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segunda-feira, abril 14, 2008

Do Blog de Orlando Tambosi.


Caro amigo: o anti-intelectualismo grassa nos meios totalitários. Se Platão cunhou o termo "misologia" para marcar com ferro ardente os inimigos da razão, os totalitários de "esquerda" ou "direita" odeiam pensar. Eles só captam ordens: faça isso ou aquilo.O resto, fica para a "direção do movimento". Foi assim no stalinismo, no nazismo, no getulismo, no regime dos militares ("Prá frente Brasil", "Ame-o ou deixe-o") e assim la nave va. O "pensamento" totalitário é pavloviano. Apenas pavloviano. Alguns são lombrosianos, mas é outra conversa. Eles não falam, mordem. Sua baba gosmenta tenta paralisar o pensamento. É simples. "Intelectual", na esquerda e no PT, seu ícone nacional, é sinônimo de "leproso". Isso explica, em parte apenas, o comportamento servil dos universitários petistas diante do pequeno Apaideuta. Teve época em que filósofos e sociólgos falavam "de que" para adular o microscópico líder. O culto do ignorante começou nos estádios de futebol de São Bernardo, ainda na ditadura. Orfá de lideranças, a esquerda classe mediana se jogou nos braços (ou sob o sapato) do pequeno timoneiro. Surgiu a guarda pretoriana dos intelectuais militantes, que não têm pejo das bravatas e maracutaias de sindicalistas [estes hoje tomam uísque com o nosso dinheiro] e políticos que dão risada dos antigos ódios [Collor abraçado pelo apaideuta, Maluf idem, Quercia também]. E os rapapés continuam. Quanto mais servís, mais as espinhas são curvas. André-Leroi Gourhan, comentando a evolução tecnológica do corpo humano, durante milênios de penosos esforços, mostra que a posição ereta ajudou a gênese do pensamento. Primeiro, ao erguer-se sobre as patas traseiras, o ente que será homem diminuiu a tração sobre a cabeça. O queixo fica menor, mais leve, aumenta a caixa craniana. Com a mudança, os olhos se liberam, e os ouvidos. Surge a visão mais ampla e profunda do espaço, aparece a noção do tempo. Os matizes do mundo natural se revelam ao observador novo, com seu queixo menor e sua visão acurada. Surge a ligação das mãos com a boca, agora em registro diferente, claramente instrumental. Tudo ligado à pequena mudança na postura da espinha. "Somos inteligentes" diz o etnólogo, "porque ficamos de pé". Esteja ele errado na descrição do avanço tecnológico do corpo (mas ele foi um pesquisador rigoroso), a frase é imorredoura :"Somos inteligentes, porque ficamos de pé". Fanáticos ou bajuladores ignoram os custos e a beleza da posição ereta . Os custos, porque ficar de pé é muito caro, sobretudo em grotões da alma como assim dito Brasil. Insultos, calúnias, perda de recursos e de amigos, tudo é muito triste.
Mas belezas: a paisagem é mais ampla, polifacetada, com miríades de cores ignoradas por quem só enxerga em branco e preto. É bonito ficar de pé!

Quem se abaixa ao ponto de queimar livros, máximo da postura em pé do ser humano, rasteja sua torpeza. Fanáticos apenas rastejam. Intelectuais que bajulam e rastejam, merecem todo asco dos que vivem na condição reta.

Roberto Romano


Domingo, 13 de Abril de 2008
O horror

Professores queimando livros!

Só agora acessei a notícia da Veja, que transcrevo na íntegra. Jamais imaginei professores queimando livros - nem que fossem exemplares do Mein Kampf, de Hitler (no labirinto da história, aprende-se com os erros). Orlando Tambosi

Livros em chamas remetem a períodos de obscurantismo na história. Foi assim na Inquisição, cinco séculos atrás, quando obras contrárias à doutrina da Igreja Católica eram queimadas em praça pública. Essa também foi uma prática dos nazistas. Em doze anos no poder, eles carbonizaram milhares de volumes em macabras cerimônias noturnas em que as chamas produzidas pelo papel queimando-se eram luzes que anunciavam as trevas da intolerância. Poucos dias atrás, a cena de uma fogueira de livros, no centro da cidade de São Paulo, ecoou esses tempos sombrios. O episódio, por si só, já chamaria atenção. Piora ainda mais o quadro saber que a iniciativa partiu de um grupo de professores, justamente de quem mais se espera o apreço à diversidade de opiniões. Os responsáveis pelas labaredas são da Apeoesp, o maior sindicato de professores de São Paulo. Enquanto os livros desapareciam com o fogo, eles gritavam: "Quei-ma, quei-ma!".
A razão para a indignação dos sindicalistas também surpreende: eles protestavam contra o novo currículo escolar produzido pela Secretaria Estadual de Educação. De quebra, colocaram na fogueira algumas das apostilas fornecidas pela secretaria. O currículo contra o qual eles se posicionam é um documento que organiza o conteúdo a ser transmitido aos alunos da rede pública – com metas estabelecidas para cada aula do ano. Deveria ser bem-vindo, mas os sindicalistas decidiram reduzir alguns dos exemplares a um punhado de cinzas por considerá-lo, antes de tudo, uma afronta à liberdade de o professor conduzir sua própria aula. Em segundo lugar, por julgá-lo "limitado" e "incapaz de formar cidadãos", segundo palavras do professor Carlos Ramiro, o presidente da Apeoesp.
A pregação ideológica do sindicato não tem confirmação nas pesquisas. Elas indicam que os alunos sempre têm desempenho melhor naquelas escolas em que os professores são guiados por metas de ensino – algo elementar, mas ainda uma raridade no Brasil. Enquanto em outros países o currículo já é, há tempos, artigo básico, aqui os professores de escolas públicas começam a ser apresentados a ele só agora e ainda em poucos estados, como Minas Gerais e Tocantins. Não resta dúvida, portanto, sobre o mérito da iniciativa de São Paulo – e sobre a falta de razão do violento protesto do sindicato. Diz a secretária estadual de educação, Maria Helena Guimarães de Castro: "Os sindicalistas são corporativistas. Eles rejeitam qualquer instrumento que permita a prestação de contas da escola à sociedade". Com o novo currículo, os professores passam a estar mais sujeitos à cobrança sobre o que ocorre em sala de aula e terão, finalmente, de se pautar por um objetivo mensurável. Esse é um cenário que favorece o ensino de qualidade. A fogueira dos sindicalistas sinaliza que a preocupação central deles é a política e não a formação dos alunos. Uma pena.

Boa noite, tenho aulas amanhã.

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