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segunda-feira, abril 23, 2007

PELAAMORDEDEUS, MINISTRO! O SENHOR DEVE PARAR COM ISSO, OU APRENDER COM CASSANDRA RIOS!

Eros Grau, muito sensual
Com mais de 30 livros jurídicos publicados, o ministro do STF Eros Grau lança amanhã, em Brasília, e no dia 3, em São Paulo, seu livro "Triângulo no Ponto" (Nova Fronteira), um balanço dos anos de chumbo com passagens que o ministro define como sensuais. Abaixo, alguns trechos:


"E Haydée, também a pele muito branca, algumas rugas, seios já murchos, ventre e púbis porém pequeninos e, nele, reentrância de adolescente. Uma grande mestra, minha mestra de sexo. Caminhava, depois do amor, em direção ao banheiro, inteiramente nua, um naco de folhas de papel higiênico no entrepernas. Um quadro digno de Degas."


"Os dois entraram na casa para buscar alguma coisa. Xavier abraçou-a, juntou seu corpo ao dela e ela sentiu o pênis teso. Tirou para fora e pediu-lhe que pegasse. Foram não mais do que dois ou três segundos, agarrou e largou, como se tocasse um ferro em brasa -era, de fato, um ferro em brasa. Uma amiga, ao voltar da lua-de-mel, contou-lhe que, quando entrava, era como se aquela coisa viesse, por dentro, até a garganta."


"Contou que ao entrar na sauna, no dia anterior, ela lá estava, nua, como se o esperasse. "Uma putinha", afirmou outra vez, "uma putinha com peitinhos de perdiz".


"...Sílvia é desfrutada pelo sujeito safado que sonha com ela, beija na boca, mão no peitinho esquerdo, ela ergue um braço, o sujeito descobre que ela tem ombros e axilas sensuais, escorrega a ponta dos dedos, por baixo d'água, entre os grandes lábios, Sílvia se faz de besta, finge que não é com ela, mas tome beijo na boca, goza..."


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COMENTÁRIO


Os juristas adoram ridicularizar os "leigos" que insistem em dizer coisas sobre a lei, o direito, etc. sem a necessária formação em ciências jurídicas. Mas alguns, não percebendo até onde vai o ridículo no mundo intelectual, e até onde podem ir com sua pena ou teclado de computador, arriscam versos de pé quebrado, romances nada inventivos, trechos apimentados apenas no seu gosto um tanto, data venia, brega. E data maxima venia, seria bom poupar o leitor de espetáculos literários deprimentes, como os trazidos nos exemplos acima. Voltaire foi perseguido pelo seu "protetor", o rei Frederico, porque não aguentou e, ao ler os poemas do soberano, escreveu para toda a Europa culta que o dono da Prússia era grande produtor de "porresias". É de fato um porre constatar que pessoas altamente qualificadas em seu campo de trabalho, julguem-se no direito de impôr suas "obras" ao pobre cidadão. O setor ora visitado pelo ministro é antigo. Ele tem, pelo menos, a idade de Aristófanes, chegando a Chaucer e boa parte do Renascimento, chegando a Sade, etc. É um campo árduo, cujos resultados, mesmo em escritores soberbos, não raro decepcionam. Sade, por exemplo, usa como pimenta de seus mais virulentos romances, a própria moral. Quanto mais a situação é insustentável, do ponto de vista ético, mais ele cerca o evento que idealiza e descreve com a moldura de frases morais. O que piora o crime que está sendo cometido, a blasfêmia, etc.
Emile Benveniste, num belo artigo sobre o "juron", mostra que a blasfêmia só funciona bem...quando o enunciador acredita naquilo que insulta. Assim também na literatura em pauta. E a crença não é do escritor, mas do personagem por ele ideado.
Cassandra Rios, escritora que reinou no universo dos jovens nos anos 50/60 do século passado, soube explorar a lição de Sade. Suas pornografias são envolvidas por frases de "indignação moral". E o sabor do pecado aumenta, muito... Mario Praz (A Carne, o diabo e a morte na literatura romântica) cita um autor que fornece a receita do sucesso em livros cinzentos: "junte uma jovem bela e inocente, um rapaz valente e de bom coração, também inocente, e os una a um velhote rico, avarento e luxurioso. Você terá todas as histórias escabrosas do mundo".

Mas no caso do ministro cujo nome é Eros, o único comentário que deveria ser feito, seria apenas o seguinte:

"Hhummmm....."

RR





FOLHA DE SAO PAULO, MONICA BERGAMO. 22/04/2007.

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