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quarta-feira, janeiro 16, 2008

NO BLOG PANORAMA de Mario Araujo Filho, um artigo que deveria ser discutido pelo pretenso "movimento docente" universitario.

Campina Grande, 12 de janeiro de 2008

Universidade: quantidade e qualidade

por Mário Araújo Filho (*)

De cada cem alunos que ingressam na universidade, pelo menos noventa deverão concluir o curso. Essa é uma das metas do programa REUNI, de reestruturação das universidades federais, baixado pelo governo, e ao qual aderiram – de forma praticamente compulsória – a quase totalidade das instituições.

Desde que o programa foi anunciado, a taxa de conclusão de 90% vem causando polêmica. A interpretação imediata entre os professores foi a de que, em cada turma de alunos de uma dada disciplina, o índice de aprovação deverá ser também de 90%, para que a meta global seja atingida no tempo médio de duração do curso de graduação considerado.

Levando em conta que há uma evasão dos cursos praticamente inevitável (embora possa ser minimizada), a meta concluintes/ingressantes de 90%, imposta pelo governo, remete-nos à “aprovação automática” nas escolas públicas, objeto de críticas de pais e professores. É isso o que se pretende a partir de agora para as universidades federais?

É grave nos dois níveis, mas há uma diferença significativa entre “passar sem saber” no colégio e “passar sem saber” na universidade. No primeiro caso, o estudante do ensino médio levará para a universidade as lacunas da sua formação, na esperança de que lá sejam supridas, o que acaba não se concretizando. Na universidade, as deficiências de formação serão levadas para o exercício profissional, para o mercado de trabalho e a sociedade, com conseqüências danosas e previsíveis, particularmente nas profissões que afetam mais diretamente a vida das pessoas.

Não se nega a necessidade de políticas e ações de combate ao abandono dos cursos superiores, com foco nas causas do fenômeno da evasão: qualidade do ensino básico, componente vocacional, qualificação docente, metodologias de ensino, questões didático-pedagógicas, assistência estudantil etc. E nesses terrenos, diga-se, tem sido precária, insuficiente – ou mesmo nula, em alguns casos – a ação governamental.

O que se deve questionar, e muito fortemente, é a sinalização clara do programa REUNI de que, na ótica dos seus mentores, mais interessa a QUANTIDADE de graduados do que a sua QUALIDADE. É notório que essa concepção perigosa (para a sociedade) pode resultar em números vistosos com repercussões eleitorais, mas o preço social a pagar pode ser muito alto.

(*) Professor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

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