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sexta-feira, agosto 01, 2008

São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2008



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Lula recebeu dossiê contra o "embaixador" das Farc

Para Planalto, divulgação de e-mails é pressão para extraditar Olivério Medina

Revista colombiana publica suposta correspondência entre os dirigentes da guerrilha que já havia sido revelada pela Folha


CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Palácio do Planalto vê pressão política por traz da divulgação, pela revista colombiana "Cambio", de uma coletânea de e-mails atribuídos a dirigentes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) citando membros do governo brasileiro. O teor das mensagens -que o governo colombiano afirma ter encontrado nos computadores pertencentes ao número dois da guerrilha, Raúl Reyes, morto em março- já havia sido revelado pela Folha há um mês.
Ontem, um assessor próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse à Folha que o governo da Colômbia quer "pôr a mão" no ex-padre guerrilheiro Olivério Medina. A idéia seria usar os e-mails do computador de Reyes para conseguir a anulação do status de refugiado político obtido por Medina na Justiça e conseguir sua extradição.
Medina, cujo nome verdadeiro é Francisco Antonio Cadena Collazos, vive em Brasília sob proteção jurídica desde abril de 2006. Para conseguir esse benefício, ele se comprometeu a abandonar as atividades políticas, especialmente aquelas relacionadas às Farc. Mas as informações coletadas pelos serviços de inteligência da Colômbia sugerem que Medina manteve sua militância.
Num e-mail de 19 de janeiro de 2007, Medina comenta com Reyes a importância do novo emprego da mulher, Ângela Slongo, na Secretaria de Pesca. "Para evitar que a direita em algum momento a importune, a deixaram na Secretaria de Pesca, trabalhando no que chamam um cargo de confiança ligado à Presidência da República", disse.
Tratada carinhosamente por Medina de La Mona, Slongo atua num programa de alfabetização de pescadores. Para o embaixador das Farc, uma posição útil. "É possível que dada sua preparação e conhecimentos sobre o marxismo, seu aporte seja de utilidade", disse. Há outras correspondências ao longo de 2007. O último e-mail data de 2 de fevereiro de 2008, no qual Medina trata de preparativos para uma visita da senadora colombiana Piedad Córdoba ao Brasil.

Naturalização
Na visita a Bogotá há duas semanas, Lula recebeu do presidente colombiano, Álvaro Uribe, um relatório informando que Medina tem participado informalmente de eventos políticos e até de bancas examinadoras em universidades particulares de Brasília.
De posse desses novos fatos, o Conare (Comitê Nacional para Refugiados) poderia reavaliar a concessão do status de refugiado, expondo o colombiano a um novo pedido de extradição. Uribe tem pressa, pois foi informado que Olivério Medina entrou com pedido de naturalização no Ministério da Justiça. Com cidadania e passaporte brasileiros, ele poderia viajar sem restrições ao exterior.
O chanceler colombiano, Jaime Bermúdez, confirmou ontem que a coletânea de 85 e-mails, trocados entre 1999 e 2008, foi entregue ao governo Lula há mais de um mês, como revelou a Folha. Ele disse que "respeita a autonomia" das autoridades brasileiras na análise da informação. "É o Brasil, com a informação que tem em suas mãos, que deve avançar em apurar eventuais responsabilidades", disse Bermúdez. No governo brasileiro, ninguém quis se manifestar oficialmente.
Com base nos e-mails, a revista "Cambio" escreveu que as presença das Farc no Brasil "chegou até as mais altas esferas" do governo Lula. Nas reportagens publicadas no final de junho e início de julho, a Folha mostrou que a troca de mensagens entre dirigentes das Farc não revelava tal acesso privilegiado ao governo.
Em alguns casos, os e-mails sugerem simpatia de certos assessores, mas não demonstram uma relação institucional do Palácio do Planalto com o grupo colombiano. A lista de brasileiros citados nos e-mails tem cerca de 60 nomes, entre vereadores, deputados, senadores, acadêmicos, juízes, procuradores e ministros. São citados, além do PT, PDT, PCdoB e PSol.

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