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quarta-feira, outubro 29, 2008

No Blog Imprensa Marrom, uma coincidência de visões entre este que lhes escreve e o redator daquele Blog. Em destaque, a tola arrogância petista.
RR

O QUE SERÁ DA RELIGIÃO PETISTA COM O FIM DO MANDATO DO MESSIAS?

O petismo é uma religião e já escrevi a esse respeito neste blog (aliás, isso foi bem antes de quando alguns críticos diziam que eu "comecei a falar mal do PT, basta conferir a data do texto...). Os petistas usam o dogmatismo, ou seja, aplicam premissas sagradas, verdades sacrossantas, como se fossem axiomas existenciais. E, junto a isso, há um Messias, o Salvador, encarnado na figura do líder máximo, que é Lula.

Mas Lula só vai até 2010. Dali em diante, o Presidente se retira para sua merecida aposentadoria em São Bernardo do Campo, e o partido simplesmente não tem qualquer outro nome para concorrer à Presidência da República.

Vamos por partes.

O Equívoco do Messianismo
Nos EUA, tanto Republicanos quanto Democratas não são idiotas a ponto de construir sua história baseados em UMA ÚNICA FIGURA. Pessoas vêm e vão, partidos ficam. O PT, não. O PT criou-se e se manteve em cima de uma única figura.

Toda a vida do Partido dos Trabalhadores consiste na sustentação do mito de Lula. Seus admiradores narram tal trajetória política como uma saga de perseverança, mas por outra ótica isso pode ser visto como o maior caso de egoísmo político de todo o Ocidente.

O PT, portanto, não apenas "depositou suas fichas" em Lula, mas FIRMOU SUA HISTÓRIA na figura do Presidente da República. Não foi gratuita, portanto, a blindagem que se armou ao seu redor quando houve os sucessivos escândalos, mesmo quando envolviam Ministros próximos, Presidente de seu partido, seu filho e quem mais fosse.

Um petista - e daí vem o pensamento dogmático - é capaz de pôr a culpa no Governador de São Paulo por uma cagada da PM num caso de cárcere privado em Sto. André. Mas eles se recusam a imputar qualquer culpa a Lula quando se trata do Mensalão, ou da quebra do sigilo do Caseiro, ou do caso da ANAC, ou da fusão com o patrocínio do Lulinha, ou o escândalo do Waldomiro, ou os casos do 1º Compadre etc.

Isso é dogmatismo puro e simples. É como pensam os religiosos, que não aceitam determinadas rupturas, pois elas acabariam com as premissas maiores sustentadoras de sua fé. Não entra em questão a idoneidade de Lula. Ele é infalível e fim de papo. Isso não se discute. É um dogma.

Essa estultice filosófica, sustentada por uns na base da inocência, por outros com certa alegoria acadêmica, e por alguns outros por puro oba-oba de torcida, fez com que o partido se transformasse numa coisa extremamente messiânica.

O Salvador, como sabemos, é Lula.

Os Quadros Podres
Toda religião que se preza deixa tudo mais ou menos organizado para a ora do retiro do seu Messias. Ou então, como é mais comum, inventam um Messias com proezas impressionantes. O PT não pode recorrer a nenhum dos dois expedientes. Isso porque nada está organizado e o tal Ungido ainda exerce o mandato.

O favorito seria Dirceu, mas de Waldomiro a Mensalão, convenhamos, o melhor que ele pode fazer na vida pública é manter um blog. Na privada, é consultor de Carlos Slim, um dos homens mais ricos do mundo que, sabe-se lá por que cargas d'água achou por bem pedir conselhos a Zé Dirceu.

Eu, que sou pobre, não pediria. Vai ver, é por isso que sou pobre...

Genoíno assinou os contratos de Marcos Valério e, a exemplo de Lula, tentou mandar um "eu não sabia". Mas, bom, ele não tem a "infalibilidade". Messias é só o Messias, Genoca! Você não, violão! Saiu mudo, mas não voltou calado. Preparou alguns textos sobre "direita" e "esquerda", nos quais diz que "direita" é "direita" e "esquerda" é "esquerda".

Outro petista abatido pelo Mensalão que, pelo andar da carruagem dos atuais artigos políticos, não parece propenso a concorrer a nenhum cargo público de grande relevância.

Mercadante, cuja última eleição de grande relevância vencida foi a prévia interna do PT, acabou afundado no escândalo dos aloprados e levou pito público - embora indireto - do próprio Lula. Não era, até então, quadro ruim, mas esse caso o transformou num quadro péssimo.

