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sexta-feira, dezembro 14, 2007

No Blog Republica de Itapeva, de Sebastiao Loureiro...

O Globo
Entrevista: Roberto Romano - 'Lula quis salvar o doente na hora do enterro'
Flávio Freire

SÃO PAULO. O processo conduzido pelo governo na tentativa de aprovar a prorrogação da CPMF no Senado foi recheado de equívocos, na opinião de um dos mais respeitados cientistas políticos do país, o professor de ética e filosofia da Unicamp Roberto Romano. Ao apontar erros que colaboraram para a derrota do governo Lula no Senado, ele avaliou como desastrosa a estratégia desesperada do presidente para convencer — com uma carta assinada de próprio punho pouco antes da votação — a oposição a mudar de lado: — Lula quis salvar o doente na hora do enterro.

Numa lista de atropelos que creditou ao governo, Romano criticou a tentativa de associar a votação da CPMF à manutenção de Renan Calheiros (PMDB-AL) no cargo de presidente do Senado, à falha de coordenação da bancada governista no Senado e à aposta excessiva no poder de pressão dos governadores sobre os senadores. Além disso, considerou um erro também a troca de ministro (Walfrido Mares Guia por José Múcio) “na hora do fogo” e a nomeação do “campeão de gafes” Guido Mantega como porta-voz da CPMF.

A seguir, trechos da entrevista com o cientista político

O EFEITO RENAN: “O governo foi perdendo o ímpeto de ação nesse processo quando decidiu unir a votação do projeto de prorrogação da CPMF à manutenção do Renan Calheiros no cargo de presidente do Senado.

Segurar o Renan no cargo fez o governo mais perder do que ganhar dentro do Senado, já que havia muita resistência em relação a esse assunto, principalmente junto à opinião pública

AS TRAPALHADAS DA BANCADA GOVERNISTA: “A bancada do governo no Senado não estava coordenada. Ao mesmo tempo em que havia uma tendência como Aloizio Mercadante e Eduardo Suplicy, que, envergonhadamente, apoiavam a CPMF, Flávio Arns também era favorável ao tributo mas deixava claro que não era conduzido pela líder Ideli Salvatti. Ela não soube cumprir a tarefa de unir a base em torno do projeto do governo, e isso fragilizou o governo nas negociações”.

PRESSÃO SEM EFEITO DOS GOVERNADORES: “O governo apostou excessivamente na pressão dos governadores sobre os senadores. Não houve um diálogo construtivo com a oposição. E não se pode esquecer que José Serra e Aécio Neves, ambos tucanos, já tinham jogado para a torcida quando apoiaram publicamente o governo.

São governadores que não sofrem com problema de caixa, portanto, ganharam com o apoio e não perderam com o fim do imposto”.

TROCA DE MINISTROS: “O governo não deveria ter trocado o (Walfrido dos) Mares Guia por José Múcio na hora da votação, na hora de fogo

O DESASTRADO MANTEGA: “O ministro Guido Mantega é um dos mais desastrados do governo.

É o campeão das gafes e disse coisas muito incovenientes, como, por exemplo, que o governo iria cortar investimentos nos estados se não conseguisse aprovar a CPMF. Isso chega à oposição como um ultimato, pega muito mal tratar a oposição desse jeito em qualquer lugar do mundo. O tom de ameaça não cabe num estado de direito.

EXPERIÊNCIA NO SENADO: “O prestígio do presidente, usado pelo governo para tentar aprovar a CPMF, é um argumento forte para a oposição, mas não podemos esquecer que no Senado temos políticos que foram ou serão administradores, e, por isso tiveram que mostrar liderança para seus eleitores.

O PESO DOS EMPRESÁRIOS: “Lula foi inábil ao romper com o empresariado, desprezando o Paulo Skaf (presidente da Fiesp, contra a manutenção da CPMF), que foi aliado dele. Ficou claro para os empresários que seus interesses são menosprezados em favor dos interesses do governo, que os jogou na rua da amargura”.

CONFIANÇA DE LULA: “O presidente Lula entrou no processo de negociação com alto grau de confiança. Acontece que o governo já extrapolou na distribuição de cargos e os recursos para os estados já estão muito bem divididos. A oposição sabia que não tinha muito o que negociar

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