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sábado, abril 19, 2008

Quando era menino, escutava o meu avô repetir em tom solene: "nesta casa, não entra farda ou batina". As razões eram

dadas e nenhuma delas era de esquerda. Conservador, o idoso cidadão herdou as teses iluministas e anti-clericais.

Quando entrei para o convento, ele deixou de falar comigo durante os 12 anos em que estive na Ordem de São Domingos.

Encontrei muitas batinas que mereceriam entrar na casa de meu avô. Fardas, em número menor, mas honradas e

merecedoras de respeito. O que mostra algum erro no paradigma de meu ancestral.

Aprendi, no entanto, que o poder exercido pelos dois segmentos pode ser tirânico.

E aprendi na própria pele.

Quando se trata de açular fardas ou batinas, prefiro ser ingênuo, a colaborar para a instauração de tiranias, cuja desculpa

sempiterna é a insustentatibilidade do governo atual.

Certa feita, contavam no convento, um irmão leigo procurou Tomás de Aquino, dizendo-lhe que um boi voava sobre a cidade.

O filósofo correu para a janela, para observar o inusitado fenômeno.

Após as gargalhadas e as invectivas do irmão leigo, devido à sua ingenuidade, o pensador replicou:

"Prefiro ser ingênuo, a acreditar que um frade possa mentir".

Digo o mesmo. Prefiro ser ingênuo a acreditar que democratas atenuem o perigo de um golpe militar, ou pior, o apoiem.

Sou contra e serei contra o golpe planejado pelos aduladores do atual presidente, e por ele mesmo.

Lutarei no limite da minha vida contra um procedimento golpista do governo.

Mas também lutarei, até os limites últimos, contra golpes de Estado.

E ao ler a nota do presidente do DEM, percebi nela golpismo puro. O mesmo golpismo que levou o líder ACM a todos os

postos da ditadura. Em companhia de Maluf e quejandos.

O fato de Maluf hoje integrar a base aliada, só mostra o sentido de oportunismo dele e dos que hoje o festejam no Planalto.

Insisto: para quem é democrata (mesmo ingênuo e graças ao bom Deus eu o sou) o mandato do atual presidente não é dele,

mas do povo que o elegeu legalmente e com legitimidade.

Retirar a faixa presidencial de seus ombros (que não julgo dignos daquele símbolo) só com a sua renúncia, impeachment

legal ou morte. Ou com a eleição de um opositor digno da democracia (é difícil encontrar alguém assim nas hostes políticas

nacionais). Gostaria de lembrar aos espertos, que Carlos Lacerda e outros também se imaginaram nada ingênuos. Acabaram

na rua da amargura, e os militares "governaram" o país contra todo e qualquer sentido democrático.

Roberto Romano

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