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quarta-feira, agosto 27, 2008

SARNEY DIZ NÃO TER CONSTATADO TORTURA NO PERÍODO DITATORIAL, QUANDO ELE ERA UM DOS PROPRIETÁRIOS DA ARENA. FELIZ CEGUEIRA A DELE. COMO FUI TORTURADO NO DOPS PAULISTA, E VI TORTURADOS EM SITUAÇÃO PIOR DO QUE A MINHA, CHEGO À CONCLUSÃO : NOSSO PAÍS É TERRA DE CEGOS, DIRIGIDA POR CEGOS. SÓ QUE SE TRATA DE UMA CEGUEIRA MUITO PECULIAR: ELA É VOLUNTÁRIA. COMO A SERVIDÃO. A PÉROLA DE ENTREVISTA, NO ENTANTO, ESTÁ NA LINGUA DE UM COMUNISTA : "Quando um ex-presidente resolve prestar um depoimento sincero, é imperdível" ALDO REBELO, 52 deputado federal (PC do B-SP)". REBELO É AFÁVEL, BEM EDUCADO, POLÍTICO HONESTO.A IDEOLOGIA O CONDUZ A CERTOS APLAUSOS COMO O CITADO. TEMOS AÍ O MOTIVO PELO QUAL MUITA GENTE DA ESQUERDA APOIOU A ANISTIA CAPENGA. APLAUSOS PARA OS DONOS DO PODER DE ENTÃO E DE AGORA, O "GRANDE ALIADO". EXISTEM VÁRIAS INTERPRETAÇÕES DA PALAVRA GREGA KAYRÓS. UNS A TRADUZEM COMO TEMPO CERTO DE AÇÃO, OUTROS COMO TEMPO OPORTUNO. OUTROS....MAS RECORDEMOS A HISTÓRIA: OS COMUNISTAS SE ALIARAM A GETÚLIO, DEPOIS DE TUDO O QUE O EX-DITADOR TINHA FEITO CONTRA ELES E CONTRA O PAÍS. QUEM COMPULSOU O LIVRO DE WILLIAM WAACK SOBRE "OS CAMARADAS"E O RECENTE VOLUME DE DMITRI VOLKOGONOV (OS SETE CHEFES DO IMPÉRIO SOVIÉTICO, RJ, NOVA FRONTEIRA, 2008) PERCEBE A LÓGICA : VISEIRAS, SLOGANS E ESPINHAS DOBRADAS.
RR



São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2008



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SABATINA FOLHA

JOSÉ SARNEY

Próximo presidente não será eleito sem o apoio de Lula, afirma Sarney

Ex-presidente enfatiza importância do aval do atual ocupante do Planalto, defende aliança entre PMDB e PT e diz que o Supremo não está invadindo atribuições dos outros poderes, mas resolvendo conflitos que eles não tinham solucionado

Moacyr Lopes Jr./Folha Imagem

O senador José Sarney (PMDB) na sabatina realizada ontem no Teatro Folha

Aos 78 anos, 50 de vida pública, o ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP) duvidou ontem, em sabatina à Folha, "que o futuro presidente possa ser escolhido sem o apoio de Luiz Inácio Lula da Silva". E pregou ainda aliança do PMDB com o PT em 2010.
Governador durante o regime militar, o primeiro presidente civil após a ditadura repassou, para uma platéia de cerca de 150 pessoas, sua experiência nestes 50 anos. Sarney foi sabatinado pelos colunistas Clóvis Rossi e Mônica Bergamo, pelo editor de Brasil, Fernando de Barros e Silva, e pela editora do Painel, Renata Lo Prete.


LULA
Afirmando que a eleição de Lula conclui um processo de cem anos -"Chegamos no fim do século com um operário no poder. Isso é uma coisa importantíssima"-, Sarney diz que a liderança do presidente "tem base profunda, raiz mais profunda". Daí, seu papel em 2010. "[Lula] não é só um político que tem popularidade. Não acredito que o futuro presidente possa ser escolhido sem a participação e o apoio do presidente Lula. Se me pergunta quem vai ser, digo que o nome colocado é a dona Dilma [Rousseff]."
"Se depender de mim, o PMDB vai para uma aliança com o presidente Lula", afirmou Sarney, alegando "que o PMDB é o partido das causas democráticas". "Colocamos uma agenda social no país durante o período em que fui presidente. Não se esqueçam que o slogan do meu governo era "tudo pelo social", justificou.
Alvo de críticas do petista no passado, hoje Sarney minimiza: "Lula era o PT de ferro, de aço. Todos nós mudamos".

