Roberto Romano Moral e Ciência. A monstruosidade no sec. XVIII
Silence et Bruit. Roberto Romano
sábado, agosto 04, 2007
Revista Isto E, no Blog de Alvaro Caputo. Pois e, ate a Isto e....
Em rota de colisão
Rudolfo Lago
Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a Cuiabá (MT) na terça-feira 31, topou logo com um entrevero entre um grupo de agentes penitenciários e 20 policiais militares. Os PMs arrancaram dos manifestantes faixas em que eles pediam a criação de uma polícia penitenciária. Dentro do carro oficial, Lula fechou o semblante. Calou-se e começou a puxar os fios dos seus bigodes, cacoete do presidente quando alguma coisa começa a incomodá-lo profundamente. Um pouco mais adiante, um grupo de cerca de 20 pessoas, de acordo com a PM, e de 60 a 70 pessoas, segundo os organizadores, preparava-se para vaiar Lula num trevo no caminho. Era o movimento “Eu também vou vaiar Lula”, organizado pelo PSDB. A comitiva foi levemente desviada para passar em alta velocidade pelo lugar da manifestação. Mesmo assim, Lula notou-a. Intensificou o hábito de puxar seus bigodes e fechouse ainda mais. Quando chegou ao Centro de Eventos do Pantanal para um evento fechado com uma platéia escolhida para aplaudir Lula e a liberação de R$ 521,5 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o presidente surpreendeu seus assessores esquecendo o discurso combinado e improvisando um duro desafio àqueles que começam a cultivar o hábito de vaiá-lo, desde os sonoros apupos que recebeu na abertura dos Jogos Pan-Americanos, no Rio de Janeiro. “Eu não estou fazendo comício. Mas se alguns quiserem brincar com a democracia, eles sabem que neste país ninguém sabe colocar mais gente na rua do que eu”, bradou Lula.
O presidente já tinha manifestado o seu desagrado com as vaias que levou na abertura do Pan e nas recentes visitas a João Pessoa (PB), Aracaju (SE), Natal (RN) e até em São Paulo, onde parentes das vítimas do acidente do avião da TAM juntaram- se a políticos e empresários numa manifestação na avenida Washington Luís, paralela ao Aeroporto de Congonhas – passeata organizada pelo movimento “Cansei”, liderado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e diversos empresários. No fim de semana passado, Lula voltou a invocar o fantasma das elites e da divisão do País entre Norte e Sul e entre ricos e pobres – dos quais ele seria o representante legítimo. “Enquanto a classe dirigente fica brigando pequeno, fica com mesquinharia, o povo fica sofrendo, na expectativa de que apareça um milagroso para salvá-lo, e não tem”, disse ele em João Pessoa (PB). “O Lula tem alguma coisa contra o Sul? Pelo contrário. Devo tudo o que sou ao Sul-Sudeste brasileiro”, bradou. Mas ao explicar a “paixão por desenvolver o Nordeste, Lula escorregou e comparou-se a um pai que dá atenção ao filho mais frágil: “A gente cuida daquele mais fraquinho”, disse na sexta-feira 27 em Natal.
Numa reunião na segunda-feira 30 no Palácio do Planalto com o grupo de coordenação política, Lula fora informado de que aconteceriam novos protestos em Cuiabá (MT). “Ninguém vai me emparedar”, avisou Lula. “Eu não vou me trancar no Palácio do Planalto com medo das pessoas. É isso o que eles exatamente querem que eu faça”, continuou. De fato, logo depois da tragédia da TAM, o presidente havia cancelado as viagens que faria ao Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, esperando que nas capitais nordestinas, onde mantém altos índices de aprovação, ele não fosse vaiado – o que não se verificou. Para complicar, pesquisas encomendadas pelo governo indicaram a queda da popularidade de Lula, principalmente em São Paulo e nas classes média e alta.
Alguns ministros argumentaram que os protestos eram ainda isolados e pequenos. O de São Paulo fora maior, não pelo desagrado com o governo, mas pela comoção com o acidente. Foi a senha para que o desafio começasse a ser construído na cabeça de Lula. O próprio prefeito de Cuiabá, Wilson Santos, do PSDB, resolveu ironizar o protesto: “Não dá para formar um time de futebol de salão”, comentou. Lula, então, animou-se. Comparou as manifestações às Marchas com Deus pela Liberdade em 1964, que deram o respaldo ao golpe militar. E completou com um paradoxo: depois de se reeleger realçando as suas políticas sociais, voltadas para as populações de baixa renda, o presidente informou que, na verdade, governou mais para os ricos. “Pobre é que deveria se zangar”, soltou.
Para Roberto Romano, professor de ética da Unicamp, Lula, envaidecido pelos altos índices de popularidade, acabou desenvolvendo uma personalidade baseada na egolatria. Romano notou que o presidente pronunciou sete vezes a palavra “eu” num programa Café com o presidente de 15 dias atrás.
“VIDA MARVADA” Lula simula tocar viola de coxo ao lado do prefeito Wilson Santos: “Sou o Almir Sater do Planalto”
Na quinta-feira 2, enquanto um grupo organizava na internet passeatas conjuntas contra Lula em 13 capitais do País a partir das 14h do sábado 4, a Executiva do PT autorizava o início da organização de movimentos de reação, de apoio ao governo, junto a grupos estudantis e sindicais. No mesmo dia, o programa nacional do PT, veiculado em cadeia de tevê às 20h30, já procurou dar algumas respostas: bateu na tecla de que o PT é o partido mais comprometido com a justiça social, com as causas dos trabalhadores, com o combate às desigualdades. E terminou com a leitura de uma nota de pesar do partido aos parentes das vítimas do acidente da TAM. Nos dias 7, 9 e 11 de agosto, irão ao ar as inserções de 30 minutos durante os horários comerciais, que terão o mesmo tom.
