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segunda-feira, maio 21, 2007

No jornal Estado de Sao Paulo, noticia que me foi gentilmente enviada pela produçao da Radio CBN.

Viscome ensaia volta à política

Preso durante 6 anos, ele sonha com a Câmara: ‘Quero terminar o trabalho que comecei’

Leonardo Fuhrmann

Depois de cumprir 6 anos de prisão, condenado pelo crime de concussão (extorsão praticada por servidor ou autoridade) no escândalo da Máfia dos Fiscais, o ex-vereador Vicente Viscome tenta agora recuperar a imagem pública, principalmente na zona leste de São Paulo, seu antigo reduto eleitoral - e sonha com a volta à Câmara. “Quero terminar o trabalho que comecei e foi interrompido por inveja”, diz, sem citar nomes dos “invejosos”. Na pré-campanha, Viscome tem utilizado duas ambulâncias, um ônibus e um caminhão - usado para recolher agasalhos e distribuir para a população carente, na campanha Esquenta Mooca.

Todos os veículos tem o nome de Viscome, o símbolo da concessionária na Mooca que hoje pertence a seu filho, a Daniel Veículos (antes chamada Vicente Veículos), uma estrela de Davi e os slogans que ele escolheu para marcar sua volta: “O Bem Venceu o Mal” e “Faça Justiça”. Procurado pelo Estado, ele não hesitou em posar para fotos ao lado das ambulâncias e dos agasalhos recolhidos. O ônibus, segundo ele, é usado para transportar estudantes de escolas públicas e integrantes de grupos da terceira idade para atividades esportivas e culturais.

O ex-vereador conta que as ambulâncias fazem de seis a oito atendimentos por dia. “Cada transporte de doentes desses custaria em torno de R$ 450. Não é todo mundo que pode pagar por isso”, afirma. Ele garante que começou a fazer esse trabalho há 40 anos, ao lado do pai, e só interrompeu no período em que esteve na cadeia.

Segundo a Procuradoria de Execuções Criminais, Viscome ficou entre 1999 e 2003 em regime fechado. Depois passou outros dois anos em regime semi-aberto, quando conseguiu um indulto temporário, que se torna definitivo se o anistiado não cometer nenhum crime nos dois anos seguintes. O indulto definitivo veio mês passado, encerrando definitivamente a pena - inicialmente de 12 anos.

Quando o escândalo da Máfia dos Fiscais foi descoberto, em 1998, durante a gestão do ex-prefeito Celso Pitta, vários vereadores foram acusados de receber dinheiro de ambulantes e comerciantes e de manipular ações de fiscalização nas antigas administrações regionais (as atuais subprefeituras). Mesmo com outros ex-parlamentares condenados, os processos ainda tramitam na Justiça. Alguns deles chegaram a ser presos, por períodos curtos. Só Viscome cumpriu a pena. A alegação era de que funcionários da Regional da Penha, indicados por ele, extorquiam dinheiro dos camelôs do bairro.

CASSAÇÕES

Viscome permaneceu preso durante o processo e no período em que recorria da condenação. Maeli Vergniano também foi cassada. Hanna Gharib, eleito deputado estadual naquele ano, foi outro que perdeu o mandato. José Izar conseguiu escapar da cassação, mas não do processo criminal, assim como Paulo Roberto Faria Lima.

Denúncia de empresária levou a CPI
O escândalo da Máfia dos Fiscais veio a público em dezembro de 1998, quando a empresária Soraia Patrícia denunciou o chefe dos fiscais da Regional de Pinheiros, Marco Antônio Zeppini, alegando que ele cobrava propinas para não aplicar multas. Logo, as investigações atingiram vereadores da base política do prefeito Celso Pitta, que controlavam as regionais em troca de apoio ao Executivo.

A pressão popular levou à criação de uma CPI sobre o assunto. As investigações provocaram a cassação de dois vereadores e à abertura de processo de impeachment contra Pitta, que chegou a ser afastado do cargo, mas conseguiu salvar o mandato.

