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quinta-feira, dezembro 06, 2007


Professores têm poucas satisfações na vida. Quase sempre enfrentam as ciumeiras dos colegas, a concorrência por nada (visto que ser conhecido ou "respeitado" na assim dita "comunidade" (rá-rá-rá) acadêmica é igual ao pregado no Eclesiastes, "poeira, nada" (uso a tradução de Haroldo de Campos). A única alegria encontra-se em alunos. Mas não em todos. Existem os estudantes que já nos primeiros anos da graduação escolhem a quadrilha acadêmica a que pertencerão. E também escolhem os seus "amigos" e "inimigos" (praticam Carl Schmitt sem saber, na espera de praticá-lo com plenos conhecimentos, mais tarde) entre os colegas e docentes. Depois vêm os alunos sem rumo e voz, os que "nem estão aí" para os saberes expostos em sala de aula. Depois vêm os desprovidos de capacidade intelectiva, mas esforçados, que merecem suas notas porque atravessam noites com os olhos grudados nos livros. Estes me comovem. Não raro, resultam em bons profissionais, honestos e competentes. Existem os inteligentes preguiçosos, que levam os cursos com os pés nas costas, mas que serão, sempre, apenas espertos. Existem os de inteligência aguda mas de coração pequeno. Existem os sectários, existem milhares de tipos entre os estudantes. Existem (são os que mais me irritam) os que tuteiam o professor, para intimidá-lo forçando uma intimidade impossível, na verdade para conseguir dominar a vontade do mestre. Existem os frios, que nada dizem, nada acenam, até que apresentam um trabalho excelente, mas sem alma. Existem, existem... os que se irritam com a mínimas correções na escrita ou na fala, como se fosse crime o professor exercitar a função para a qual é pago: notar os defeitos e realçar as qualidades dos alunos. Angariei muitos inimigos ferozes entre alunos furiosos porque diminui alguns pontos em suas notas, por causa de alguns defeitos graves de gramática, sintaxe, semântica. Dar uma nota, como viver, é muito perigoso.

Dentre todos os alunos, ou ex-alunos, alguns se distinguem pela imensa polidez, capacidade intelectual, finura no trato, firme convicção nas idéias. Estimo, sobretudo, os que sustentam idéias diferentes das minhas, porque odeio mimetismos.

Orlando Tambosi e Paulo Araújo constituem motivo de orgulho para mim. Inteligentes, bem educados, eruditos, autônomos, eles me ajudam a enxergar coisas no mundo jornalístico e político, coisas das quais não suspeito, apesar de queimar as pestanas para entender este mundo, vasto mundo sem solução.

Segue mensagem recebida por mim, enviada por Paulo Araújo. Apesar do tom pessoal, creio que ela pode ajudar muita gente a perder as escamas dos olhos, sobretudo em relação ao tirano da Venezuela.

Boa leitura das janelas abertas por Tambosi e Araújo. E coração prevenido, porque a Venezuela não está situada nos antípodas, mas abre suas goelas bem ao lado de nossa terra.

Roberto Romano

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Roberto

Como sempre, eu lhe acompanho pelo blog. Os posts sobres as flores da sua casa são eloqüentes. Li o belo Agradecimento a B’nai B’rith. Li o Salmo 109.

Tambosi e eu nos tornamos amigos. Imagino que você já observou isso no blog. A últimaque aprontamos foi um trabalho a quatro mãos sobre a esparrela em que caíram os jornais brasileiros e suas capas sobre o referendo chavista. Tambosi e eu comemoramos o “furo” do blog. Revelamos em primeira mão a origem chavista das falsas pesquisas e o desmentido oficial do Datanálises. No desmentido do Datanálises “furamos” até a revista Veja on line.

Fizemos bons posts sobre a barrigada geral. Vai na seqüência:

Jornais quebraram a cara
http://otambosi.blogspot.com/2007/12/jornais-quebraram-cara.html

Que jornalismo é esse?
Perguntas de um observador arguto
http://otambosi.blogspot.com/2007/12/que-jornalismo-esse.html

O sono dos jornalistas em Caracas
Pesquisas falsas. E ninguém checou.
http://otambosi.blogspot.com/2007/12/o-sono-dos-correspondentes-em-caracas.html

Jornalistas caíram no conto-do-vigário do chavismo
Não adianta esconder: continuam pisando na jaca do jornalismo declaratório e oficialista. E não viram o chifre na cabeça do boi.

http://otambosi.blogspot.com/2007/12/jornalistas-caram-no-conto-do-vigrio-do.html

Acompanho atentamente pela blogosfera os acontecimentos na Venezuela já faz um bom tempo. Foi por ela que conseguimos os “furos”.

Nesse tempo, formei um juízo da personalidade paranóica do Chávez e sobre o modus operandi do paranóico na política venezuelana. Esse juízo também foi mediado pelo teu texto Os laços do orgulho. Reflexões sobre a política e o mal. Principalmente pelas passagens (o juiz Schreber.) iluminadas pelo Canetti: “O paranóico sempre se percebe cercado pois “seu inimigo principal jamais se contentará com atacá-lo sozinho. Sempre procurará atiçar contra ele uma malta odiosa, soltando-a no momento exato. Os membros da malta a princípio se mantêm ocultos, podem estar por toda parte”. Para o poderoso, todos conspiram contra ele. Seus inimigos são uma totalidade homogênea. Indivíduos, para os poderosos da história, se diluem em massas compactas. O poderoso desmascara os supostos indivíduos, reduzindo-os ao Inimigo. Só ele, inocente, pode sentenciar milhões à morte.(62)

Li os textos que você colocou no blog sobre os golpes de estado. Também me foram muito valiosos para entender as artimanhas do paranóico.

