Em manifesto, diretores de unidades da Unicamp condenam invasão
MOÇÃO DOS DIRETORES CONTRA A OCUPAÇÃO DA DAC
Nós, diretores das unidades acadêmicas da UNICAMP, vimos manifestar nossa frontal discordância com o ato de ocupação da Diretoria Acadêmica da UNICAMP (DAC), no último da 18/06, efetuado por um grupo de estudantes. Trata-se de uma atitude inadequada, ainda mais porque, naquele momento, o CRUESP se encontrava reunido com as entidades do Fórum das Seis e representantes dos alunos para negociar os pontos pendentes da pauta de reivindicações, especialmente os relativos à assistência estudantil. Não havia, até então, nenhum impasse nas negociações que pudesse justificar uma medida intempestiva como essa.
Ações desse tipo, de resto, são incompatíveis com o espírito universitário. A mobilização política que se construiu a partir da divulgação dos decretos baixados pelo governador no início deste ano, envolveu igualmente os três segmentos das universidades em torno da defesa da autonomia, e foi a sintonia da articulação das ações de docentes, estudantes e funcionários que garantiu uma vitória significativa do movimento. A ocupação da DAC fragmenta de modo incontornável as nossas ações e compromete a continuidade da mobilização conjunta da comunidade acadêmica em defesa da autonomia universitária.
Trata-se de um ato antidemocrático, que restringe as possibilidades de coexistência de posições políticas, ideológicas e estratégias de luta distintas no meio acadêmico, afora contingencialmente interromper o processo de negociação em curso entre a administração e a comunidade.
Há ainda muito a fazer no tocante à defesa da autonomia e a grandeza da Universidade. Esta é uma luta constante que tem de ser conduzida ao quotidiano da vida universitária, sem prazo para terminar, e também sem suspensão de suas atividades ou posturas de confronto que deteriorem a relação de confiança entre as categorias. Especialmente sem que nos acostumemos a um estado de exceção que termine por dar fim àquilo mesmo que defendemos: a prática da liberdade de conhecimento e de criação.
Ressaltamos que a finalidade das nossas manifestações tem sido a defesa incondicional da universidade pública, gratuita, autônoma e de qualidade. Assumimos, desde o início, a bandeira da defesa da autonomia universitária, com a clareza de que essa é a finalidade mais elevada da nossa luta. Não admitiremos que se faça dela simples meio para a construção de mobilizações cujos objetivos extrapolam a vida universitária. Consideramos, portanto, que invasões indevidas de espaços da Universidade representam, elas também, um ataque à autonomia. Por essa razão, vimos por meio desta moção repudiar veementemente a invasão da Diretoria Acadêmica da UNICAMP. Trata-se de um ato que gera enormes prejuízos à produção acadêmica e que expõe negativamente a Universidade perante a sociedade. Conclamamos todos os alunos da Universidade, além de suas lideranças legítimas, para a imediata retomada da normalidade acadêmica.
Assinam este documento os Diretores do Instituto de Economia (IE), Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), Instituto de Artes (IA), Instituto de Biologia (IB), Instituto de Computação (IC), Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW), Instituto de Geociências (IG), Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC), Instituto de Química (IQ), Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), Faculdade de Engenharia Agrícola (FEAGRI), Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC), Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM), Faculdade de Engenharia Química (FEQ), Faculdade de Ciências Médicas (FCM), Faculdade de Educação Física (FEF), Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), Centro Superior de Educação Tecnológica (CESET), Colégio Técnico de Limeira (COTIL), Colégio Técnico de Campinas (COTUCA).
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Manifesto da Adunicamp
Que prevaleça o Diálogo
Estudantes ocuparam parte das instalações da DAC,
nesta 2ª feira, 18 de junho.
A ADUNICAMP, veementemente, repudia a intervenção policial nas questões que, como esta, contrapõem autoridades acadêmicas a estudantes.
Qual a razão da ocupação? É uma ruptura do diálogo? Do ponto de vista da reitoria, e de muitos docentes, sim. Certamente estudantes, muitos, não pensam assim. Acreditam que não se rompe o que não existe.Ai é que se situa o impasse do qual resultou a ocupação.O que para uns é um diálogo está longe de ser para outros.
De fato, historicamente, a relação professor-aluno tem um viés autoritário sob a óptica de quem, vendo-se “do lado mais fraco”, simbolicamente, decide “tomar de assalto o poder”.É emblemático o caso de ocupação da reitoria da USP. Apesar de ter ocorrido quatro meses após a edição pelo governador Serra dos decretos que alteravam ameaçadoramente a vida nas universidades públicas paulistas, o fato político atingiu tal vulto que forçou a governo a um importante recuo.O governador não debateu os decretos com a comunidade universitária e acabou curvando-se à pressão dela, mais precisamente de uma parcela dela, os estudantes.
A ADUNICAMP tem o mandato de sua assembléia de defender a não punição dos estudantes que ocupam a reitoria da USP. Identicamente, repudia a truculência do uso de força policial, em Araraquara, para desocupar, na calada da noite, o prédio
da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP. Também defende a não punição dos que ocuparam parte da DAC. Que o reitor receba uma comissão de estudantes e que se estabeleça o diálogo entre as partes. É este o caminho para a desocupação pacífica da DAC. Jamais a intervençãodo poder judiciário com a conseqüente ameaça do emprego de força policial. São estudantes, não são bandidos.
