TRIÂNGULO DAS BERMUDAS
MARIA LUCIA VICTOR BARBOSA
22/10/2008
Nas lutas travadas pelo poder, sejam elas de natureza econômica, política ou individual, ressalta a capacidade de empregar a hipocrisia, a mentira, a traição, a deslealdade, a violência. Mas, é na arena dos embates políticos, que esse agir se torna público.
Nestas eleições municipais chama atenção a exacerbação da torpeza. Destila-se como nunca o veneno da perfídia. Tenta-se de maneira vil enganar os eleitores com intrigas e maledicências sobre adversários. Em manobras asquerosas os algozes se transformam
Sempre foi assim, dirão, aqui e alhures, em todos os tempos e em todas as sociedades. Entretanto, parece que no Brasil chegamos ao ápice da degradação moral, que na política se manifestou através de constantes escândalos e que agora ressurge nas campanhas.
No Executivo, o episódio protagonizado por Waldomiro Diniz foi o início do ininterrupto espetáculo da desfaçatez sempre impune que passou por caixas dois, dólares na cueca, falsos dossiês e tudo mais que num país com outra cultura cívica não seria tolerado.
De modo também indigno se viu, com honrosas exceções, um Congresso subalterno e aviltado por mensalões e mensalinhos, descaramentos e falcatruas de toda espécie. Entretanto, a sociedade que deveria se enojar reconduziu ao poder mensaleiros, sanguessugas, trambiqueiros da pior espécie, o que leva a perguntar se vivemos numa canalhocracia onde eleitos e eleitores se merecem na reciprocidade malandra do jogo politiqueiro.
Na esteira desse processo de degradação, onde qualquer resquício de ética desapareceu, as campanhas municipais vão se processando. Entre ataques e baixezas havidos nos quatro cantos do país destacam-se por sua importância, inclusive, como os maiores colégios eleitorais e palcos que prenunciam os embates eleitorais de 2010, o chamado Triângulo das Bermudas: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
No Rio, a inesperada ida para o segundo turno do candidato do PV, Fernando Gabeira, que concorre com o ex-tucano e agora peemedebista Eduardo Paes, aquele que chamou Lula da Silva de chefe da quadrilha e suspeitou do enriquecimento rápido do seu filho Lulinha, desencadeou uma guerra suja onde só falta dizer que Gabeira põe maconha na merenda das criancinhas. Detalhe, Paes é apoiado pelo PT.
Mas nada simboliza tão perfeitamente o modo PT de fazer politicagem do que a eleição
Naquele cenário, a petista Marta Suplicy (ou Favre ou Wermus), que ganhou o apelido de Martaxa por ter se excedido em taxações quando era prefeita, e que foi autora do famoso conselho relaxa e goza aos atormentados passageiros que sofriam nos aeroportos com o apagão aéreo, agora bateu seu recorde quando indagou, numa insinuação malévola, se o adversário Gilberto Kassab (DEM) é casado e tem filhos. Imagine-se se este retrucasse perguntando se o exótico Supla continua solteiro e sem filhos. Seria processado e no mínimo taxado estridentemente de preconceituoso.
Naquela costumeira tática de inverter a situação, a petista se colocou como vítima de preconceito e disse que não sabia sobre a venenosa insinuação. Ela mostrou, assim, ser exemplar cópia do presidente da República, que nunca sabe ou vê nada e se coloca como eterna vítima, apesar de ter sido eleito na quarta tentativa de chegar lá e reeleito.
Mas além da sordidez habitual da politicagem, não podia deixar de aparecer outra, digamos, arma de campanha: a violência. Em 2006, quando concorria à presidência Geraldo Alckmin, um inusitado terrorismo do PCC deixou os paulistanos apavorados. Agora, uma estranha manifestação de policiais civis, armados, politizados, incitados pela CUT e pela Força Sindical, que invadiu a área de segurança em frente do Palácio dos Bandeirantes, culminou em embates com a Polícia Militar, que cumpriu com seu dever de proteger o Palácio e o governador. Em que pesem as razões dos policiais civis que reivindicam melhores salários, esse ato violento e insuflado pelos apoiadores de Marta Suplicy não deixa de prenunciar o que virá em 2010. Os futuros adversários do PT que se cuidem.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.