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sábado, agosto 04, 2007

Domingos Zamagna

O retorno às aulas

Domingos Zamagna (*)

O mês de agosto põe fim às férias escolares e inaugura o retorno às aulas. A escola, portanto, eclipsa as atenções quotidianas. Isso deveria ser uma festa. E, de fato, para muitas famílias se trata de uma festa, isto é, para aquelas cujos filhos têm acesso a esse patamar de excelência que são ou deveriam ser as instituições de ensino. Mas para muitas famílias brasileiras, inclusive em municípios ricos, a escola ainda é um bem proibido para crianças, adolescentes e adultos.
Se, de um lado, devemos louvar as conquistas e avanços ocorridos na esfera educacional, quantitativa e qualitativamente, de outro lado devemos lamentar a exclusão, ou a baixíssima qualidade educacional a que ainda é relegada grande parte da população. Por que? A resposta oficial é: porque a escola é a porta para a inclusão. É uma resposta parcialmente verdadeira. A escola não pode ser considerada unicamente em si mesma, isolada dessa “ars combinatoria” que integra também a família e o trabalho. Numa época em que há tanta confusão (ruptura de paradigmas, inovação tecnológica acelerada, reestruturação da produção, relativização dos valores, aviltamento das instituições políticas etc), o estudo pode representar uma grande chance, uma excepcional oportunidade para um direcionamento existencial.
Por mais que os governos se proclamem artífices da valorização educacional, temos motivos de sobra para desconfiar dessa retórica. Mesmo a quem lhes der ouvidos crédulos, convém cultivar a vigilância e, sem esperar pela parusia, cobrar a coerência que se espera de quem faz promessas sobre assunto tão vital para o destino de um povo.
É verdade que governos, famílias, professores e alunos já não falam mais a mesma linguagem. Difícil encontrar pessoas mais aturdidas do que os professores. Acabo de participar de um congresso nacional de professores. Constatamos, mais uma vez, que eles vivem quase esmagados pela insatisfação com a falta de infra-estrutura, salários insuficientes para a dignidade que o trabalho requer, a coação para se adequar exclusivamente à preparação de suprimentos do mercado. Muitas vezes a falta de horizontes fatalmente os torna repetidores mecânicos de receitas tradicionais, dificilmente suportando a pressão ideológica pelo unanimismo de pensamento, sobretudo nas universidades. Realmente, só o heroísmo os faz resistir ao falatório da moda.
Uma análise realista vai nos mostrar que, infelizmente, as escolas – públicas, privadas, confessionais etc. – muitas vezes podem se tornar o mais requintado ambiente de opressão, verdadeiros cemitérios, e ainda por cima mal administrados. Pior ainda: por delegação e chancela dos pais, da sociedade e, obviamente, do poder público. Quem tiver ampla experiência de magistério sabe muito bem o que significa trabalhar sob a orientação de reitores, diretores, coordenadores, chefes e chefetes que se crêem iluminados, sem a mínima vocação para o diálogo, tudo decidindo no consórcio monotônico de amigos, compadres ou até mesmo cúmplices.
Vamos esperar, e trabalhar, para que o novo semestre represente uma mudança de visão e procedimentos, para o bem de nossas crianças e jovens, e que se abram esperançosas portas para os professores, que são os operários da primeira e de todas as horas no universo da educação

(*) Jornalista e professor de Filosofia em São Paulo.

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