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quarta-feira, agosto 27, 2008


A fonte é o Blog Imprensa Marron, excelente Blog! Quanto ao Tognolli, sigo seus textos desde longa data. Desde antes de um banqueiro, na época todo poderoso e que não é oportunista, ameaçar a sua vida. E posso dizer que ele é um excelente jornalista. O que é raro neste país onde escrevinhadores que vendem seu teclado (antigamente era a pena) são a regra, tanto na grande quanto na imprensa nanica.


Roberto Romano.



Papéis trocados

Chicaroni acusa Protógenes Queiroz de pedir propina

por Claudio Julio Tognolli

Famoso por ter prendido o banqueiro Daniel Dantas, na Operação Satiagraha, o delegado federal Protógenes Queiroz passou à posição de vidraça. O novo depoimento prestado pelo empresário e professor universitário Hugo Sérgio Chicaroni, no dia 7 de agosto, muda completamente a versão de um dos casos mais enigmáticos do país. Protógenes, agora, é acusado de ter pedido dinheiro a Chicaroni para retirar Daniel Dantas e sua irmã Verônica da mira da Polícia Federal. Chicaroni disse que é amigo do delegado há pelo menos sete anos.

Segundo a Polícia Federal, logo depois de ser preso, no dia 8 de julho, Chicaroni afirmou que o dinheiro era do Opportunity e foi levado a ele por pessoas do grupo financeiro de Dantas para ser entregue a policiais. Depois, no primeiro depoimento à Justiça, ele permaneceu calado. No novo depoimento, Chicaroni afirma que não foi ele quem ofereceu dinheiro a policiais federais. Ao contrário. Ele diz que a soma inicial de R$ 50 mil, para mudar o curso das investigações, foi pedida pelo próprio delegado Protógenes.

“Eles foram comigo até a minha casa numa Mercedes-Benz preta que o delegado Victor Hugo Ferreira dirigia, e eu peguei 50 mil reais que eram do meu cliente [Wilson Mirza, advogado de Dantas] e entreguei para os dois”, diz ele no depoimento obtido pela revista Consultor Jurídico. E mais: “O delegado Protógenes Queiroz disse que o delegado Victor Hugo Ferreira mereceria receber [o dinheiro]”. Isso porque ele teria aceitado conversar com alguém do Opportunity sobre o caso.

Chicaroni também relatou detalhes de uma amizade que diz manter há pelo menos sete anos com o delegado Protógenes. Detalhes que incluem desde saírem para comer pizzas até gentilezas a familiares.

Chicaroni foi acusado de tentar subornar o delegado federal Victor Hugo durante a investigação conduzida por Protógenes. Para justificar a prisão, o juiz Fausto De Sanctis afirmou que a soma de R$ 1,28 milhão, encontrada na casa de Hugo Chicaroni, no bairro paulistano de Indianópolis, era fruto de uma operação coordenada pelo braço direito de Daniel Dantas, Humberto Braz, que é executivo do Opportunity.

Na primeira versão de seu depoimento, Chicaroni sustentou que, em um primeiro encontro, R$ 50 mil foram destinados ao delegado federal Victor Hugo. E que, em uma segunda reunião, foi repassado ao policial federal R$ 80 mil. A meta seria o repasse de R$ 1 milhão. Vale lembrar que Hugo Chicaroni jamais teve pedida a quebra de seu sigilo telefônico pela PF ou pelo MP. Ao contrário dos demais acusados.

Além do depoimento de Chicaroni, há também outros episódios da PF em que o delegado continua a ser a estrela principal. Por exemplo: um policial presente na reunião em que o delegado Protógenes foi afastado do caso (oficialmente para fazer um curso), contou à ConJur parte das conversas travadas a portas fechadas. “Um outro policial federal disse ali ao Protógenes a frase do Capitão Nascimento, do filme Tropa de Elite: “Pede para sair que fica melhor para a imagem da PF, porque você foi chipado (grampeado)”. Esses grampos seriam a prova material da antiga amizade entre caçador e caça.

Segundo esse policial, o depoimento seria a única prova palpável do afastamento de Protógenes: relatos de uma antiga amizade, com conversas telefônicas, com o Hugo Chicaroni, preso por ele.

Além do juiz Fausto De Sanctis, estavam presentes, no depoimento, os procuradores da República Rodrigo de Grandis e Anamara Osório Silva, e o advogado Alberto Carlos Dias, que representa Chicaroni.

A reportagem da ConJur tentou entrar em contato com o delegado Protógenes. A Polícia Federal informou que apenas se manifesta em “casos de acusação contra a corporação e não contra funcionários em particular”. Segundo a PF, “o doutor Protógenes está em um curso de reciclagem e não vai falar com a imprensa”, apesar de ser procurado para tanto. “Muita gente o procura para entrevistas, mas ele não fala", afirmou a PF.