Comento e cito trechos retirados do discurso de Chávez em 03/12/07

O resultado do plebiscito é apresentado como “vitória pírrica” do “não”. É o triunfo da “legalidade” constitucional outorgada pelo Benevolente e referendada por um anterior plebiscito. A vitória do “não”, avisa Chávez, não cancela a outorga originária (1998) fundadora do Estado Bolivariano.

O Soberano avisa que a recusa do “sin” não emana da vontade popular manifestada no plebiscito. Ela é concedida pelo Benevolente ao povo: a “vitória pírrica”. O tema é recorrente e estrategicamente enfatizado em várias passagens da sua fala. E sendo concessão o paranóico pode cancelá-la quando bem entender.

Assim eu entendi o seu “¡¡¡¡¡ POR AHORA!!!!!!!!!”.

Não há vontade popular legítima no povo ignorante e ameaçado. “O poderoso desmascara os supostos indivíduos, reduzindo-os ao Inimigo”:

“Ahora, a pesar de todo el bombardeo mediático, a pesar de todas las artimañas y todas las mentiras que circularon, como Fidel Castro lo escribió hace unos días. (Refere-se ao Um pueblo bajo fuego)

Es decir, nuestro pueblo fue sometido a un intenso fuego de artillería de mentiras, de temores.

O Egocrata comunica a verdade revelada nos resultados: os venezuelanos votaram errados porque votaram enganados e ameaçados pelo fogo do Inimigo.

“¡Por ahora no pudimos!”, repete Chávez

Eis a grande vitória que só ele vê: o amplo e geral reconhecimento da “legalidade” constitucional.

“Uno de los grandes logros de este proceso es que la oposición reconoció esta Constitución después de 8 años, ahora la han reconocido y salieron a defenderla, ¡qué bueno!”

¡Bueno! vamos, vamos a construir la Venezuela que aquí está establecida (en la Constitución vigente).

Já no dia seguinte, chavistas respondem ao Soberano e agem dentro da “legalidade” constitucional:

La diputada de la Asamblea Nacional, Iris Varela, instó al presidente Chávez para que aprobara los puntos contemplados en la reforma constitucional a través de la Ley Habilitante. "Estamos empeñados en construir una Patria Socialista (...) Que aproveche ahora y decrete eso", expresó Varela.

"Compatriotas, aquí no hay ninguna victoria popular"

"Presidente lo que no se pudo aprobar el domingo, aplíquelo vía decreto en el marco de la ley habilitante"

História da “legalidade” constitucional outorgada pelo Soberano. Ali Kamel escreveu um brilhante artigo. Cito um trecho:

Depois de eleito em 1998, Chávez, por decreto, decidiu fazer uma consulta popular para que o povo aceitasse ou não a convocação de uma Constituinte, que teria por objetivo implantar a "revolução pacífica bolivariana". O Congresso, eleito apenas um mês antes (portanto, perfeitamente legítimo), decidiu resistir, alegando que o presidente não tinha o poder de fazer tal consulta. Mas a Suprema Corte do país, para agradar a Chávez, não somente autorizou o plebiscito como deu ao presidente o direito de ditar as regras eleitorais para a eleição dos constituintes. O que fez Chávez? Para aquela eleição, acabou com o voto proporcional e instituiu o voto majoritário, em que o vencedor de um distrito leva todos os votos. E mais: nas cédulas eleitorais, proibiu a menção a partidos, mas apenas ao nome ou ao número dos candidatos. Assim, os partidários de Chávez tiveram 55% dos votos, mas, dado o sistema majoritário, obteve 92% dos assentos na Constituinte. Se o voto proporcional tivesse sido mantido, seus oponentes teriam ficado com 45% das cadeiras e não com apenas 7%.

http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/2007/12/questo-democratica-um-artigo-essencial.html

E os apelos de Íris Varela a Chávez não foram em vão.

Chávez. Dia 05/12/07. Chávez durante una rueda de prensa, realizada en compañia del Alto Mando Militar

"Dejen quieto al que está quieto. No se metan con la Fuerza Armada.

"La oposición no tiene nada que celebrar. Nosotros no hemos perdido nada. ¡Y prepárense! Vendrá una nueva ofensiva. (...) Pero estoy seguro, que si se recogen firmas, esa propuesta se puede someter a referendo de nuevo, en otras condiciones, en otro momento, en este lugar llamado Venezuela".


Tambosi e eu fizemos o post As mentiras do Tirano. Ao contrário do que muitos dizem, Chaves está longe de ser um bufão.

Num “Alô Presidente”, em 19/09/2004, o coronel Hugo Chávez rechaçou uma reforma constitucional que lhe garantiria a reeleição ilimitada.

A história toda está contada aqui. A notícia oficial do MINCI reproduzindo a negativa simplesmente desapareceu do site. Nele, restou apenas o registro de uma resposta a um jornalista brasileiro que o entrevistou, em 24/09/07, quando esteve em Manaus e onde se encontrou com Lula. Nesta notícia de 24/09/07o lançamento oficial da tese da reeleição ilimitada aprovada em referendo. Sim. Essa notícia está no site do MINCI.

Coloquei num comentário a transcrição oficial da fala. http://otambosi.blogspot.com/2007/11/as-mentiras-do-tirano.html

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