SERRA
Questionado sobre seus desafetos, ele diz que não guarda rancor, nem do ex-presidente Fernando Collor de Mello, um dos mais ácidos críticos do governo Sarney. "Não tenho ódio do Collor. Se tem um arrependido disso, é ele. Não eu."
Sarney, no entanto, deixa evidentes suas restrições ao governador José Serra (PSDB). O senador nem sequer chega a negar que desconfie da participação de Serra na operação policial que, em 2002, flagrou R$ 1,4 milhão no escritório de sua filha, a então presidenciável Roseana Sarney.
Durante a disputa eleitoral de 2002, durante o governo FHC, aliados de Sarney atribuíram motivação política à operação. Serra negou. "Não vou dizer que foi o governador José Serra nem que não foi o governador Serra. Até porque é um fato do passado. Não quero relembrar. Serra é um bom homem público, um homem que tem qualidades", afirmou Sarney, insistindo na hipótese de "armação".
"Quem vai dizer não sou eu. Mas o STF e o Tribunal Federal de Brasília, que, em acórdão, disseram se tratar de armação. Não tinha começo nem meio nem fim, uma busca e apreensão que não foi junto a processo algum e que só cumpriu uma finalidade: barrar uma candidatura à Presidência."

CONGRESSO
Ao comentar a avaliação de ministros de que o Congresso é um mercado de voto, Sarney responsabilizou o sistema político. "O Congresso em que comecei era outro. Tudo que aconteceu, extremamente lamentável, tem muito a ver com o sistema político que adotamos. É esse sistema que levou à criação dessa classe política que dá essa imagem tão deformada e merecida."
Para Sarney, existem maus e bons políticos. Questionado sobre o aliado e ex-presidente do Senado Renan Calheiros (AL), Sarney disse que, "ao longo da história, [Renan] tem se mostrado um bom político".
O senador afirmou que votou pela absolvição de Renan por não haver provas de que dirigia uma emissora de rádio em Alagoas. "Se tivesse prova, eu teria, com maior tranqüilidade, condenado."
Ex-presidente do Senado, Sarney negou qualquer pretensão de voltar ao cargo. "O que posso adiantar é que não serei candidato. Não quero ser presidente de nada."

ADESISMO
Sarney reagiu aos que o acusam de estar sempre no poder. "É uma certa injustiça comigo. Fui oposição ao Getúlio, ao Juscelino. Quando dizem "Sarney aderiu ao processo do Tancredo", quero dizer que não. Fui convidado por eles. Não aderi."

STF x CONGRESSO
Sarney disse que o STF (Supremo Tribunal Federal) "agiu corretamente" ao proibir nepotismo no país.
Para ele, o STF exerce um papel "moderador" no regime democrático, preenchendo "lacunas da Constituição de 1988". "Não vejo que esteja invadindo essa ou aquela atribuição. O STF está tentando resolver conflitos que outros Poderes não tiveram condições de resolver", disse. "Se o Congresso se omite em tomar suas decisões, o Supremo toma."
Numa menção à Constituinte, da qual Lula e Serra fizeram parte, Sarney afirma que "o Congresso que fez a Constituição não tinha uma grande densidade". "Temos essa Constituição aí que até hoje só se faz é tentar consertar", criticou.
O ex-presidente citou os Estados Unidos como um exemplo de país em que o Supremo atua como moderador.
"O Parlamento se tornou incapaz, pela divisão que tinha, da integração dos negros e os direitos civis não caminhavam. Vem a Suprema Corte e interpreta: as escolas têm que ter a presença dos pretos. Graças a isso, a sociedade americana se reconciliou."

