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quinta-feira, abril 26, 2007

No Blog de Marta Bellini....peço para comparar os artigos, o meu, com o mesmo tema, e de 2004....

26/04/2007

Pelegos outra vez 1



(em outras palavras, estamos falando da CUT)

Jânio de Feitas, Folha de São Paulo 26 de abril de 2007


OS SINDICALISTAS AGRACIADOS no atual governo com a oportunidade, em ministérios e outros postos influentes, de fazer alguma coisa coerente com o sentido do sindicalismo mostraram-se, todos, omissos ou desleais para com sua origem de classe.

Sindicalistas mais apegados ao poder e a políticos do que aos seus princípios declarados constituíram -conhecidos como pelegos- uma praga que contribuiu muito para a derrocada do regime democrático em 1963/64, até o golpe. Com os modos de operação e peculiaridades determinados pelas circunstâncias atuais, bastante diferentes daquele passado, o que nos trouxeram os sindicalistas do governo é um peleguismo disfarçado na forma e idêntico aos fins do predecessor. Digamos, em homenagem à moda palavrosa, um neopeleguismo.


A proposta com que o sindicalista Luiz Marinho, ex-presidente da CUT, inaugura sua estada como ministro da Previdência é de um reacionarismo imoral. Quer esse sindicalista a redução das pensões por morte à sua metade, com o eventual acréscimo de 10% se houver, além da viúva, dependente menor. Isso, neste país que ostenta a mais indecente aposentadoria dos assalariados, assistência social que é uma humilhação e salários que não permitem ao trabalhador se prover nem sequer minimamente para os males da velhice. (Não incluídos, é claro, os privilegiados metalúrgicos das montadoras automobilísticas e outras indústrias do ABC paulista.)

Luiz Marinho passou pelo Ministério do Trabalho e lá não deixou mais que o registro contábil dos seus vencimentos e das mordomias generosas. Alguém se lembra que Jaques Wagner foi ministro de alguma coisa, fez ou disse alguma coisa aproveitável pelos sindicalizados que o elevaram a figura política? Ricardo Berzoini, que até empurra bem o PT para as aparências da sobrevida, só será ministro lembrado como precursor da investida de Luiz Marinho contra a viuvez desvalida e os idosos sem auto-suficiência. Três casos que valem por tantos outros.



Título: Renasce o peleguismo?
Data: 16/11/2004
Fonte:
Correio Popular de Campinas

Renasce o peleguismo?

Os sindicatos ajudam a conquista de direitos profissionais e civís. Mas é possível verificar uma afinidade excessiva entre partidos e movimentos sindicais, o que obstaculiza o livre movimento de ambos. Os diretores de Centrais operárias podem reduzir o seu papel ao plano de simples correias de transmissão entre governo e trabalhadores. Surge o “pelego” que adocica o amargor das medidas impostas pelos antigos parceiros dos trabalhadores, agora nos palácios. Pelegos auxiliam governos autoritários a dobrar a vontade dos cidadãos. O período varguista os conheceu, bem como a época de JK e de Jango. No governo militar os pelegos foram prestativos. Contra eles, surgiu o movimento que viu Luis Inácio da Silva como um líder. Na liberdade dos sindicatos diante dos patrões e do governo, o PT encontrou a fórmula que lhe deu crescente apoio das massas. O governo do PT deixa de aplicar a ética na política, na medida em que a “governabilidade” o conduz aos mesmos gestos das administrações anteriores. Do “é dando que se recebe” à leniência diante de irregularidades (o foro privilegiado do presidente do BC), à perseguição dos críticos que sempre foram os seus sustentáculos (as expulsões de parlamentares do PT), a ética se tornou rarefeita no ambiente petista. Some-se a traição cometida em Fortaleza e Salvador, o desmantelamento dos direitos, etc.

Agora se prepara a “reforma sindical”. Sindicatos não alinhados com o governo, preparem o lombo. Uma denúncia forte desta possibilidade encontra-se em Nota do Andes Sindicato Nacional que representa os movimentos universitários docentes do Brasil. Cito a nota: “No final de setembro, chegou ao ANDES-SN cópia de uma correspondência encontrada na impressora da sala de computadores destinada aos hóspedes do Hotel das Américas, em Brasília, que fora encaminhada ao Secretário Executivo Adjunto do MEC, senhor Jairo Jorge. Confirmadas a autoria do texto e a veracidade do tema tratado, sem dúvida, estaríamos diante de gravíssima ingerência governamental na autonomia sindical. Por essa razão, o ANDES-SN solicitou formalmente um posicionamento oficial do MEC sobre o assunto. O silêncio do Ministro, até o momento, e as evasivas do senhor Jairo Jorge alimentam as inquietações do Sindicato.

No texto, o suposto autor se identifica: ‘Meu nome é Homero Catão Maribondo da Trindade, estive junto com o Gil Vicente no seu gabinete dia 14/09/2004 por volta das 19h30, tratando entre outros assuntos da criação de um organismo, um fórum, que trate dos interesses exclusivos das Instituições Federais de Ensino Superior, onde estiveram também presentes o Ministro Tarso Genro, o Sylvio Pétrus e o Fernando Haddad. Na despedida, solicitei a sua autorização para enviar este e-mail, para tratar de um assunto inicialmente colocado para o Vladimir Nepomuceno do MPOG quando estive com ele, juntamente com o Gil Vicente, tratando entre outros assuntos de emissão da medida provisória’”.

Em 27 /09/ 2004 o Andes pediu a Tarso Genro uma audiência para tratar do assunto, mas ele não respondeu. O Andes, então, “encaminhou Notificações Extrajudiciais Premonitórias a todas as pessoas mencionadas como presentes à reunião realizada no dia 14/09/2004 no gabinete do Secretário Executivo Adjunto do MEC”. O alvo era saber “a natureza da nova entidade proposta”. Em 5/11/ 2004 o Secretário Executivo Adjunto do MEC respondeu à Interpelação. “Examinando a resposta do Secretário Jairo Jorge, é possível depreender que o referido Secretário confirma a existência da correspondência do Professor Homero Catão M. da Trindade, sugerindo uma suposta violação de correspondência”. Termina a nota do Andes. Depois das espionagens ao modo da Kroll, é estranho que o modus operandi seja tão rocambolesco. Mas o Brasil vive em ritmo de rocambole: tudo se dobra, numa curva sem fim.

Mas seria ética a correspondência sigilosa entre ministro e docentes, quando o assunto é a formação de novos organismos representativos, à revelia dos que já existem ? Se a reunião referida existiu, onde vai parar a determinação da OIT que proibe ingerências governamentais nos sindicatos? O governo não está contente com o Andes porque este último se coloca em sentido contrário às “reformas” da universidades, consubstanciadas em medidas provisórias e outros meios de fragílima legitimidade legislativa? Está o governo preparando, com a criação do “novo” organismo a “reforma sindical” que atenuará o poder de fogo do sindicato na defesa de sua categoria? Se a resposta for positiva, assistimos o renascer do peleguismo, o que envergonha os professores universitários brasileiros.

Professor Roberto Romano

Fonte: Correio Popular de Campinas

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