Aos fascistas que têm orgasmos quando enxergam polícia uniformizada nas telas, algemando e jogando pessoas nos camburões, o caso deveria servir de alerta. O abuso do monopólio da força física, do Estado, serve para humilhar os cidadãos e para manter a massa no estado de não cidadania, obediente e subserviente, sobretudo quando elege truculentos para a maior magistratura do país. Se o abuso do monopólio da força é gravíssimo, mais dramático ainda o abuso do monopólio da norma jurídica, por pessoas que deveriam prestar contas desse monopólio diretamente, ou seja, os juízes. Caro Dr. Fabio Bibancos, pode processar a PF, mas o senhor não acha que o mandante, o responsável maior pela sua segurança, o juiz, não deveria ser processado? Ele não ficou sabendo (a doença do Palácio do Planalto é assim tão epidêmica?) que o senhor, em seu consultório, foi agredido física e moralmente ? Se não sabia, ele é responsável. Se sabia, ainda mais responsável. É tempo de prestar contas à cidadania dos abusos cometidos com as bençãos de quem é responsável pela aplicação justa do ordenamento legal.
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Dentista recupera bens levados na Satiagraha Bibancos prepara ação por danos morais contra PF
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
  Um mês e cinco dias depois  de deflagrada a Operação Satiagraha, em que foi confundido  com um doleiro, o dentista Fabio Bibancos, 45, conseguiu ontem, pela primeira vez, pôr para  funcionar dois computadores e  sete discos rígidos apreendidos  por agentes da PF que buscavam provas de um suposto envolvimento dele em crimes  contra o sistema financeiro.
A devolução dos equipamentos e da agenda pessoal de Bibancos foi autorizada pelo juiz federal substituto Márcio Rached Millani. "Observo que Fabio Bibancos não foi denunciado. Também não restou comprovada a participação do Instituto Bibancos de Odontologia, da Escola do Pensamento em Saúde e da ONG Turma do Bem [projetos sociais e culturais animados pelo dentista] nos ilícitos em apuração", escreveu o juiz no despacho datado de 1º de agosto.
A Operação Satiagraha, que,  entre outros, prendeu o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta,investidor Naji Nahas e Daniel  Dantas, atingiu Fabio Bibancos  na manhã do dia 8 de julho.Na ocasião, agentes da PF invadiram, metralhadoras em  punho, o consultório, a ONG e a  escola, que funcionam em prédios anexos, na Vila Mariana  (zona sul de São Paulo). O dentista, ainda de pijama, insistia  em dizer que no local não funcionava escritório de doleiro.Apontava para os equipamentos odontológicos da clínica e jurava que não era a pessoa  procurada -"Sou o Fabio Bibancos. Sou dentista. Não sou  doleiro." Não adiantava.
Foi o juiz federal Fausto De Sanctis que autorizou a ação no consultório, depois que a PF informou-lhe terem sido "realizadas diversas vigilâncias" no local, que levaram aos seguintes apontamentos: "[Tem] diversas características relacionadas à segurança (altos muros, guarita com segurança, câmeras de vigilância) que, em tese, seriam incompatíveis com as atividades desenvolvidas por ONG, havendo, assim, suspeitas de que poderia ser utilizado como "fachada" para atividades ilegais de câmbio".
No dia seguinte à ação, Bibancos se defendeu: "Eu não  teria muros altos ou câmeras de  vigilância se vivêssemos em um  país seguro". O dentista tem  uma ação engatilhada contra a  PF por danos morais. Também  pedirá o ressarcimento dos gastos que teve com a recuperação  de portas e janelas destruídas.
Luci Montejane, 44, coordenadora da Turma do Bem, que  dá atendimento dentário gratuito a 6.000 crianças carentes  do país, diz que "uma das piores  conseqüências da operação foi  o constrangimento de ter de explicar o surrealismo da situação". Segundo ela, cerca de 300  crianças, que seriam enviadas  para dentistas voluntários, tiveram de adiar por ao menos  um mês o início do tratamento.