LITERATURA
Sarney contestou a associação entre política e sua nomeação para Academia Brasileira de Letras. "Entrei para a Academia Brasileira de Letras antes de ser presidente. Em 1980. Hoje, sou o decano, que é uma palavra ruim. Significa que todos que votaram em você já morreram. Sua vez está chegando. Dá uma certa dor nos ossos", brincou ele, para quem a política contamina a crítica ao seu trabalho.
"Pago muito porque sou político. Minha visibilidade política é maior que minha visibilidade de escritor."

PLANO CRUZADO
Sarney disse que não quer "ser julgado como o presidente dessa inflação de 40%". "Quero que o povo me julgue como o presidente da agenda da democracia. Ele argumentou ainda que a adoção de três moedas em seu governo garantiu a implantação do Plano Real. "A inflação é terrível. Mas foi uma circunstância que tivemos que atravessar. E isso valeu para que se fizesse o plano real. O [João] Sayad me propôs. Eu disse: "Não tenho mais condições políticas de fazer isso", como não tinha."

Ex-presidente afirma ser contra mudanças na atual Lei da Anistia

Sarney diz que congressistas queriam dar um golpe na Constituinte de 1988

DA REPORTAGEM LOCAL

Dizendo desconhecer a prática de tortura durante o regime militar brasileiro, o senador e ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), que foi governador do Maranhão entre 1966 e 1971, afirmou ontem que é contra a revisão da Lei da Anistia, proposta que é discutida por integrantes do governo Lula.
"A anistia foi negociada. Ela não foi um gesto de príncipe. Acho que o processo político da anistia fez parte do processo da transição", disse Sarney, afirmando "que anistia foi feita de forma consensuada".
"Não devemos esquecer que os militares não caíram por uma revolta militar que os derrubou. O que houve foi um processo de abertura que durou oito anos, até longo demais, e que as etapas foram cumpridas -e anistia era uma das etapas", disse Sarney, para quem "não há por que a gente venha renascer com esse problema".

A PRESIDÊNCIA
Sarney também lembrou de sua posse como presidente. O peemedebista disse que resistiu à idéia, à espera da recuperação de Tancredo Neves, eleito presidente no Colégio Eleitoral. "Assumi pensando que era por poucos dias. Mas, mesmo assim, achava que era uma coisa simbólica, a qual não devia aceitar. Cada vez mais fui me tomando de um certo sentimento entre medo e responsabilidade. Fui, talvez, uma das poucas pessoas que não acreditassem que o Tancredo Neves iria morrer", afirmou.
Sarney listou as adversidades políticas que diz ter enfrentado. "Quando assumi, o governo ficou comigo, mas o poder político todo ficou com o Ulysses [Guimarães]. Não tinha condições de ser presidente. Não tinha legitimidade [...]. Para que eu pudesse construir essa legitimidade política, tinha que resolver o problema da economia, que era difícil."
No Congresso, conta ele, "a Constituinte de 1988 quis dar um golpe dentro da própria Constituinte". "Criou a Comissão de Sistematização, que era composta por 90 congressistas. Esses 90 podiam decidir pela metade, 47 pessoas podiam decidir a matéria. Mas, para derrubar o que a Comissão de Sistematização queria, tinha que ter maioria absoluta no plenário. A matéria votada ali era considerada acabada. Houve uma reação. Como podíamos ter uma Constituição que podia ser votada por 47 pessoas apenas? Houve uma mudança do regimento no qual diz: "Não, toda matéria tem que ser votada aqui dentro do plenário". Daí porque eles achavam que essa comissão dos 90 ia fazer um mandato de quatro anos. Um dos maiores erros que cometi na vida foi ter ido para a televisão e ter dito: "Eu aceito o mandato de cinco anos". Porque coloquei no debate o que eles queriam. A Constituinte girou em torno do debate do mandato do presidente."

Frases

"Ele diz que não sabia de torturas na ditadura? Meu Deus, só ele não sabia"
MARYVONE LIMA COSTA, 77 pensionista

"Gostei da clareza com que o presidente Sarney expôs as idéias e falou da literatura"
CRISTIANA BARROSO, 42 auxiliar de enfermagem

"Quando um ex-presidente resolve prestar um depoimento sincero, é imperdível"
ALDO REBELO, 52
deputado federal (PC do B-SP)

"A sabatina foi uma aula de história de quem a conhece e de quem a viveu"
MICHEL TEMER, 67
deputado federal (PMDB-SP)


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