E, depois do calor que Suplicy tomou de Afif na última eleição para o Senado, e com esse desempenho de Marta na capital, convenhamos, Mercadante deve estar com as manguinhas de fora.

Jaques Wagner, depois do resultado em Salvador, talvez não queira falar na palavra "urna" nos próximos meses e só aceite falar em "eleição" daqui a um ano e meio. Tempos atrás, petistas vinham dizer que ele seria um dos sucessores naturais de Lula. Hoje tento achar essas pessoas, mas não as encontro em lugar algum. De todo modo, não é um "quadro podre", que eu saiba.

Temos Dilma Roussef, que fez campanha no Rio Grande do Sul, em São Paulo e - não sei se é verdade - em Curitiba. Por onde passou, ao contrário de Átila, o capim não foi afetado, mas o PT não se elegeu e levou sarrafo. Sua presença na câmera me deixou tão entusiasmado que pensei em abrir um debate sobre a eutanásia - no caso, em mim mesmo.

Além dessa poderosa oratória, que só deveria ser ouvida sob prescrição médica e com guia especial, ela está envolvida no caso do Dossiê (o último presente recebido em vida por Ruth Cardoso), na interferência na ANAC no leilão da Varig e no caso BrTOi (antes do governo liberar a fusão, ela se reuniu com Greenhalgh, aquele a quem Daniel Dantas chama de "Deus").

Dilma está pra lá de ruim na foto.

Quem mais o PT tem? Tarso Genro? Ele largou o Ministério da Educação para fazer campanha política para o Lula, quando estourou o Escândalo do Dossiê dos Aloprados. Convenhamos: um MINISTRO QUE LARGA O GOVERNO PARA FAZER CAMPANHA POLÍTICA, ou seja, que privilegia o partido em detrimento do País é, para dizer o mínimo, uma pessoa inepta para a Presidência da República.

Enfim, qual o outro "quadro" do PT? Nenhum. Simplesmente NENHUM. Não há qualquer outro. Ah, já sei... A Marta? Ok, estou falando sério. Quem o PT poderia lançar para a Presidência? Pois é...

O Messianismo consiste na proteção do Salvador. E, para protegê-lo, foi preciso FRITAR bons quadros. Com essa fritura, não sobrou ninguém para suceder o Ungido. E agora o partido vai ter que cortar um dobrado, tirar leite de pedra, caminhar sobra as águas e assim por diante.

A Arrogância Infinita
Há pessoas arrogantes. Eu, por exemplo, sou assim. Falo besteira até dizer "chega", mas, mesmo assim, sou arrogante pra caramba. E me divirto com isso, porque os interlocutores ficam putos da vida e querem me bater. E eu fico ainda mais arrogantes. E querem mais e mais me bater. Até que, enfim, vêm para as vias de fato. E eu saio correndo.

O PT consegue ser uma INSTITUIÇÃO ARROGANTE. Não aceita dividir nada. Esqueçam essa história de lançar fulano e sair com a vice. É papo-furado e qualquer macaco velho da política sabe de cor e salteado que, mesmo acontecendo isso, no dia da posse já estoura um escândalo e tem Impeachment, o partido rompe e fim de papo.

Quem quer que se alie ao PT, vai pegar a vice. É isso e fim de papo. O PMDB é a menina dos olhos, todos sabem disso. Há muita água para passar debaixo da ponte e não convém fazer cálculos, mas é bom que o partido tenha alguém com mais de 20% de intenções de voto até novembro de 2009.

De todo modo, ainda assim, aposto minhas fichas que o PMDB não fecha com o PT. Ele fecha com o PSDB ou, no máximo, declara sua (temível para o Governo) "neutralidade". E aí, todos sabemos, nas maiores e mais importantes regiões vai fechar com o candidato tucano. Dessa vez, porém, sem Lula concorrendo.

O Messias Intransferível
Ao contrário do que se suporia, o Messias não transfere seus poderes milagrosos. Houve dois grandes testes nessas eleições: Natal e São Bernardo. Duas derrotas. Epa! Mas em SBC o PT ganhou! Calma, vou explicar.

Em Natal a derrota foi LOGO NO PRIMEIRO TURNO o Ungido foi conferir a quantas anda seu poder de transferir votos onde há transferência de renda. O resultado não poderia ser pior, com direito ao vexame de perder justamente para um inimigo, José Agripino.