O acirrramento que vem sendo proposto preocupa o diretor do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra. “Eu espero sinceramente que isso não prospere. Nós estamos a três anos das eleições, e esse clima de acirramento de posições agora não faz sentido”, avalia ele. Para Coimbra, as pesquisas demonstram que a cada dia aumenta o fosso que separa os mais escolarizados dos menos escolarizados, as classes alta e média das camadas mais pobres quando se trata do apoio a Lula. “É verdade que isso se verificou já nas eleições, mas o normal seria que, passada a eleição, a coisa amainasse, e não é isso que se verifica”, observa.
“É fácil para Lula e o PT atribuírem o que está acontecendo a uma campanha da mídia, e não a seus problemas gerenciais”, diz Coimbra. Esse distanciamento, observa, não vira queda na popularidade de Lula porque ele cada vez mais compensa perdas na classe alta com conquistas de eleitores na classe baixa. Mas há um temor: cada vez mais cercado dos seus, Lula pode ficar ainda mais alheio à percepção dos problemas que exigem uma reação rápida.
O que se evidencia em todos esses episódios é a flagrante incapacidade de Lula de conviver com críticas. Essa característica é agravada pelas tentativas, às vezes veladas, às vezes manifestas, do presidente de criar uma espécie de “apartheid social”, jogando ricos contra pobres ou Norte e Nordeste contra Sul e Sudeste. Uma verdadeira rota de colisão.
Desta vez, após o maior acidente aéreo do País, a recomendação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que seus ministros mantivessem absoluta discrição está sendo cumprida. Paulo Bernardo, o ministro do Planejamento, que durante a crise com os controladores de vôo colocouse como intermediário entre as partes, agora tirou 13 dias de férias. Alfredo Nascimento, o ministro dos Transportes, submeteu-se a uma cirurgia na gengiva e deixou o Ministério por quatro dias. Walfrido dos Mares Guia, da Coordenação Política, que, em nome do Executivo, deveria estar transitando pelo Congresso onde duas CPIs investigam o caos aéreo que atormenta o Brasil, não tem saído de seu gabinete na Esplanada. Nélson Hubner, de Minas e Energia, não tem feito nenhum pronunciamento mesmo sabendo que o fantasma de um apagão ainda nos apavora. Por trás de tanta discrição, no entanto, não está apenas um contraponto ao fora de hora "relaxa e goza" da ministra do Turismo, Marta Suplicy; ou ao ingênuo "não há crise aérea e sim crescimento econômico", de Guido Mantega, da Fazenda. O que existe é uma crise interna de gestão.
WALFRIDO DOS MARES GUIA O ministro da Coordenação Política ignora a CPI do Apagão e se tranca no gabinete
Para o segundo mandato, Lula e seus principais auxiliares definiram que o presidente se dedicaria prioritariamente aos temas de Estado, como viagens, encontros com governadores e inaugurações. A gestão do governo seria responsabilidade da ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil. Mas, há quatro meses, Dilma investe quase a totalidade de seu tempo para viabilizar o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). Ela anda com um laptop debaixo do braço e diante de qualquer interlocutor abre no computador um programa no qual aparecem luzes piscando sobre cada uma das obras. As verdes indicam as que já estão sendo tocadas; as amarelas, as que estão quase saindo do papel; as vermelhas, as que estão com problemas. A ministra festeja diante das luzes verdes e perde o humor diante das vermelhas. O resultado é que ela só recebe ministro para tratar de PAC, largou todo o resto e a coordenação do governo ficou em segundo plano. Alfredo Nascimento, dos Transportes, por exemplo, tinha no projeto do trem-bala entre Rio de São Paulo seu maior trunfo político. Estava prestes a lançálo, conseguiu incluí-lo no PAC. Dilma gostou e tomou o projeto para si. Nascimento acaba de proibir seus auxiliares de se meterem com o assunto. Trem-bala agora é da ministra da Casa Civil. Dilma também não delega. "Com essa postura da ministra, o governo fica catatônico", disse um ministro.
PAULO BERNARDO O ministro do Planejamento pegou a família e tirou férias de 13 dias
No Congresso, os partidos aliados do Planalto, PMDB, PR, PP, todos reclamam das promessas de nomeações não cumpridas. O setor elétrico, por exemplo, no início do ano foi todo prometido em loteamento político para o PT e PMDB, mas nada aconteceu. Entre os parlamentares, Walfrido dos Mares Guia virou alvo das queixas. Ele próprio se queixou a um amigo que até hoje não montou a base leal do governo no Congresso porque não consegue cumprir as nomeações e liberações de verbas prometidas. Mares Guia não despacha nomeação com Lula, só com Dilma. "Só consigo apagar incêndio", desabafou o ministro. Na quarta-feira 1º, depois de a bancada do PMDB na Câmara ameaçar fatiar a CPMF com os governadores, saiu a primeira nomeação, de Luís Paulo Conde, para Furnas. Nesta semana, promete Mares Guia, o nó deve ser desatado.
NELSON HUBNER Ainda interino, o ministro de Minas e Energia não fala nada, apesar do fantasma do apagão
MARTA SUPLICY Após o desastroso "relaxa e goza", a ministra do Turismo evita abrir a boca
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