Roberto Romano Moral e Ciência. A monstruosidade no sec. XVIII
Silence et Bruit. Roberto Romano
segunda-feira, fevereiro 04, 2008
Comentário: sempre a tática da antilogia. Este recurso consiste em devolver a acusação ao acusador, desviando assim o foco da acusação original. Em vez de se preocupar com a degenerescência do seu movimento nos corredores escuros do poder, com o nítido privilégio dos bafejados pela cornucópia dos cofres públicos (o que irmana, como vimos, japoneses, italianos, filhos do Minho e negros, além de várias cabeças loiras e olhinhos azuis na tarefa de aproveitar os restos da bolsa da viuva) os senhores acadêmicos e quejandos se preocupam com os ataques (que sempre existiram) aos seus alvos. Fim nenhum absolve os que, neles escudados, erram deliberadamente na prática da lisura. Fins santificados podem ser representados por seres nada santos. É por tal motivo que as ciências assumiram um compromisso com a objetividade, desvinculando o que se investiga da pessoa que investiga. Um físico pode gerar conhecimentos espetaculares, nem por isto tais conhecimentos são julgados pelos desejos ou fraquezas morais do referido físico. A análise do saberes que ele apresenta ao mundo é imanente, para usar o jargão hegeliano (argh!). Que tal um pouco de objetividade nos movimentos sociais? Ou será que eles dependem deste ou daquele indivíduo que os representa? A "solidariedade" com a ministra demitida mostra que os elos dos seus defensores se prendem às subjetividades, sem consideras campos objetivos. Exemplo de campo objetivo: o que foi feito para os coletivos negros na gestão da ministra? Um rol de atos fala mais alto do que todas as insinuações de preconceitos, etc. pelos que fazem o seu encômio post mortem política. Porque ocorreu isto: como Benedita (a que reza com dinheiro público), a funcionária permitiu-se a mais tradicional (e branca também) prática dos gestores brasileiros: confundir o cofre público com o particular.
Maria Sylvia Carvalho Franco (em Homens livres na ordem escravocrata) mostra a gênese da confusão entre verbas públicas e bolsos dos políticos no Brasil. Como a concentração dos impostos no poder central é tremenda (ainda hoje é de 70%)as provincias e municipios ficavam à mingua. Daí, os "homens bons" (terminologia que vem da República Romana, para designar os ricos e poderosos), fazendeiros instalados nas Câmaras de Vereadores, para tocar obras da cidade ou região, emprestavam ao municipio seu dinheiro, materiais, mão de obra. Deste ato, deduziram os outros: se quando o municipio precisa eu empresto, quando eu preciso o municipio deve me emprestar, A lógica é impecável. E assim foi, criou-se a indistinção entre o "meu" e o "público". Quando empresta à cidade, o político é visto pelos eleitores como "benemérito", e é eleito sempre, até o fim da vida. Os cofres, o povo, as ruas, tudo passa a ser sua propriedade, uma espécie de uso capião do poder. Daí o abuso do seu nome ser imposto às ruas, escolas, praças, etc. José de Oliveira Arapiraca (Marketing Politico e Educação) mostra o quanto é deletéria a prática indicada. Na Bahia, terra de Rui Barbosa, algumas dezenas de escolas recebem seu nome. Já ACM tem centenas, fora as praças, as ruas, os edifícios (mesmo o Aeroporto 2 de julho foi rebatizado). Este é um marketing quase imbatível: quando a criança faz uma prova, o cabeçalho lhe ensina a votar.
Carvalho Franco mostra que funcionários da arrecadação, apoiados na prática dos "homens bons", usavam recursos públicos do mesmo modo. Um deles costumava jogar com o dinheiro dos impostos no fim do mes. No começo do outro mes ele devolvia aos cofres públicos a quantia subtraída. Quando processado, achou uma injustiça e se julgou honesto: "errado não é emprestar, mas não devolver". Santo homem, como tantos do PT que se julgam injustiçados com os processos como o mensalão e outros.
Seria importante, depois da onda subjetivista e contrária à razão que invadiu as universidades brasileiras, voltar ao estudo coletivo do método, com especial relevância ao plano da objetividade. Max Weber tem muito a dizer sobre o assunto...
RR
Saída de ministra preocupa movimento negro
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA Folha de São Paulo, segunda de Carnaval.
A crise provocada pelo uso irregular do cartão corporativo do governo, que culminou com a demissão da ministra Matilde Ribeiro (Igualdade Racial), atingiu tanto o movimento negro quanto as políticas voltadas ao setor. A opinião é de especialistas e integrantes do movimento negro ouvidos pela Folha. Alguns identificam a saída de Matilde como uma vitória de uma camada da sociedade contrária a ações anti-racismo.
"A saída da ministra é uma vitória das pessoas que não concordaram com a criação da própria secretaria. É uma vitória das pessoas contrárias às políticas de ações afirmativas para a população negra", diz Kabengele Munanga, professor de antropologia e diretor de estudos africanos da USP.
Com a saída de Matilde (PT-SP), Martvs das Chagas (PT-MG), até então o número dois da secretaria especial, assume como ministro interino. O presidente Lula decidirá sobre efetivá-lo ou não após o Carnaval.
Por conta do uso irregular do cartão corporativo, a ministra pediu demissão anteontem.
"O movimento sai riscado. E a gente sabe que os que concentram a renda do país, onde a maioria não é negra, influenciaram contra a secretaria e contra a ministra", opina Edgard Moura Amaral, secretário nacional de formação dos agentes pastorais negros.
Em 2007, Matilde gastou R$ 171 mil com o cartão, incluindo gastos pessoais. Ela tentou resistir à crise até a audiência de anteontem com o presidente, mas não obteve retaguarda.
Para o professor Nelson Inocêncio, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da UnB (Universidade de Brasília), a demissão de Matilde traz um prejuízo conjunto.
"Na medida que existe um descontentamento com essa secretaria, tudo serve de pretexto. É um prejuízo à secretaria, às políticas e ao movimento", declara.
(EDUARDO SCOLESE)
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