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quinta-feira, abril 19, 2007

No Blog de Orlando Tambosi

Quarta-feira, Abril 18, 2007

A "redação" infantil de Ruy Castro

Nariz Gelado já foi ao ponto, mas não resisti: vou botar mais uma brasa para assar essa sardinha. Um dos textos mais simplórios que já li na imprensa brasileira é de Ruy Castro - incensado biógrafo de celebridades (mortas, felizmente, porque biografar vivos é bajulação) -, publicado hoje na Folha (e reproduzido lá embaixo). Parece mais uma redação de colégio

Castro demonstra desprezo pela cultura norte-americana a propósito da chacina provocada por um estudante sul-coreano numa universidade. Culpa os gringos pela disseminação do cigarro, do fast food e das armas. E foram eles que nos inculcaram a "admiração" pelos pistoleiros. Convenientemente, o jornalista carioca não fala dos bandidos que infestam sua cidade, o Rio de Janeiro, cuja maravilha só sobrevive em crônicas. O textinho de Castro parece coisa de quem passou a vida no cineminha da esquina.

Não vejo poesia nesta lengalenga. Só vejo alguém que vive fora do próprio mundo, incapaz de discernimento sobre o que acontece hoje no Bananão. Ruy Castro pode ser um bom biógrafo de famosos, mas é péssimo observador da realidade. Análise, observação atenta do presente, não são do seu ramo. Seu Rio é a cidade de suas reminiscências. Ah, a senil memória... Pois bem, Castro é da "elite" jornalística bananeira. Não exagero ao dizer que seu pensamento reflete a média do jornalismo brasileiro. Para boa parte dos jornalistas, vivemos no melhor dos mundos. Algo compartilhado com o MST de Stédile e os bandidos.

Prefiro outro Ruy, o Goiaba.

P.S.: outro jornalista, este um chapa-branca explícito, está escrevendo a biografia do "bispo" Edir Macedo, dono da Igreja Universal e da TV Record, onde mantém programa. Se Ruy vive dos mortos, este vive dos vivos. O nome? Paulo Henrique Amorim. O que mais falta nessa área é vergonha na cara.

O que o mestre mandar

RIO DE JANEIRO - Durante quase um século, eles nos ensinaram que fumar era bacana, adulto e moderno. Para isso, tinham professores fascinantes: Bette Davis, Joan Crawford, Humphrey Bogart, Lauren Bacall. Podia-se fumar cantando, como Sinatra; dançando, como Fred Astaire; beijando, como Lana Turner. Fumava-se à vontade em elevadores, igrejas e hospitais. Nós e o mundo fizemos o mesmo.Mas, então, eles descobriram que fumar não fazia bem, e a ordem foi banir o cigarro dos filmes, restaurantes, escritórios, fábricas, shoppings, bares e até boates. Nós e o mundo fizemos o mesmo.No mesmo período, eles nos ensinaram que a comida ideal era aquela carne moída, tipo pré-digerida, ou uma salsicha de recheio incerto, servida entre dois pães e pingando, para ser devorada em pé, na rua, com as mãos. Era a fast food. E, para isso, também tinham um elenco de garotos-propaganda: do Wimpy, louco por hambúrgueres, ao gordo Bolinha e ao palhaço do McDonald's. Nós e o mundo aderimos com gula e sofreguidão.Mas, há pouco, eles descobriram que a fast food contém gorduras letais, provoca obesidade e pode levar a doenças horríveis. Nasceu uma campanha contra ela, exortando os americanos a evitá-la. E nós e o mundo, em que ficamos?Por fim, e por igual período, eles nos ensinaram a admirar os pistoleiros Jesse James, Billy the Kid e Wyatt Earp. Ficamos íntimos da Magnum 44, do Colt 45, da Winchester 73 e de outras ferramentas da civilização americana. Tanto que nos dedicamos furiosamente a usá-las uns contra os outros, entre nós mesmos.Às vezes, como anteontem, eles descobrem que ferramentas análogas, nas mãos de um animal doente e agressivo, como o ser humano, costumam ser mortíferas. Alguns até já cogitam proibi-las. Pode ser que, lá, nos EUA, eles consigam.

Bem pequeninho: perderei as poucas amizades que me restam..

UPDATE: e por falar em jornalistas, o repórter Kennedy Alencar, que já foi assessor de Lula, poderia explicar como publicou a sentença de condenação (em primeira instância) de Diogo Mainardi, em ação movida por Francolino Chapa-Branca Martins, agora ministro, ANTES MESMO QUE O JUIZ A PUBLICASSE (a notícia saiu no blog Migalhas e foi reproduzida pelo Aluízio e pelo Reinaldão). Depois dessa, vou dormir, pois não tenho vida fácil...


COMENTÁRIO:


Recordo bem, quando ainda era "teen" (se os jornais usam o termo, também posso). Havia uma peça do CPC da Une, na qual tudo, absolutamente tudo nezzte paizz, que era ruim, vinha do Norte. "Matéria plástica, que coisa drástica, que coisa elástica, entusiástica, rock balada, filme de mocinho, ar refrigerado e chiclete de bola". E depois de alguém imitar o som de um chiclete de bola que estourava, vinha o grand finale: "E Coca-Cola".

Maniqueísmo cultural e político, sobretudo no trato entre países, dá sempre em tolice, individual ou coletiva. Mas sempre é lucrativo para os que desejam apoiar esta ou aquele atitude, este ou aquele mecanismo de lavagem de cérebros.

É bom tomar tento com o maniqueísmo. Ele sempre absolve os nossos pecados, colocando-os nas costas de um bode expiatório qualquer. A cultura norte-americana em todos os seus prismas tem picos elevadissimos e abismos. Só apontar os abismos é exercício da mentira. Só louvar os picos, é trabalho que submissão colonial. Embora não goste de Hegel, creio ser de bom senso a sua recomendação de tentar, sempre, julgar a coisa na sua própria medida. Não raro, a medida usada para seguir complexos culturais são demasiado pequenas. É o que ocorre com o norte-americanismo simplório de muitas rodas brasileiras. Certa feita assistiamos o curso de Francisco Weffort, na pós graduação da USP. Uma aluna trotskysta começou a discorrer em tom simplório sobre Stalin, a burocracia, etc. Após bom tempo de silêncio da classe e do professor, que não indicava nervosismo, salvo por um piscar dos olhos insistente, Weffort falou devagar, alto e de modo peremptório: "Kátia, Stalin não nasceu e viveu em Itapecerica da Serra!". Talvez eu tenha trocado o nome da pequena cidade brasileira. Mas é isto. Tem gente que fala de personalidades (boas ou péssimas) internacionais, como se parolasse sobre o vigário de Xiririca. E também fala de culturas complexas, como se comentasse um clube da esquina. Trata-se sempre de uma questão de metro. Sobretudo, trata-se de medir o que se tem na cabeça com o objeto a ser medido. "Não vá o sapateiro além do sapato". Pode parecer odioso, mas o critério da competência ainda é o único remédio contra o charlatanismo científico, artístico, jornalistico, etc.

RR

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