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quinta-feira, janeiro 17, 2008

NO BLOG CIÊNCIA EM DIA (MARCELO LEITE).

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Ciência e Sociedade

Marina Silva criacionista. Pode?

Talvez seja uma questão de coerência, mas nem por isso deixa de ser criticável.

A Folha de S.Paulo de hoje publica uma nota sobre a participação da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, num congresso de criacionismo (doutrina religiosa sobre a criação do mundo e de suas espécies que se opõe à explicação darwiniana, que privilegia a seleção natural e dispensa a noção de um Criador). Foi o 3º Simpósio Criacionismo e Mídia, que aconteceu de 10 a 13 de janeiro no campus Engenheiro Coelho do UNASP (Centro Universitário Adventista de São Paulo).

Depois, por meio do blog Idéias Antigas, fiquei sabendo que a ministra deu entrevista ao blog Porque Jovens Adventistas É O Q Há (...):


É de doer. Ninguém ignora que Marina Silva seja uma pessoa religiosa, mais precisamente evangélica da Assembléia de Deus. Isso nunca impediu que ele fosse admirada por muitos ateus que, honestamente, rendem homenagem à história de vida que a conduziu ao Senado Federal e ao Ministério do Meio Ambiente. Eles agora a admiram um pouco menos por vir a público, revestida da condição de uma funcionária de relevo do Estado leigo, defender que o ensino de noções anticientíficas seja uma questão de escolha individual, entre várias opções de explicação da criação do mundo.

Marina Silva está pura e simplesmente errada ao afirmar que não podemos explicar a natureza pela evolução darwiniana. É a melhor explicação científica que existe. Nem a Bíblia nem o Design Inteligente podem ser colocados no mesmo plano, como conhecimento. Sou o primeiro a defender que a fé dessas pessoas não precisa ser atacada com diligência fervorosa, como propõem Richard Dawkins e Christopher Hitchens, mas não creio que a ministra tenha o direito de fazer - em público, repito - tamanha confusão entre suas convicções pessoais e sua condição funcional.

Tampouco se trata de pedir à ciência que mostre a mesma abertura para a religião que esta estaria dando para a ciência. Se fosse só isso seria um chamado à tolerância, que a maioria das pessoas de bem ou de bom senso assinaria embaixo. Não, ao reivindicar o mesmo status de conhecimento da ciência, que mal ou bem se submete e corrige pelo teste da empiria, o criacionismo - que não é uma teoria científica, pois não tem apoio em fatos e não é reconhecida como tal pelos praticantes da ciência - espera que a investigação científica se curve, abrindo mão de seus critérios.

No fundo, é o que fazem Dawkins e Hitchens, mas com o sinal trocado: esperar que a fé seja submetida aos testes da ciência. Nos dois casos, uma exigência intolerável (mesmo para quem se sente mais próximo deles que da ministra no que respeita à explicação do mundo).

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