Em São Bernardo, sua Nazaré, nosso Messias empenhou tudo que pôde para eleger o Ministro Marinho, ex-presidente da CUT. A campanha de Marinho, aliás, teve previsão de singelos R$ 15 milhões - provavelmente, o valor mais alto de "voto per capita" do país.

(um aparte: digo sua "Nazaré" porque, assim como o Ungido original, o Ungido não nasceu lá, mas sim em Garanhuns, que vem a ser sua Belém)

O resultado, porém, não foi a vitória esperada. Em princípio (assim como em São Paulo, aliás), falava-se numa goleada no primeiro turno. Nada disso. Foram para o segundo e, mesmo nessa etapa, as coisas terminaram sem uma grande lavada. O tucano Morando teve 41% dos votos. Para se ter uma idéia do que isso significa, basta lembrar que, em São Paulo, marta não chegou a ter nem 40%.

Em suma, embora seja bobagem dizer que a eleição municipal sirva de prévia para a sucessão presidencial, para uma coisa ela serviu: comprovou que o Messias não transfere seus poderes de caminhar sobre as águas, transformar água em vinho e outras milongas.

Pode ser que até 2010 ele treine melhor esse milagrinho, vamos ver. Por enquanto, está mal das pernas. Vem uma crise por aí e, com ela, recessão. As bolsas subiram, e essa subida veio acompanhada de notícias bem pouco interessantes: demissões, cortes etc. etc. etc.

Empresas anunciam arrocho, governos anunciam pacotes, investidores entendem que o mercado volta mais ou menos aos eixos, a bolsa sobe. Mas, no cômputo do mundo real, estamos sim em crise.

E o Messias deve se preocupar com esse mundo, o real, o que nos leva ao próximo tópico.

Falta de Bons Quadros Técnicos
Marta disse que pegou São Paulo após uma nuvem de gafanhotos (ela nunca usou o coletivo adequadamente, mas aqui eu quebro um galho porque não é hora para mágoas). Diante da praga desses gafanhotos, recorreu a um quadro tucano: João Sayad, hoje Secretário de Serra.

Lula, ao assumir a Presidência, foi atrás de outro tucano: Henrique Meirelles - afinal, precisava manter o Plano Real, desenvolvido pelos técnicos ligados ao PSDB durante o Governo Itamar.

Se por um lado o PT sacrifica quadros políticos para salvar a pele do Messias, por outro parece que nunca se preocupou em formar bons quadros técnicos, pois, quando se elege, trata de "pegá-los de favor". Nessa hora, o partido ao "pior inimigo", sempre em nome do espírito republicano.

A verdade é que o PT tem, sim, quadros técnicos, só que não confia neles. Carlos Lessa, antigo Presidente do BNDES, foi praticamente escorraçado do banco, por divergir da política do Governo Federal. Mercadante sempre foi apontado como um "cargo do setor econômico", mas nunca assumiu cargo algum, restando a Fazenda ao médico Palocci, pois Lula nunca lhe deu bola.

Dirceu é formado em Direito, mas parece que tirou diploma em "errado". Ok, essa foi piada.

Mas, persisto: quais são os grandes quadros técnicos do PT? Estão nas faculdades de ciências humanas fazendo críticas filosóficas e metafísicas à existência humana? Estão nos palcos dos teatros amadores? Estão compondo versos lindíssimos contra os malévolos neoliberais?

Pois é, ninguém sabe.

Aí aparece um, com tal titulação acadêmica e diz que é o "fulano de tal da inclusão digital", e eu sei o que ele fez no verão passado, e sei que ele não sabe fazer um "O" dando a volta com a caneta num copo (como diria Motumbo). Então, melhor deixar assim.

Enfim...
O PT, lá no começo, não foi criado para ser um partido messiânico. Mas, ao longo dos anos, tornou-se uma religião, com direito à figura do Salvador. Os quadros políticos de maior destaque foram, um a um, alvejados para preservar o Altíssimo, a ponto de literalmente não sobrar ninguém.

Além disso, quando aperta o sapato, o partido corre atrás de bons quadros técnicos do PSDB ou partidos que são apontados como "inimigos" (como faz hoje Lula e já fez Marta e fizeram, fazem e farão tantos outros, porque é necessário, ué).

Por fim, Lula é dotado de infinitos poderes, mas não transfere votos. Talvez consiga aprender esse truque até 2010. Se não conseguir até lá, o Messias se recolhe à aposentadoria, e os devotos professarão sua fé nas missões espalhadas nos grotões ainda dominados pelas igrejinhas do partido.

Amém.

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