PAC, nenhum centavo dos R$ 350 milhões destinados pelo programa ao transporte aéreo -rubrica que abrange melhorias em aeroportos- foi pago, embora haja R$ 302,5 mil empenhados (com gasto autorizado).

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