Powered By Blogger

quarta-feira, agosto 22, 2007

De uma cyber house, para o Blog, o meu artigo de hoje do Correio Popular de Campinas. Com frio e tristeza

Publicada em 21/8/2007

Roberto Romano
Sombras do amanhã


No Tratado Político, existe um elogio de Maquiavel: “Sobre os meios que um Príncipe onipotente, dirigido por sua fome de dominação, deve usar para fundar e garantir o poder, o agudíssimo Maquiavel os mostrou com abundância; mas o fim visado por ele não é claro. Se tinha um fim bom, como se espera de um sábio, tal fim parece mais a tentativa de mostrar a imprudência da massa quando derruba um tirano, mas não pode suprimir as causas que transformam o Príncipe em tirano. No entanto, mais causas encontra um governante para sentir medo e mais causas surgem para tranformá-lo em tirano, como acontece quando a multidão faz do Príncipe exemplo e glorifica um atentado contra o soberano. Talvez também tenha desejado Maquiavel mostrar o quanto o povo deve se acautelar, não entregando sua salvação nas mãos um só homem que, se ele não for vaidoso ao ponto de acreditar que agrada a todos, deve temer emboscadas, obrigado a velar sempre pela sua segurança e armar ciladas ao povo(...). Estou disposto a julgar assim um autor prudentíssimo. Ele(...) é partidário da liberdade. Quando se trata de conservar tal liberdade, Maquiavel deu conselhos muito saudáveis”.

Note-se o título dado a Maquiavel (prudentíssimo). A prudência, após o Renascimento, é representada numa alegoria que une as três faces do tempo. Nela, há um velho (pretérito), um adolescente (futuro), um homem maduro (presente). Quem deseja ganhar ou manter o mando politico, deve conhecer o “Kayrós”, tempo certo de ação e pensamento. Assim a massa popular: se abdica de suas prerrogativas em prol de um homem, tal comportamento é imprudente. O politico, se aliena sua autoridade (o que em Massa e Poder é chamado por E. Canetti “o medo de mandar”), é imprudente. Aos imprudentes não cabe a tarefa de proteger a república.

No artigo anterior, mostrei o quanto estamos sob um regime que, nominalmente democrático, adquire as marcas de império policial. Falei dos escritórios de advocacia invadidos, discuti a desenvoltura com a qual os funcionários da segurança ameaçam o Estado. Um signo desta soberania cinzenta encontra-se na exigência de vários delegados, para que seu tratamento seja o de “Excelência”. Muitos usurpam o título de doutor, só concedido legalmente a quem defende tese diante de banca competente em títulos e saberes. O novo título mostra que o setor não aceita o status comum do funcionalismo que serve o povo soberano. Delegados querem dividir, políticos e seu privilégio de foro, a majestade que ignora a lei comum. Estamos a um passo da ditadura policial.

No trecho citado, o filósofo cita Maquiavel e a imprudência da massa que põe seu destino sob a arbítrio de um só homem, ou seja, apoia uma ditadura. No Brasil, o culto aos dirigentes carismáticos destruiu os projetos democráticos. A massa reiteradamente é tangida, por astúcia e propaganda dolosa, ao curral onde o líder recebe vassalagem.

Em troca, o dirigente dá aos grupos sociais o que eles precisam. Aos banqueiros e industriais, “ajuda” e subsídios, mais ausência de regulamentação. Aos pobres, esmolas e propaganda. À classe média, a oportunidade de escolher entre as fileiras dos bajuladores palacianos e o esmagamento em dívidas, por força de tributos draconianos. Temos as protocondições de uma ditadura.

Como parte dos petistas foi educada para a ditadura proletária (esta última nunca existiu, salvo em instantes de 1870 e 1917), existem as condições “subjetivas” para o golpe ditatorial, em favor do Grande Líder. A via foi aberta por Fidel Castro, o tirano responsável pela morte de seus compatriotas, aos milhares. Agora, as sendas de Hugo Chávez são anunciadas como salvação das massas. É bom saber que os ministros do STF, muito tarde, mas ainda em tempo, conhecem os procedimentos usados e abusados contra os “leigos”, que servem apenas para pagar impostos. Esta semana será decisiva: o STF age e pensa em ritmo do “Kayrós”, ou seus integrantes, breve, sofrerão o que foi imposto a Hermes Lima, Evandro Lins e Silva e outros. Da posição daquela Corte, saberemos se existem ou existirão juízes em Brasília.

Arquivo do blog