Veja os principais trechos do depoimento

Páginas 157/158 — A amizade com “Proto”:

“Eu conheci o dr. Queiroz sete ou oito anos atrás, quando em conjunto com a Associação Paulista de Proteção aos Direitos Fonográficos Intelectuais e também numa consultoria Microservice Tecnologia, que é uma empresa da área de tecnologia e comunicações. Nós fazíamos um trabalho de combate à pirataria. E aí fizemos esse trabalho em conjunto com a Polícia Federal, nas primeiras prisões, na realidade, que foram feitas. Nessa ocasião identificamos (eu era diretor e coordenador de desenvolvimento de projeto do núcleo interdisciplinar de política estratégica da Universidade de São Paulo a convite do professor Bráulio José de Araújo). Nessa ocasião identificamos algumas necessidades dos delegados... e aí começamos a fazer algumas reuniões com professores dessa área da universidade e com delegados da área. Nessa ocasião, o dr. Queiroz me chamou um dia, e vendo um cartão com a chancela da USP, disse, “escuta, eu creio que você poderia me ajudar...a minha mulher sofreu um acidente, eu presumo que seja defeito de fabricação dos pneus, minha mulher estava grávida, eu creio que poderia ter sido muito sério... queria ver se me ajuda encaminhar esses pneus para uma perícia no IPT”. Indiquei um amigo. Nessa ocasião passei a falar com a esposa do dr. Queiroz... aí começou a nossa amizade, começamos a nos falar, começamos a nos encontrar sempre, tínhamos uma relação muito boa e, depois que ele foi para Brasília, sempre eu indo a Brasília, sempre que havia tempo nos falávamos, almoçávamos, jantávamos juntos, falávamos de amenidades da vida”.

Páginas 160/161 — Chicaroni fala sobre seus contatos com o advogado de Dantas, Wilson Mirza Abraham. Também revela os interesses de Mirza pela notícia da repórter Andrea Michael, da Folha de S. Paulo, que adiantou em meses a prisão de Dantas, via Satiagraha:

“Eu e o Protógenes estávamos comendo pizza e eu comentei com ele a questão do dr. Mirza. Eu falei: “Queiroz, eu conheci um advogado em São Paulo e ele disse que sai uma matéria no jornal sobre um cliente dele e ele disse que está tentando uma audiência com você e não consegue, eu disse que se o encontrasse iria pedir a você se poderia recebê-lo... Aí num jantar o delegado Queiroz me disse que almoçaria no dia seguinte com o delegado que estava nesse caso e ele iria perguntar a esse delegado se ele receberia alguma pessoa do Grupo Opportunity”.

Páginas 163/164/165/166 e 169 — Protógenes pede R$ 50 mil em nome do delegado federal Victor Hugo Ferreira:

“Dia 18, dia seguinte, eu estava em casa...Recebi outro telefonema do dr. Protógenes Queiroz. Ele disse “Você não quer dar um pulo até aqui?”... Então ele me apresentou aí o delegado Victor Hugo Ferreira. Aí conversamos. O delegado Victor Hugo Ferreira disse que conversaria com alguém do grupo Opportunity...No final dessa conversa o dr. Protógenes Queiroz me disse que só por essa conversa ele achava que o delegado Victor Hugo Ferreira deveria receber 50 mil reais... Eu disse “não tenho dinheiro”. Disse “não tenho interesse em investigação, eu tenho um dinheiro em casa que é do meu cliente”. Ele disse que o dr. Victor Hugo estava fazendo o último trabalho dele em São Paulo, que seria transferido para Ribeirão Preto, que estava fazendo negócio, não sei o que.. Tudo bem, eu disse, vou usar o dinheiro do meu cliente. E eles foram os dois comigo até a minha casa numa Mercedes-Benz preta que o delegado Victor Hugo Ferreira dirigia, e eu peguei 50 mil reais que eram do meu cliente e entreguei para os dois...O delegado Protógenes Queiroz disse que o delegado Victor Hugo Ferreira mereceria receber... Eu estava ali conversando com uma pessoa, Queiroz, que eu conheço há sete anos, eu o respeitava como homem, como profissional, como amigo, essa coisa toda, pode parecer até doidice, mas eu sabia que tinha como recuperar esse dinheiro, sem dúvida nenhuma ...Eu estava entregando para o meu amigo Queiroz...Eu não dei de presente, é difícil explicar, eu poderia dizer isso para o senhor de um milhão de outras maneiras e certamente o senhor, talvez, não me estivesse questionando da forma como está... O dr. Queiroz pediu os 50 mil reais...Ele disse que o dr. Victor Hugo Ferreira deveria receber os 50 mil reais.

Páginas 202 e 203- A visita cordial na cadeia:


“Eu quero complementar que, depois desse fato todo, uma semana depois, mais ou menos, eu recebi por duas vezes a visita do delegado Protógenes Queiroz na custódia da Polícia Federal, preocupado comigo, se eu estava bem, se as coisas estavam bem, se eu precisava de alguma coisa fora essa coisa toda, e eu cobrei mais uma vez o que fiz exatamente no dia 8 de julho (data da deflagração da Satiagraha), o porquê de ele ter me usado nessa história toda. Ele não me respondeu isso até hoje. Mas me disse “Olha, você tem que ter paciência”. Por duas vezes ele esteve comigo demonstrando preocupação, até porque sabe da minha saúde, sabe que eu tenho câncer, perguntando se eu queria coisas de fora, se queria que ele ligasse para minha família...Acho que algum dramazinho de consciência ele deve ter porque ligou para o meu filho...pedindo a ele paciência e que logo as coisas se resolveriam...Então só para registrar: acho que tem um lado humano nessa história...Na segunda vez que esteve comigo ele já estava com problemas com o caso, já estava para ser afastado...alguma coisa deve ter acontecido aí para ele chegar ao ponto de ligar para o meu filho”.

Revista Consultor Jurídico, 21 de agosto de 2008


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