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terça-feira, fevereiro 26, 2008

Revista Imprensa - 22/01/2008 no Portal Imprensa :[http://portalimprensa.uol.com.br/revista/edicao_mes.asp]

Profissão perigo

Longe dos centros urbanos, jornalistas são calados à força pelo poder local e pelo crime organizado. Muitos não sobrevivem

Por Angélica Pinheiro e Marlon Maciel

A 97 quilômetros da maior metrópole da América do Sul, dois tiros tentaram silenciar a voz do radialista João Carlos Alckmin. Não foi o primeiro atentado. Hoje, o comunicador só anda pelas ruas de São José dos Campos (SP) de carro blindado, escoltado por seguranças. O motivo da violência: há cinco anos, Alckmin denuncia ligações da polícia com a máfia dos caça-níqueis.

O caso ganhou repercussão internacional. Organizações internacionais como a Repórteres sem Fronteiras (RSF) e a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) condenaram o crime. A conclusão de ambas é a mesma. Apesar do Brasil ter avançado na proteção à liberdade de imprensa, os comandantes do crime organizado orquestram ações descentralizadas no País, favorecendo-se das dimensões continentais do nosso território. "É um país muito grande. Com um poder local forte. Vínculos entre políticos, polícia e representantes do judiciário representam uma ameaça à atuação dos jornalistas em muitas regiões", avalia Benóit Hervieu, coordenador do escritório das Américas da organização Repórteres sem Fronteiras.

A tentativa de assassinato contra Alckmin nem de longe é um episódio isolado. Ao relembrar crimes contra jornalistas no Brasil, Hervieu, de pronto, cita o assassinato do repórter do Jornal do Porto Luiz Carlos Barbon, em Porto Ferreira, em maio do ano passado. Morto com dois tiros, o jornalista foi o primeiro a denunciar o envolvimento de vereadores na exploração sexual de adolescentes.

Fora os crimes ocorridos, recentemente, no estado paulista, o coordenador da RSF ressalta que o perigo também é latente nas regiões fronteiriças. Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul estão dentre os estados onde a profissão é considerada uma ameaça ao poder dos narcotraficantes. "Muitos casos sequer chegam ao conhecimento público. Os jornalistas que denunciam os crimes locais acabam abandonando as cidades, temendo por suas vidas e dos seus familiares", explica Hervieu.

A última vítima de que se tem notícia na região é Samuel Roman, morto em abril de 2004, em Coronel Sapucaia (MS), cidade situada na fronteira com o Paraguai. Apresentador do programa A Voz do Povo, Roman convidava ouvintes a comentar a vida política da cidade. Além disso, denunciava o tráfico de drogas e a alta criminalidade na região. Ao todo 11 balas, disparadas por ocupantes de uma moto deram fim à vida do jornalista.


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