Uma força-tarefa formada pelo Ministério Público e pela polícia também apurou as denúncias, que atingiram o prefeito, parte do secretariado e o padrinho político, o ex-prefeito Paulo Maluf. Nicéa Camargo, ex-mulher de Pitta, afirmou que o marido participava de irregularidades como evasão de divisas e lavagem de dinheiro, ao lado de Maluf.

Com o escândalo, grande parte dos vereadores ligados a Maluf e Pitta não se reelegeu, incluindo Brasil Vita, que tinha uma cadeira no Legislativo havia 40 anos.

'O prefeito era acusado e eu fui boi de piranha'
O ex-vereador Vicente Viscome está com plenos direitos políticos. Mas o TRE alerta que ele não tem filiação partidária - para se candidatar em 2008, precisa fazer isso até outubro. Viscome diz manter contatos com políticos - “que sabem do meu perfil e do comportamento”.

Por que o senhor pede ao eleitor que “faça Justiça”?

Porque fizeram uma maldade comigo, mas saí da cadeia com a alma fortalecida e consegui vencer. Como político e empresário, podia responder ao processo em liberdade, mas fui para a cadeia.

E as acusações?

Fui acusado de achacar camelôs, uma coisa que acontecia em todas as regionais, era uma forma de receita. Mas eu nunca fui lá tirar dinheiro de ninguém, não tenho necessidade disso. Eu já estava bem de vida quando entrei na política.

Mas as pessoas que faziam isso foram indicadas para a Regional da Penha pelo senhor, não foram?

Eu indiquei as pessoas, mas não participei disso (dos crimes). Nunca tive poder para mexer em nada.

Por que só o senhor foi preso?

Não tive malícia política. A opinião pública vai perceber que fui bode expiatório, boi de piranha, em um momento em que o prefeito (Celso Pitta) e empreiteiras eram acusados de superfaturamento.

E por que foi condenado?

Contratei um advogado sem experiência na parte criminal.

Quem esteve ao seu lado depois que foi preso? O senhor mantém contato com políticos?

Não tive ninguém ao meu lado quando fui preso. Mantenho contato com outros políticos e as pessoas vão saber sobre a minha filiação no momento oportuno. Acho que eles (os políticos) sabem do meu perfil e do meu comportamento e vão saber valorizar isso.

O senhor se espelha no ex-presidente Collor, hoje senador?

Sim. Eu acho que o cassação dele também foi uma injustiça.

O senhor fez um ato de apoio aos policiais depois do Massacre do Carandiru?

Eu fiz isso? Acho que não imaginava o outro lado da coisa. Acho que quem cometeu um crime precisa ser respeitado. Existe também muita gente inocente (na cadeia), sem falar que 90% está lá por falta de oportunidades, do pão de cada dia.

OUTRO POLÍTICOS ACUSADOS NEM SEQUER FORAM JULGADOS

Outros vereadores envolvidos na Máfia dos Fiscais nem sequer foram julgados. José Izar, que controlava politicamente a Regional da Lapa, aguarda desde maio do ano passado, com outros 21 réus, a sentença de primeira instância, segundo o Tribunal de Justiça (TJ). Paulo Roberto Faria Lima, acusado de controlar a Regional de Pinheiros, também aguarda julgamento. Isso porque o TJ unificou todos os processos que ligavam seu nome à Máfia dos Fiscais, em fases diferentes, na 19ª Vara.

Maeli Vergniano e Hanna Gharib já foram condenados em segunda instância, mas permanecem em liberdade. Maeli foi condenada a 2 anos e 6 meses de reclusão por usar em benefício próprio veículos da empreiteira Vega que prestavam serviços à Regional de Pirituba. A pena foi substituída pela prestação de serviços. Gharib e três funcionários da Regional da Sé também foram condenados. Para os desembargadores, ficou comprovado que o ex-vereador era o líder da quadrilha. Gharib chegou a passar quatro meses preso, provisoriamente, acusado de subornar testemunhas.Condenado a 20 anos de reclusão, ele recorre em liberdade por não ter antecedentes criminais.

Outra que chegou a ser presa, Maria Helena Fontes também responde ao caso em liberdade. Já o ex-vereador Armando Mellão, que chegou a presidir a Câmara, teve os processos abertos contra ele na época trancados (extintos) por um habeas-corpus obtido no TJ.

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