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domingo, maio 27, 2007

No Portal G1. Globo, 27/05/2007




27/05/2007 - 09h48 - Atualizado em 27/05/2007 - 17h50
Em 4 anos, PF prendeu quase cem políticos
Levantamento do G1 mostra que em 28 operações foram presos 95 políticos. Destes, 60 exerciam mandato no momento da prisão. A maioria está livre.


Maria Angélica Oliveira e Mariana Oliveira Do G1, em São Paulo


Desde 2003, pelo menos 95 políticos foram presos pela Polícia Federal em operações ou ações isoladas. Dos detidos, 60 estavam no exercício do mandato quando foram presos. Atualmente, a maioria está livre.


Agência Estado
O ex-governador do Maranhão José Reinaldo Tavares (PSB), à dir., algemado e escoltado, no dia em que foi preso por policiais federais (foto: Paulo Soares / Agência Estado)



O G1 consultou as 351 operações realizadas entre junho de 2003 e maio deste ano – período em que a PF coloca disponíveis as informações na internet. Foram considerados tanto políticos que exerciam mandato no momento da prisão quanto aqueles que já haviam ocupado cargos eletivos em outras ocasiões. O levantamento localizou 28 operações que acusaram políticos, a maioria referente a questões administrativas, como fraude em licitações e desvio de verbas públicas.As operações Gafanhoto, Sanguessuga, Dominó e Navalha tiveram maior repercussão pelo envolvimento de políticos de patente mais elevada (veja resumo das operações que envolveram políticos).Ação da PF mais recente que envolveu políticos, realizada em maio, a Operação Navalha resultou na prisão de um ex-governador do Maranhão, um ex-deputado federal, um deputado distrital e dois prefeitos. As acusações, porém, atingiram governadores e até um ministro, que acabou deixando o cargo (saiba mais).


Nas 28 operações realizadas desde 2003, foram presos 79 políticos e houve ainda outra 16 detenções em ações isoladas da PF (95, no total). Dentre as 16 detenções em ações isoladas há desde crimes graves, como sonegação de impostos e formação de quadrilha, a casos mais corriqueiros, como desacato e veículo em condição irregular.Na maioria, as prisões foram temporárias (por cinco dias, prorrogável por mais cinco). Muitos saem antes desse prazo, uma vez que os acusados podem entrar com habeas corpus de soltura e acabam respondendo em liberdade. Muitos outros políticos estiveram na mira na PF durante as investigações que culminaram nas operações. Mas o foro privilegiado, no caso dos deputados federais, por exemplo, impediu diversas prisões. Os membros do Congresso (senadores e deputados federais) só podem ser presos em flagrante de crime inafiançável (tortura, tráfico de drogas, terrorismo e todos os crimes definidos como hediondos, como homicídio, latrocínio, estupro, entre outros).



Foro privilegiado

Na avaliação de Roberto Romano, professor de filosofia política e ética da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o foro privilegiado é “uma arma”. “É uma espécie de passaporte para a delinqüência, uma excrescência no Estado brasileiro. Que os presidentes dos poderes tenham privilégio de foro, tudo bem. Agora, que um simples deputado ou senador tenha essa prerrogativa, não é próprio do regime democrático. Isso é próprio de um regime oligárquico ou aristocrático. Isso não é república.”

Romano considera grave a invasão de escritórios de advogados pela PF, a falta de respeito ao sigilo no trato de advogados e clientes e o vazamento de informações sigilosas.“Acho que é sagrado em qualquer condição democrática o direito de defesa. O segundo ponto é que, se você utiliza o instrumento da prisão temporária e preventiva de maneira intempestiva, como em alguns casos, você passa para a população uma mensagem errônea, de que a polícia prende e os juízes soltam, e a Justiça então só serve para abençoar bandidos. Não é bem o caso”, destaca o filósofo.




Atuação da PF

Para Everson Tobaruela, presidente da Comissão de Direito Político e Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), os “direitos e garantias individuais estão sendo feridos” nas operações recentes da PF.“Entendo que prisão preventiva tem regras, mas está sendo violada. A prisão preventiva só é aceita se há tentativa de esconder provas ou se o indivíduo traz riscos para a sociedade. Uma prisão injusta muitas vezes desfaz a moral. O dano causado pela prisão preventiva é terrível”, avalia Tobaruela.O advogado afirma que, embora a PF cumpra as ordens, a responsabilidade pela “banalização” das prisões preventivas é também da Justiça. “A PF extrapola porque vai com armamento. Há abuso da PF e os mandados são expedidos de forma genérica. É disso que a OAB reclama muito.”