Veiculada pela ADUNICAMP, a posição do Diretor do IFCH
21 de junho de 2007
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A pedido do professor Arley Ramos Moreno (IFCH),
divulgamos o texto a seguir.(Nota da Adunicamp)
As ocupações: originalidade e excesso
O procedimento de ocupações atualmente praticadas pelos estudantes é, sem dúvida, um processo novo na história política da Universidade brasileira e do movimento estudantil. Novo e também original, porque, embora seja um ato de violência civil e também legal estrutura-se internamente segundo regras de organização e de convivência que procuram mimetizar as próprias regras civis que contesta. De fato, as ocupações exprimem protestos e contestações, e, ao mesmo tempo, procuram dar o exemplo de civilidade e de respeito à preservação do patrimônio público envolvido. Em outros termos, preocupam-se os estudantes invasores em eliminar acusações de vandalismo – aliás, inevitáveis, dado o ato inicial que não poderia senão ser violento.
Este novo procedimento de ocupações traz consigo uma variante que é o das “cadeiradas” – versão universitária das barricadas de combate -, a saber, uma forma de obstrução dos locais de acesso a recintos da Universidade visando dificultar ou, mesmo, impedir as atividades normais da instituição.
Os dois procedimentos – ocupações e cadeiradas – tiveram o sucesso esperado, como se sabe, que era o de sensibilizar o Governo estadual e as autoridades acadêmicas sobre reivindicações assumidas pelos estudantes. Tiveram o mérito de realizar o que a morosidade dessas autoridades bloqueou durante vários meses, a saber, no caso do Governo estadual, levou-o a recuar em pontos importantes concernentes à autonomia universitária e, no caso das autoridades acadêmicas, levou-as a negociar pauta importante de reivindicações de interesse propriamente estudantil. A violência inicial dos atos governamentais – violência simbólica com conseqüências práticas – foi respaldada tanto pela letárgica paciência dos responsáveis máximos pela vida e pelos interesses da Universidade, quanto pela inércia da maioria dos docentes das três universidades públicas paulistas – é claro, com raras exceções -, o que, somando-se serviu como estopim para a iniciativa dos estudantes.
Esta situação, e mais a conjuntura política nacional, em que lutas partidárias acirram-se, resultou, por sua vez, ao que parece, tendo-se em vista a recente ocupação da DAC/Unicamp, na utilização dos dois procedimentos iniciais – que haviam dado bons resultados tendo em vista as suas finalidades específicas – como instrumento de mobilização reiterada tendo em vista, agora, novas causas e novas finalidades.
Assim, não nos parece adequado apenas condenar ou repudiar as ações do atual movimento estudantil, assim como não o seria apenas fazer sua apologia. É necessário, contrariamente, procurar bem distinguir o pertinente do não-pertinente às causas universitárias – sua autonomia, as demandas por moradias e por alimentação para os estudantes carentes, a exigência de nova política de contratações para reposição das perdas nos últimos 15 anos, a luta pelo aumento de verbas públicas para a Universidade pública, versus causas que extrapolam o âmbito das atividades universitárias e que apenas reformas sociais e econômicas mais amplas e profundas poderiam solucionar.
O perigo de superpor-se as duas ordens de causas e finalidades consiste em correr-se o grande risco de se perder aquilo que de bom, e, mesmo de excelente já foi conquistado, a saber, a qualidade da produção acadêmica no ensino, na pesquisa e na extensão, nas três universidades públicas paulistas. Situação de excelência a ser preservada, para que os defeitos e as injustiças inevitáveis possam ser corrigidos e superados. Devemos estar alertas para este perigoso risco – situação tão recorrente na história nacional.
Por outro lado, deve-se, ao mesmo tempo, reconhecer e saudar os bons resultados dos atos de violência simbólica do movimento estudantil – violentos porque contestaram regras legais e atos legais, e também violentos, de força, considerados ilegítimos pela própria comunidade – a qual, apesar disto, com eles conviveu em estado letárgico. Violência, entretanto, original, ao procurar apresentar-se como exemplo pela organização e pela convivência interna de modo a preservar o patrimônio público, e ao promover atividades culturais de contestação e de reflexão em torno do próprio processo social em curso.
Seria preciso retomar as reivindicações ainda não contempladas, agora, finda uma primeira etapa, mas, no interior da rotina acadêmica, através de negociações e novas formas de pressão institucional. Reincidir na aplicação de instrumentos que foram eficazes na fase inicial conduziria, neste momento, à destruição da Universidade pública que construímos. Retomar a rotina acadêmica e prosseguir na luta para a melhoria e a correção da vida universitária, parece-nos ser, no momento atual, a atitude mais correta.
E isto tudo sem revanchismos e nem punições aos envolvidos no movimento e, sobretudo, sem lançar mão de soluções externas à universidade, tais como a intervenção policial. Ainda que discordando de suas estratégias de ação e, mesmo, reconhecendo sua inconveniência na conjuntura atual, como no caso da ocupação da DAC, acreditamos que os estudantes são membros políticos que convivem no mesmo espaço acadêmico no qual a troca de argumentos deve prevalecer – e não qualquer tipo de força externa a esse espaço, muito menos a força policial.
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