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terça-feira, fevereiro 12, 2008

Carlos Brickmann

 
 "Rigoroso inquérito, severas punições", por Carlos Brickmann

Coluna de quarta-feira, 13 de fevereiro

Pronto, vem aí a CPI dos Cartões Corporativos, pronta para investigar o mundo, de Lula a Fernando Henrique, dos ministros de Lula aos ministros de Fernando Henrique (que, por coincidência, muitas vezes são os mesmos), do PSDB ao PT. Teremos aqueles políticos de sempre gritando com as testemunhas, fazendo cara de conteúdo, desempenhando o papel de ferozes inquisidores.

E daí? Shakespeare, o genial dramaturgo britânico, deu a resposta com antecedência de quase 500 anos: “much ado for nothing”, muito barulho por nada. Ninguém espere que o líder do Governo Lula no Senado, Romero Jucá, seja implacável ao pesquisar o Governo Fernando Henrique, cujo líder no Senado era Romero Jucá. Nem que um dos principais aliados de Fernando Henrique no Senado, José Sarney, seja duro ao investigar o Governo Lula, que tem em José Sarney um de seus principais aliados no Senado. Nem que Renan Calheiros, lulista desde criancinha, que evitou a perda de seu mandato graças ao apoio de Lula, queira investigar o ministro da Justiça de Fernando Henrique, Renan Calheiros. Nem que o senador César Borges, aliado do PT, esclareça suas declarações de 2004 sobre o “inescrupuloso uso" da máquina administrativa pelo PT.

Mas haverá show, TV, rigoroso inquérito – que, como notou Luís Fernando Veríssimo, não é a mesma coisa que inquérito rigoroso, e sim o seu oposto – e severas punições. Três faxineiros e quatro ascensoristas, ah, esses não escapam!

Os éticos

Os velhos donos do PT se aliaram a um grupo que queria derrubá-los para “refundar o partido”, e mantiveram o comando. Em seu primeiro comunicado, prometeram um Código de Ética. Começaram cedo: a primeira “atitude ética”, a traição à ministra do Turismo, Marta Suplicy, afastando seu grupo da direção nacional, de maneira a enfraquecê-la politicamente, já foi tomada.

Gases

Cuidado: o vice-presidente da Bolívia, Álvaro García, vem ao Brasil, em companhia do ministro dos Hidrocarbonetos, Carlos Villegas. O motivo real não consta da agenda: é um pedido ao Brasil para que desista de parte do gás já contratado para que a Bolívia possa vendê-lo mais caro à Argentina.

Pequenos assassinatos

Um radialista de São José dos Campos, SP, João Alckmin, que move intensa campanha contra a máfia das máquinas caça-níqueis, sofreu dois atentados em seis meses. O segundo atentado foi filmado por câmeras e teve testemunhas; mesmo assim, a Polícia não consegue encontrar os atiradores (que não tiveram sequer a gentileza de deixar no local seu nome, RG e endereço!)

Que fez o Ministério Público? Investigação, nem pensar (embora o MP lute pelo direito de investigar). Alguém tirou informações da vítima no Infoseg, cadastro que só pode ser consultado com autorização e identificação. A busca era ilegal – e até hoje ninguém sabe quem a fez, ou a autorizou. O MP continua em paz. Uma dúvida: se o MP quer o direito de investigar, por que não investiga?

A lei, ora a lei

Há seis anos, uma lei estadual determina que a Delegacia Geral de Polícia de São Paulo tenha o nome de um dos mais destacados delegados que houve no Estado, Maurício Henrique Guimarães Pereira. A lei é desobedecida diariamente: nem os contracheques dos funcionários trazem o nome legal da Delegacia.

Enfrentando o câncer

O Governo Federal promete proibir o fumo em ambientes fechados – fumar em público, só na rua. Objetivo: reduzir os riscos a que está exposta a população. Beleza – só que, ao menos em São Paulo, o cigarro está proibido nos shopping centers, e neles se fuma abundantemente. O cigarro foi proibido em restaurantes e bares, e a pressão dos produtores de câncer fez com que a proibição fosse revogada. E o Brasil, conforme Paula Johns, presidente da Associação de Controle do Tabagismo, mantém o cigarro barato, indo contra as recomendações da Organização Mundial da Saúde. É o sexto cigarro mais barato do mundo.

Onde o câncer ganha

O pior é que o cigarro brasileiro é barato porque é subsidiado pelo Governo. Uma daquelas medidas aprovadas entre 26 e 31 de dezembro, no Governo Fernando Henrique, tornou fixo o IPI sobre o maço, independente do preço. Resultado: a indústria do câncer economizou R$ 12 bilhões, segundo a Trevisan. E quem paga o subsídio ao cigarro? Exatamente: o caro leitor, que nem fuma.

Transporte verde

A Piaggio italiana, fabricante da famosa motoneta Vespa, está lançando seu carro elétrico, o Porter. Primeiro mercado: Israel. O Porter é um carro urbano, com motor de 14 cavalos, velocidade máxima de 58 km/h e autonomia de 250 km. A Piaggio é a primeira fabricante a se beneficiar do programa israelense de massificação do uso de carros elétricos, uma parceria entre o Governo, o investidor Shai Agassi e a Renault-Nissan: em todo o país, estão sendo instalados postos de recarga, em que a bateria gasta será trocada por uma carregada, em poucos minutos, pagando-se apenas o (baixíssimo) custo da eletricidade.

Endereço eletrônico: carlos@brickmann.com.br

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