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sábado, julho 26, 2008

Atendendo ao pedido do autor, segue o texto para análise e debate.
RR


Peço que divulguem meu artigo, levando-se em consideração o INTERESSE PÚBLICO da questão. Não deu para fazer a revisão geral, mas como primeira versão é o que interessa. De qualquer forma autorizo a utilização do conteúdo do mesmo. Atenciosamente,

Otávio Luiz Machado
PROENGE/UFPE
Caixa Postal 7828
CEP: 50.670-000. Recife-PE


A nova sede da UNE, recursos públicos e como R$30 milhões comprou a UJS do PC do B: E o Interesse público?

Otávio Luiz Machado*

Foi com as seguintes palavras que o escritor Gabriel Gárcia Marquez lançou uma mensagem aos jovens em 1999 na França: "Não esperem nada do século XXI , pois é o século XXI que espera tudo de vocês. É um século que não chega pronto da fábrica, mas sim pronto para ser forjado por vocês à nossa imagem e semelhança . Ele só será glorioso e nosso à medida que vocês sejam capazes de imaginá-lo" (França, em 1999).

Quando pensamos na necessária chance aos jovens para que possam se expressar e participar nos mais diversos espaços da sociedade brasileira, obviamente temos que trazer a questão do respeito às diferenças e à pluralidade de temas que envolve os jovens hoje em dia.No caso da União Nacional do Estudante (UNE), que é comandada sem interrupção há cerca de vinte anos pela União Juventude Socialista (UJS) do Partido Comunista do Brasil (PC do B) – a nossa ditadura civil-militar durou vinte e um anos –, a falta de diálogo com as juventudes universitárias é brutal, pois o mesmo grupo se reproduz utilizando-se de uma máquina burocrática criada exclusivamente para servir de correia de transmissão da rotinas de um minúsculo partido político, que quem efetivamente orienta as ações na entidade.

Por isso desde 2003 a sua pauta de atuação é dada pelo Governo Federal. Governo e UNE, juntos, criticam fortemente setores do movimento estudantil que querem debater o País, tendo como melhor exemplo a visita da Presidente da UNE a algumas universidades em 2007 para defender projetos de interesse do Governo Federal. Na ocupação da Reitoria da Universidade Federal de Pernambuco deu o seguinte aos estudantes que estavam acampados: "Essa oposição ao Reuni encontra eco na elite e em setores da classe média que não querem a ampliação de vagas nas universidades. (...) Espero que saiam de lá. Estão atrapalhando a vida acadêmica". Recentemente, juntamente com a Presidente da UNE, no 1º Encontro de Estudantes do Prouni do Rio Grande do Sul, foi a vez do Ministro Tarso Genro atacar os estudantes: "os radicalóides adotaram o mesmo discurso das elites"

Quando setores do movimento estudantil além da UNE procuram canais de debates sobre a reforma universitária, o que estão reivindicando está de acordo com o a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que é um Documento construído há 60 anos atrás: "artigo 26: Toda pessoa tem direito a uma educação de qualidade, que garanta o pleno desenvolvimento da personalidade humana"

O Governo Federal , inclusive, agora está sendo acionado para financiar a obra da nova sede da UNE por sua direção. Aliás, foi o próprio Governo Federal que recentemente financiou um projeto de reconstituição da história da UNE, cujo resultado final foi a instrumentalização política da história e do esquecimento simultaneamente, ao colocar de lado toda a experiência acumulada em pesquisas acadêmicas sérias em seu projeto. Também indo ao desencontro de outro princípio da Declaração Universal dos Direitos Humanos: "Artigo 27: Toda pessoa tem direito a participar da vida cultural e receber os benefícios do progresso da ciência".O financiamento público de um projeto de R$40 milhões para um único grupo da nossa sociedade será um verdadeiro atentado ao interesse público.

É urgente, sim, que o Estado pague a dívida com a juventude ao construir formas de registro e de difusão da memória dos movimentos juvenis, pois a falta de registros de depoimentos dos principais líderes estudantis do nosso país, e o risco de perda da documentação histórica estudantil, já é um único indicativo de que precisamos ter pressa em fazer algo que seja realmente de interesse do País. Pois é com tais trabalhos que vamos animar a sociedade a apoiar outras iniciativas e a ter de fato o direito à memória e a verdade! E com conhecimento e reflexão que poderemos viver de fato num país mais democrático e soberano. É com apoio efetivo às mais diversas juventudes hoje – e não apenas ao grupo que comanda a UNE – que iremos pagar a dívida com a juventude brasileira.

*Mestrando em Sociologia da UFPE e Coordenador de Atividades do Projeto "A Engenharia Nacional, os estudantes e a educação superior: a memória reabilitada (1930-85)" (PROENGE). Co-organizador das coletâneas "Movimento Estudantil Brasileiro e a Educação Superior" (Editora Universitária UFPE, 2007), "Juventude e Movimento Estudantil: Ontem e Hoje" (Editora Universitária UFPE, 2008) e "Movimentos Juvenis na Contemporaneidade (Editora Universitária UFPE, 2008).

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