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quinta-feira, maio 17, 2007

Ah, os jornalistas! Ja me chamaram de cientista social, politico, mistico, macumbeiro, corinthiano (e o sou, com honra!), mas de "antropologo", e novo

JORNAL DO BRASIL

11 de maio de 2007


Bento XVI entre a missão e o espetáculo
Leandro Mazzini

Brasília. Bento XVI corre sério risco de fracassar na missão de arrebanhar novos fiéis no Brasil. É o que dizem especialistas ouvidos pelo JB, para quem o papa é mais festejado como estrela de um espetáculo do que como um doutrinador. Até o governo vê com ceticismo a possibilidade de êxito do sumo pontífice. Fontes do Palácio do Planalto dizem que foram "desastrosos" e "inoportunos" os recados do Vaticano sobre o aborto.

Lembram ainda do distanciamento entre as manifestações da Igreja Católica e a realidade da população. No esforço para recuperar fiéis e chamar a atenção para os dogmas católicos, Joseph Ratzinger não encontrou margem de manobra no Brasil diante do discurso conservador que encampa desde que se tornou Bento XVI. Os fiéis já não seguem mais ao pé da letra as mesagens do santo papa.

- A Igreja católica tem uma forma muito especial de pensar a sociedade, onde predominam os planos de longo prazo - diz o antropólogo Roberto Romano, da USP. - Tem uma forma de agir que não corresponde aos partidos políticos ou movimentos sociais, e menos ainda relacionada às tendências modernas.

Antes de desembarcar no Brasil, dentro do avião, o papa comentou que há uma "sede por Deus" na América Latina e que seitas aproveitam isso para conquistar fiéis. Bento XVI frisou que veio ao Brasil a fim de esboçar uma reação da Igreja Católica.

- As pessoas querem estar perto de Deus e procuram essa proximidade. Elas também aceitam que essas seitas se apresentem como capazes de solucionar os problemas cotidianos - declarou o papa. - Temos que ser mais dinâmicos, mais missionários.

Não por acaso esse dinamismo entrou no vocabulário do papa. Para o Vaticano, a globalização facilitou a disseminação de credos, num mundo sem fronteiras para a fé. Seria preciso um plano para "estancar" a perda contínua de fiéis católicos. O problema é que os fiéis se distanciam a passos largos.

- Nem todo católico obedece ao que o papa diz. Hoje em dia se tem muito mais "ofertas religiosas": temos uma África cristã, um islamismo no mundo inteiro. A Igreja deve ter outras teorias para não ficar tão longe das pessoas - declara a antropóloga e pesquisadora de assuntos religiosos Regina Novaes. - A Igreja vai aceitando os sinais dos tempos, mas continua com os pensamentos próprios.

Para Roberto Romano, a Igreja não pode mudar radicalmente, mas envia sinais disso, gradualmente. E aceita como natural essa perda de seguidores. A idéia de Bento XVI - o próprio papa diz isso - é manter os verdadeiros fiéis, porque não tem como proibir essa migração. Em outras palavras, não concorrer com essas seitas. Deve priorizar a qualidade, não a quantidade de católicos, principalmente no Brasil.

- Quando há migração de fiéis para outros credos, a Igreja se perde muito na capacidade de influenciar a sociedade, mas ganha muito internamente em se firmar como instituição, ao consolidar-se em seus paradigmas - diz Romano.

Nesse ponto, o Vaticano sabe demonstrar isso para a população. Ao passo que permite-se fortalecer os dogmas cristãos perante uma sociedade em contínua transformação, consegue usar a mídia para aproximar o representante maior da população - um plano que beira mais "um marketing positivo" do que uma proclamação de fé, na visão de Vicente Dobroruka, doutor em Teologia por Oxford.

- A questão do marketing é um recurso como qualquer outro. A Igreja não usá-lo seria burrice, ao passo que outras igrejas utilizam.

Dobroruka diz que o desafio de recuperar os fiéis, no entanto, entrou em segundo plano. É assunto para muito debate com os católicos, que perderam o sentido da concepção de serem cristãos.

- Quando cardeal, Ratzinger já apontava para o dia que a Igreja católica seria minoria. Os católicos serão poucos, mas fiéis. O problema hoje é que, por ignorância ou por falta de orientação do sacerdote, os católicos acham que podem abortar ou se divorciar, e continuarem católicos.

Colaborou Valderez Caetano

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