Isonomia

O cientista político Leonardo Barreto, professor do Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (Unb), não concorda.“Não vejo excesso nas ações. Tudo o que eles fazem é sob autorização judicial. E, além disso, tem de haver isonomia. A maioria das pessoas não reclama quando a polícia entra com fuzis nas favelas”, completa o cientista.Mas ele condena o vazamento das informações sigilosas. “Isso tem de ser apurado pelo Ministério da Justiça”, completa.


Estrutura 'viciada'

Professor de Direito Constitucional da Unb, Cristiano Paixão afirma que o direito penal não é a solução para o alto número de políticos envolvidos com corrupção.Toda essa criminalidade ocorre porque existe toda uma estrutura viciada na maneira de se fazer licitação, na maneira pela qual o Estado gasta seus recursos. A estrutura toda é muito irracional e propicia esse tipo de formação de organização.”Segundo o professor, há muito “clientelismo” no meio político. “Muitos deputados federais se comportam como vereadores. Chega na época do orçamento, eles procuram saber ‘o que precisa na minha cidade?’ E, além disso, tem o uso político das emendas, que a gente sabe que existe desde que o Brasil existe, o que é muito sério.”



Conheça as operações que envolveram políticos


Operação Quando Local Presos
Grilo Julho de 2003 Distrito Federal Deputado distrital
Gafanhoto Novembro de 2003 Roraima Ex-governador e oito ex-deputados estaduais
Pandora Março de 2004 São Paulo Vereador
Matusalém Abril de 2004 Amazonas Ex-prefeito
Albatroz Agosto de 2004 Amazonas Prefeito
Orcrim ESA Agosto de 2004 Rondônia Ex-senador
Pororoca Novembro de 2004 Amapá Ex-senador, suplente de senador e dois prefeitos
Guabiru Maio de 2005 Alagoas Oito prefeitos e quatro ex-prefeitos
Bicho do Mato Junho de 2005 Paraná Vereador
Confraria Julho de 2005 Paraíba Ex-prefeito

Coqueiros
Janeiro de 2006 Rio Grande do Sul Vereador
Esfinge Março de 2006 Espírito Santo Suplente de senador
Galiléia Abril de 2006 Pará Ex-senador
Sanguessuga Maio de 2006 Acre, Amapá, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e Distrito Federal Um ex-deputado federal do Rio de Janeiro e outro ex-deputado federal do Acre
Hélios Maio de 2006 Piauí Vereador
Milagre Econômico Maio de 2006 Paraná Vereador
Fox Julho de 2006 Alagoas, Bahia e Sergipe Seis prefeitos de Sergipe, um de Alagoas e outro da Bahia
Pombo-correio Julho de 2006 Minas Gerais Oito vereadores
Dominó Agosto de 2006 Rondônia Deputado estadual
Campo Fértil Setembro de 2006 Paraná Três vereadores
Voto Livre Outubro de 2006 Todo o Brasil Um vereador do Piauí, outro vereador de Alagoas e um deputado federal do Pará
Anos Dourados Outubro de 2006 Rio de Janeiro Vereador
Alcaides Novembro de 2006 Pernambuco Três prefeitos, um ex-prefeito e um deputado estadual
Castelhana Novembro de 2006 Minas Gerais Um deputado federal eleito e um ex-deputado federal
Canaã Dezembro de 2006 São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Espírito Santos Vereador de Goiás
Moeda Verde Maio de 2007 Santa Catarina e Rio Grande do Sul Dois vereadores de Santa Catarina
Mapinguari Maio de 2007 Mato Grosso Vereador
Navalha Maio de 2007 Alagoas, Bahia, Sergipe, Pernambuco, Piauí, Maranhão, Goiás, Mato Grosso, São Paulo e Distrito Federal Ex-governador do Maranhão, ex-deputado-federal de Sergipe, deputado distrital, prefeito da Bahia e prefeito de Mato Grosso




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