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quarta-feira, julho 04, 2007

Sujeira e razão de Estado, no Correio Popular de Campinas 04/07/2007

Publicada em 4/7/2007

SUJEIRA E RAZÃO DE ESTADO

“Pertence à essência e ao espírito da razão de Estado que ela só possa sujar a si mesma ininterruptamente, ferindo a moral e o direito(...). Parece que o Estado deve pecar. Mesmo que o sentido ético se levante contra esta anomalia, a história mostra que o resultado de sua luta é sempre vazio”. (F. Meinecke, A Idéia de Razão de Estado, 1924). Estas frases indicam a sequência quase inevitável dos políticos adoecidos de “realismo”. Este termo, com sua doutrina, foi cunhado por A.L. von Rachau: “Dominar”, disse ele, “significa exercer o poder, mas só pode exercer o poder quem possui poder. Esta relação imediata entre poder e domínio constitui a verdade fundamental de toda política, a chave de toda a história” (Princípios de Política Realista Aplicados ao estado politico da Alemanha, 1835). A busca do poder pelo poder transformou muitos politicos brasileiros em bonecos sujos do realismo, quando não fez deles ricos larápios da riqueza coletiva. Excelente Jean Bodin: “Tirano é o que usa os bens dos governados, como se fossem seus”. Os brasileiros contemplam o espetáculo de Joaquim Roriz no Congresso, suportam suas lágrimas e invocações à Virgem Maria, reduzida à tarefa de sacralizar atentados ao direito público. Todos enxergam a tragédia de instituições estatais transformadas em sujeira, com a desculpa da razão de Estado. Tudo no Brasil adquire jeito hilário, basta recordar as falas de um parlamentar, irmão de líder petista, sobre os dólares na cueca do assessor: tratava-se de sublime razão de Estado...

O destino dos cátaros politicos é o mergulho na abjeta sujeira, essencial no “realismo”, onde se casam as concessões e os assassinato de princípios. Entre a idolatria axiológica, que impede qualquer efetivação dos valores, e a licença desavergonhada, os políticos repisam o vale-tudo para atingir o poder. Outro dia, depois de palestra que proferi a diretores de escolas públicas, uma dirigente do PT que vive no interior paulista me perguntou sobre o que poderia ser ideado para melhorar o nexo entre a base dos partidos e suas cúpulas. Isto porque analisei o teor oligárquico das agremiações políticas, nas quais a direção açambarca escolhas, recebe benefícios, desobedece programas. Dei como exemplo o PT, antes conhecido como partido onde os militantes tinham vez e voz, hoje notório por se dobrar diante das lideranças. Estas, não pestanejaram ao apoiar a “Carta aos brasileiros”, uma ruptura radical com o que foi pregado pelos petistas durantes vinte anos. A mencionada dirigente petista, com voz cúmplice, sentenciou no estilo dos companheiros: “o senhor sabe, melhor do que eu: sem a ‘Carta aos brasileiros” não haveria condições para se manter o governo”. É o realismo berrante. Todas as concessões são assumidas, desde que o controle permaneça no Partido. Tal lógica reduziu a Revolução de 1917 ao pior totalitarismo, fez dos militantes ventrílocos da vontade imposta pelas direções. Os líderes praticam a razão de Estado, com as sujeiras requeridas. Os adeptos elogiam a mesma prática, as concessões e os conciliábulos, atacam a dignidade dos que não aceitam a “linha justa”.

Quem hoje defende oligarcas novos e velhos, cujo maior feito é cobrir de excrementos a suposta república? As mesmas pessoas que, ontem, defendiam a “ética na política”. Renan Calheiros e Joaquim Roriz não constituem exceções. Eles simbolizam procedimentos gerais, pouco ortodoxos em termos éticos. E quem avaliza tais salvaguardas? Os realistas do PT que jogam no lixo o rubor da face e os valores, em nome do poder. Eles seguem o aviso de Bismarck, outro banhado pelas águas imundas da razão de Estado: “Quanto menos o povinho souber como são feitas as salsichas e as leis, mais dormirá tranqüilo.” Acrescentemos, com o sábio Anacharsis: “Leis são como teias de aranha que prendem os pobres e fracos, enquanto os ricos e poderosos as quebram facilmente”. É o que vemos na “ética” do Senado, com o apoio de petistas e de seus amigos.



O companheiro Renan, que tem a solidariedade plena da ex-falange angélica, hoje conhecida como "anjos da cara suja", ou seja, o PT, a principal organização política da ex-querda.

RR

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