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segunda-feira, maio 28, 2007

No Blog de Marta Bellini, para recordar que somos gente do pensamento......














Do Blog Rerum Natura Imagens de Lineu e seu livro.

por Paulo Gama Mota

Vamos falar um pouco de ciências, esta desconhecida. No Brasil se conhece corrupção, violência ... mas podemos conhecer os conhecimentos...


No dia 23 de Maio de 1707 nascia, numa província do sul da Suécia, Carl Linnaeus, um dos mais importantes naturalistas do Séc. XVIII. É hoje recordado por ter inventado e implementado o sistema binomial de designação das espécies, ou nome científico, na sua obra de referência Systema Naturae (1758). Nós somos Homo sapiens, o pardal Passer domesticus, a margarida Bellis sylvestris. Designações latinizadas e escritas em itálico que permitiram a utilização internacional de um código de designação da variedade do mundo vivo. Os biólogos tendem a ser muito aborrecidos e ciosos sobre os detalhes dos nomes, dizendo que o nome genérico se escreve com maiúscula e o designativo específico em minúsculas, ou referindo um erro qualquer numa letra a mais ou a menos – e alguns nomes são complicados, como Luscinia megarhynchos, o rouxinol – porque a identificação inequívoca de uma espécie é fundamental. A latinização dos nomes era óbvia: tratava-se de superar as barreiras linguísticas de cada nação de naturalistas.

A proposta de Lineu teve o grande mérito de garantir a sistematização da informação recolhida por muitos naturalistas, que, até então, não utilizavam critérios uniformes, o que dificultava enormemente a troca de informação entre eles. Assim, a acumulação de informação que se realizou nos séculos seguintes deve muito ao trabalho de sistematização desenvolvido por Lineu. E não deixa de ser significativo que o sistema binomial de nomes científicos se tenha mantido inalterado até hoje, mais de 250 anos depois. Mas, Lineu fez muito mais do que limitar-se a propor um sistema de classificação. Foi um esforçado naturalista, que designou e descreveu cerca de 4400 espécies animais e 7700 espécies vegetais. Realizou inúmeras expedições científicas, nomeadamente a sua famosa viagem à Lapónia e incentivou e estimulou muitos outros naturalistas e curiosos a realizarem expedições com vista a um melhor conhecimento da natureza, mantendo com eles uma correspondência regular e sistematizando toda a informação que lhe era enviada. Manteve um grupo extenso de colaboradores que realizaram recolhas para essa monumental e enciclopédica tarefa. Algumas das suas obras mais importantes foram: Systema Naturae (10ª ed, 1758), Genera Plantarum (1737), Species Plantarum (1753), Hortus Cliffortianus (1737), Flora Laponica (1737), Fauna Svecica (1746), Systema Vegetabilium (1774).

Um dos seus correspondentes foi Domingos Vandelli, primeiro director do Gabinete de História Natural e do Laboratorio Chimico da Universidade de Coimbra que adoptou o sistema de classificação de Lineu para sistematizar o seu gabinete de história natural. Podemos observar hoje no edifício do Laboratorio, onde se encontra o Museu da Ciência, um conjunto de sete potes com as designações sistemáticas de classes de plantas propostas por Lineu, mandados construiu por Vandelli. A classificação proposta por Lineu incluía 24 classes, com designações como Monândria, ou Tetradynamia, ou Diadelphia, que se baseava na configuração das partes reprodutoras das plantas, particularmente da posição e número dos estames - a parte masculina. Deste modo, Tetradynamia significava 4 estames longos e dois curtos.

Na realidade o sistema de classificação das plantas acabou por ser abandonado. Mas, teve o mérito de apontar para uma parte relevante da sua classificação que tem a ver com a configuração dos órgãos reprodutores. O ‘sistema sexual’ proposto por Lineu usava extensivamente a metáfora. Ele concebeu o Reino vegetal como o templo da deusa Flora, sendo a flor um casamento de maridos e mulheres em grande liberdade. Deste modo Monandria corresponde a ‘um marido num casamento’, enquanto que Polyandria ‘a vinte maridos ou mais na mesma cama com a mulher’. As exposições de Lineu divertiram uns e escandalizaram outros dos seus contemporâneos. Lineu, que tinha uma verdadeira obsessão pela ordem, propôs níveis taxonômicos superiores para agrupar os organismos. Além da Espécie e do Gênero, propôs a Ordem, a Classe e o Reino, níveis taxonômicos que ainda hoje se utilizam, complementados por outros, entretanto propostos como o Filo ou a família.

O fantástico trabalho de sistematização de Lineu tinha por base uma lógica de organizar e sistematizar o mundo vivo. Mas, as classificações eram assumidamente arbitrárias. Hoje a nossa interpretação da classificação taxonômica é diferente. O maior parentesco entre as espécies reflecte a sua história evolutiva passada e a partilha de antepassados num dado momento da história da vida no planeta. Por isso, desde 1859, é muito mais fácil decidir da classificação dos organismos, por o critério ser o da sua evolução e não um critério mais ou menos arbitrário. Com o advento da biologia molecular passamos a poder ler diretamente o código de instruções de produção de um organismo. E, naturalmente, organismos mais próximos evolutivamente partilham mais instruções. Por exemplo, nós partilhamos cerca de 98% desse código com os chimpanzés, os nossos parentes vivos mais próximos. A análise de seqüências do DNA permite atualmente abrir uma janela sobre o passado evolutivo das espécies que os taxonomistas não imaginavam possível há 50 anos atrás.
E as descobertas neste domínio vão continuar.

Por outro lado, o trabalho de classificação e identificação das espécies é fundamental para avaliarmos o que está a acontecer à biodiversidade no planeta. Devido à fragmentação de habitats e à sua destruição estamos a assistir à maior extinção em massa dos últimos milhões de anos. Um estudo publicado na Nature em 2004 estima que, sob efeito do aquecimento global do planeta, entre 15 e 37% de todas as espécies existentes actualmente estarão extintas por volta de 2050, dependendo da sua capacidade de se deslocarem!Aproveitando os 300 anos do nascimento de Lineu, importa que desenvolvamos ações para limitar a catástrofe



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